Entrevista – Aguinaldo Algodão – Invenção Brasileira 30 anos

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Decupagem- Algodão

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36’’

a minha opinião quanto ao registro do Iphan que foi nos cedido, uma luta que, que foi conseguida né, pela categoria de mestres e de bonequeiros populares foi de grande valia, eu…agora com relação ao Estado, eu tenho a mesma opinião, eu não acho que venha favorecer

 

 

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ou trazer diferença no tratamento que as coisas, o que pode diferenciar a relação do Ministério da Cultura, do Iphan, das outras instituições governamentais de cultura como brincante popular é a forma como os editais são construídos pra essa categoria. Mesmo os editais que são dirigidos pra cultura popular

 

 

1’30’’

eles ainda têm uma gama de interferências burocráticas e normas que, que o brincante popular não tá estabelecido naquilo. E é muito difícil. Eu acho que pode vir trazer ainda, eu acho que ainda ta no começo, não sei quanto tempo tem. Quantos anos já fazem? Dois, três anos. E eu particularmente não senti diferença nenhuma

 

 

 

2’

Apesar de toda, toda, toda…a…a coisa que ficou em volta, que foi noticiado né, em função desse título de ‘Patrimônio Imaterial do Brasil’. Acho que na prática no dia a dia isso não foi revertido ainda, como melhoria. A não ser esse prêmio que tem, não sei se esse prêmio tá ligado a isso. Um prêmio de

 

 

 

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Mestre Popular, 60 anos, eu acho que é isso. Que é uma bolsa né, eu não sei de quanto. É muito pouco né, e que muitos nem receberam ainda né? Não, não receberam ainda não. Eu falei com o Fofão ele falou que não tinha recebido ainda não, que tava esperando. Aí eu falei “pô, é assim mesmo

 

 

3’

relaxa né, um dia sai. Tomara que tenha juros, né?” Enfim, eu sou…não, não sou muito crente das políticas culturais do Estado pra cultura popular. Entendeu? Eu não acredito muito nessa, nessa relação do Estado com a cultura popular. Eu vejo que o Estado sempre vai ver e vai observar a cultura popular de uma forma sempre muito exótica, folclórica e isso atrapalha muito a relação com a

 

 

3’30’’

cultura popular, em virtude do brincante, em detrimento das pessoas que fazem esse trabalho, né. Então na verdade o brincante popular ele é um mágico da cultura, porque a gente, a trancos e barrancos. Você pode ver os editais, os prêmios, sempre são muito poucos. São muito fracos por conta da relação que o Estado, que a própria razão,

 

 

 

4’

que eles chamam de visão estatal do brincante popular é sempre de inferior. E até pela condição social do brincante. A maioria dos brincantes derivam de classes menos favorecidas, né. Sempre oriundas das minorias que são a maioria. Até hoje eu não entendi porque chamam as maiorias de minorias né, mais tá estabelecido aí que é um apartheid social

 

 

4’30’’

realmente. Isso…naturalmente que a arte conjugada ou entendida como arte mais clássica, mais burguesa digamos, ou acadêmica, ou de formação intelectual, de nível maior, que eles colocam, sempre tem um, um vislumbre e acesso a esses editais, a essa, essa coisa que é necessária pra vida de todo mundo que é o

 

 

 

5’

dinheiro. Né, porque as pessoas trabalham, estabelecem um trabalho, uma convivência com isso…é…se mantém né. Eu acho que é super rico receber, ser titulado como eu fui, como todo mundo foi, mas não vejo, não vejo que venha mudar, pelo menos agora. É…assim, não mudou em nada. Você mostra esse título

 

 

5’30’’

pra alguém é legal, mas não traz nada, entende? Porque é o que eu to falando, por trás do título não tem nada, não tem nenhum outra ação. Que eu tenha visto, não. Que tenha sido prática.

 

 

6’17’’

Olha só, eu acho que foi um erro não ter posto outras regiões. Não sei qual foi a região que não entrou, não me lembro agora, mas acho que brasília, merece sim estar, brasília é tão nordeste

 

 

 

6’30’’

quanto qualquer outro lugar, quanto o nordeste. Eu sou nordestino, as pessoas derivam do nordeste. O mamulengo deriva basicamente do nordeste, acho que tem tudo a ver. Acho que isso é besteira, isso é bobagem essa separação. Não, eu sinto que deve ser incluso quem ficou de fora, acho que aí sim, tem que incluir, não restringir. Tem que fortalecer, quanto mais regiões puderem ser acolhidas, aí fortalece

 

 

7’

em número e grau toda a relação com o teatro de bonecos popular.

Quem foi que? ah..entendi, porque tem os mamulengueiros que moram nessas regiões…é um erro isso, foi um erro grande do Ipham.

 

 

7’30’’

Ah entendi, fora do nordeste especificamente só foi brasília. Entendi, é…mas eu acho que tende a melhorar, acho que tem que incluir, agora tem que correr atrás e incluir essas pessoas, esses estados. Até pra fortalecer mais né.

 

 

 

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17’’

meu nome é Aguinaldo Algodão, sou ator, caminho por várias tendências da arte. Sou um

 

 

30’’

intruso de várias vertentes como artes plásticas, cenografia, figurini..figurinos também, no caso figurinista né. Enfim, eu toco ou estou trabalhando onde a banda toca, um velho dito popular. É…já tenho de atuação na arte…é eu tenho 48 anos, então desde os 12

 

 

1’

anos, doze, onze anos de idade, eu tenho envolvimento com a arte. Que eu trabalho diretamente com a arte, desde Olinda quando eu lembro que iniciei ajudando um artista plástico de Olinda que fazia cabeções, fazia bonecos enfim,carnavalesco. eu ajudava em catapesta na colagem de papéis, em pinturas, enfim. Eu sempre tava ali na oficina com ele, não ganhava nada, não me rendia nada,

 

 

1’30’’

mas era uma forma de aprender. Eu era um aluno dele que auxiliava. Um aprendiz né. O tal, o nome dele é Afonso. Depois eu tive uma convivência com um outro mestre lá de Olinda, que era o mestre Roque, que era uma pessoa bem excêntrica, bem esquisita. Trabalhei com ele por bastante tempo ajudando, três anos e sempre na porta da casa dele. Isso que era engraçado porque

 

 

2’

eu nunca entrei na casa dele. Ele nunca permitiu que eu entrasse. Ele só me tratava da janela pra fora. Aí ele ia me dava as coisas que eu tinha que fazer. “Óh você tem que fazer essas coisas aí”. Eu ficava sentado na porta da casa dele fazendo lá debaixo de uma árvore. Enfim, ele faleceu, parei também de…não tive mais contato com ele porque eu direcionei por outros caminhos. Pela vertente do teatro, então me afastei muito da plástica em si, da confecção

 

 

2’30’’

e…até hoje eu fico pensando por que ele nunca me deixou entrar na casa dele. Mas, me falaram que ele era meio bruxo e tudo, que ele criava uma serpente dentro de casa, essas coisas. Inclusive a casa dele devia ter se tornado um museu la em Olinda e isso não foi feito. A prefeitura insensivelmente não transformou em museu e…enfim, virou uma edificação convencional em Olinda. Aí que eu comecei traçar o meu começo no envolvimento com a arte.

 

 

 

 

 

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Então, foi justamente aí, depois um episódio bem estranho na paróquia da igreja que eu frequentava, do meu bairro lá onde eu nasci, no Guadalupe, é….houve uma apresentação depois da missa de uma trupe de teatro, na época de nome ‘Fruta Pão’ que era dirigido e organizado pela Ceiça Ociole. Já falecida, amiga nossa e dentro desse

 

 

30’’

espetáculo era uma coisa mambembe assim, bem grande e muitos atores. Acho que tinham mais de trinta atores, e tinha carros, perna de pau, enfim, era uma profusão de…de criatividades artisticas e dentro dessas atividades tinha o mestre Saúba, dançando com a boneca dele e brincando o mamulengo. E foi o meu primeiro assim, não foi o meu primeiro contato que eu já tinha visto mamulengo antes no Recife

 

 

1’

é…mas nunca tinha parado pra assistir, enfim, pra observar né. E como era no Recife muita gente, muita multidão e eu ia com  minha mãe que ela nunca deixava que eu assistisse. Eu também na verdade nunca tinha parado pra prestar atenção. E daí foi a minha primeira relação com boneco. Foi quando eu assisti esse espetáculo. Eu acho que eu tinha uns 12 anos, por aí, doze pra treze anos. E logo me comuniquei com a Ceiça

 

 

1’30’’

solicitei a ela como que poderia ser possível participar daquele grupo, enfim daquele trabalho, o que precisaria. Ela falou “não só você aparecer e conviver conosco que tá tudo certo”. E aí foi o que eu fiz. Eu comecei a conviver com eles. E fui me inteirando, participando de oficinas, logo veio o primeiro espetáculo de rua e…nesse processo, dentro desse grupo casado com Ceiça era o Afonso  Miguel

 

 

2’

Fofão, que eu passei a conhecê-lo também, trabalhava com bonecos, trabalha com bonecos. O Itaércio Rocha também, que é um brincante do Maranhão também, que é um arte educador que trabalha com bonecos e o próprio ‘Mamulengo Sorriso’ que a Ceiça trabalhava. Nessa época é…é…eu também tinha uma penetração e tive um trabalho com o

 

 

2’30’’

‘Mamulengo Sorriso’. Viajei, cheguei a viajar com eles, com alguns trabalhos com um espetáculo que eles tem, não sei se eles tem até hoje, mas um espetáculo que bastante conhecido deles chama ‘Festança’. Na época o Nilson Araújo que era um grande bonequeiro, inclusive ele que me botou o apelido de Algodão, o Nilson Araújo. E aí…aí começou, permeou minha relação com o teatro de bonecos. Eu já confeccionava muito bem, e eles perceberam isso

 

 

3’

entao eu tava ligado na confecção e…e a partir daí foi um pulo, um passo pra eu começar a brincar os bonecos. Não foi muito interessante, por exemplo, não é como começar a brincar boneco auxiliado por mim ou por Chico Simões ou por outros bonequeiros conhecidos no momento. Nessa época a turma era muito dura entendeu, você sofria muito, você…é muito… “qual é menino?” assim, tinha uma relação

 

 

3’30’’

professoral, tinha um padrão de patente bem estabelecida né. Então demorou assim, demorou mais eu insisti muito que eu era capaz de brincar, que eu podia brincar boneco enfim. E foi a partir daí que eu comecei a…toda a minha relação com o teatro de bonecos. Depois convivendo com vários mestres também porque Olinda sempre teve muita convivência, muita permanência de mestres do mamulengo,

 

 

4’

principalmente o mestre Saúba, uma pessoa que eu convivi muito, fiquei em casa dele, visitava ele direto..é…e foi onde tudo começou. Minha relação com bonecos. Até hoje, até hoje. Ia a carpina direto. Ele ficava em casa também. Nós fizemos, o que aconteceu.

 

 

4’30’’

Logo quando eu fiz treze anos de idade já tava meio incompati…não tinha mais compatibilização minha relação no teatro com a minha vida convencional, né…eu sou filho de origem humilde né, e…solicitei aos meus pais uma certa alforria, digamos. Pra que eu pudesse ter mais convivência. E foi me dado isso, eu passei a conviver, a morar…

 

 

5’

a gente…eu comecei a participar das moradias coletivas e artistas em Olinda. Então eu tive várias moradias, que a gente chamava de quilombos de artistas, e nesses quilombos os mestres sempre tavam indo, artistas variados, de variados contextos e estavam sempre penetrando nessas casas que eram ateliês coletivos. E isso fortaleceu bastante minha relação com a arte. Veio fortalecer muito mais.

 

 

5’30’’

É, digamos que eu saí da casa de meus pais com treze anos, foi isso. Não, era setenta não, anos oitenta né.

 

 

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O Chico eu o conheci primeiramente durante o ‘festival de teatro amador’ que aconteceu em recife conheci várias pessoas, vários artistas que hoje tão aqui em brasília foram a esse festival, o pessoal do ‘retalhos’ e logo depois o chico foi trabalhar no ‘mamulengo sorriso’. Chico simões, ele, o zé regino e aí a gente fortaleceu mais esse laço de

 

 

30’’

amizade, foi se fortalecendo. E depois eles sempre ia  a Olinda, sempre, sempre, sempre, principalmente nos carnavais. Acho que três vezes, duas vezes ao ano ele tava em Olinda. Ele a Rose e essas pessoas, o Paulo Cauim, poeta, também. é…e nossa casa era certa, era tratada como um referencial para esses artistas porque o próprio chico dava com referência pra essas pessoas que iam pra olinda, por conta da

1’

hospedagem. Aí a gente sempre trocava informações e as pessoas permaneciam nessas casas né, nesses ateliês. Então era um centro de convivencia, na verdade. E foi a partir daí que eu conheci muitos artistas. Pessoas do piauí, brasília, são paulo, enfim. A convivencia era tremendamente fértil.

 

 

1’30’’

Sim, cheguei ver, cheguei ver ele com a Rose, trabalhando ainda com a Rose e brincava o boneco…não brincava ainda muito. Ele tava começando, ainda era muito coletivo né. E foi numa dessas idas dele a recife, pois é, não…aí anterior a isso nós montamos um espetáculo, eu, a Ceiça e o  Afonso Miguel, o Fofão, chamado ‘histórias de bem

 

 

2’

querer’. Foi com esse espetáculo, em 83, foi isso em 83, que nós viajamos a brasília. Nós viemos a cá e fizemos uma apresentação, se não me falha a memória, num galpãozinho, que hoje é o centro cultural renato russo, teatro galpão, fomos a curitiba, fomos a rio de janeiro, enfim, fizemos uma turnê, acho que são paulo também, foi isso. E viajamos alguns trechos no

 

 

2’30’’

brasil, enfim. Mais quando eu coheci brasília, nesse período, eu fiquei apaixnado pela cidade, fiquei apaixonado porque era diferente de tudo que eu já tinha visto. O horizonte é imenso, enfim, essa viagem psicodélica de brasília, sei lá, tanto espaço que tinha. E…a estrada parque que eu achava muito linda, a estrada parque era muito bonita, uma pena ter acabado com a estrada parque.

 

 

3’

Os eucaliptos. e…tudo isso me apaixonou e eu profetizei, eu disse “não, preciso arrumar um jeito de morar nessa cidade” e ficou isso, e passou e num ano pós, que acho que foi 84, foi 84, numa conversa que eu estava tendo com o Chico, lá em Olinda. Ele estava em olinda

acho que a rose tava grávida da clara, ele comentou, eu comentei com ele. Ele falou “uai, então vamos trabalhar comigo em brasília,

 

 

3’30’’

vamo, você topa?” eu falei “uai, topo”. E acertamos tudo e vim pra brasília, e aí começamos a trabalhar e conviver e…foi isso. Na m.norte. Mané gostoso. Oficina do mané gostoso. Aí era eu, na verdade o grupo era bem

 

 

4’

eclético. Dependia, era muito variável as brincadeiras, porque poderia ser eu com chico simões, o chico simões era quase permanente nas brincadeiras. (risos) o nilson rodrigues, o…miltinho, pepê, o palha, natinho fazia um palhaço, palha, a rose e tinha outras convivencias que eu não lembro

 

 

4’30’’

assim, agora, ao certo, mas tinha uma rotatividade de bonequeiros muito grande. E…foi isso. Aí acho que nós ficamos, ficamos nessa presepada até 85, foi 85, quando..foi 85,86 por aí, uma dessas duas…

 

5’

desses dois anos que eu me separei do mamulengo presepada juntei com o alexandre que também trabalhava com a gente era do ‘retalhos’, alexandre batista e montamos o ‘travessuras de mamulengo’ e fomos trabalhar num projeto no médio norte goiano. Na verdade foi o começo, foi quando tava surgindo o movimento de separação da criação do estado do tocantins. e…tinha a federação de teatro amador do médio norte goiano. Donizeti

 

 

5’30’’

e outras pessoas que eu não me lembro o nome…belchior. Foi feito esse convite pra que a gente fosse desenvolver esse trabalho lá, e eu aceitei. Isso, e aí eu fui fazer esse trabalho lá em gurupi, fiquei morando, acho que morei dois ou três ano fazendo esse trabalho lá com teatro de bonecos nas comunidades, é…enfim, uma relação bem forte com o goiás e tocantins. Viajei o tocantins muito com o projeto chamava-se

 

 

6’

circuito timbá e muita gente de brasilia também participou desse projeto. O próprio retalhos, o chico, nilson, muita gente deu uma contribuição, uma formação do estado do tocantins, na época.

Do projeto? Ah, travessuras de mamulengo, travessuras. E a gente tinha um projeto lá que era um projeto que a gente era baseado na rua da

 

 

6’30’’

pornografia, na rua guaporé, lá no gurupi e…o nome do projeto era girassol, a gente trabalhava com filhos de prostitutas. Filhas e filhos de prostitutas do tocantins. Na época goias ainda né, médio norte goiano. Foi através desse trabalho inclusive que partiu a menina de goiânia que não me lembro o nome dela, a prostituta de goiânia que fundou o sindicato, a associação

 

 

7’

brasileira de prostitutas, foi a partir desse trabalho que a gente fez. Porque a comunidade, a própria cidade..os gestores do projeto não queriam que a gente fizesse esse trabalho porque o projeto atuava no centro da cidade. E a gente preferiu ir mais pra periferia, pra mais in loco, trabalhar mais profundamente com essa população que tava mais necessitada no nosso entendimento, entendeu? Tava mais vulnerável as fragilidades da

 

 

7’30’’

vida, né. E foi a partir desse trabalho, trabalho girassol, nessa época era financiado pela antiga fundacem…fundacem. e…nós fizemos esse trabalho em gurupi nesse período de dois anos, dois anos e meio, três anos. E depois eu voltei a brasília e retomei o presepada, o mamulengo presepada.

 

 

8’

Então..foi o chico, a rose e o jeová. Eles não sei qual o motivo, não me lembro agora, mas eles resolveram ir morar em campinas e nesse período ele montou um outro grupo, acho que era camaleão, mamulengo camaleão e eu retomei o mamulengo presepada. Eu fiquei com o mamulengo presepada. Eu já era do mamulengo presepada, mas aí eu fiquei só, eu, miltinho,

 

 

 

 

8’30’’

foi que nós desenvolvemos durante três anos o mamulengo presepada. E…foi três anos, acho que 93, se não me falha a memória o chico retornou de campinas aí retomamos de novo, eu, ele e o jeová, já não se encontrava mais o miltinho. O miltinho tava trabalhando na funarte, trabalhava na funarte de cenotécnico, não me lembro agora, iluminador. Não, na funarte. É na funarte, mais

 

 

9’

é porque era da…como é que chama aquele…funarte…inacem, isso. Ele era funcionario do centro de convenções. Ele trabalhava no teatro do centro de convenções. E aí ficou, nós retomamos em 93 com a volta do chico, retomamos assim a parceria, e montamos o ‘sem fronteiras’ eu, ele e o jeová e…

 

 

9’30’’

foi na época que nós ganhamos um prêmio, prêmio ‘betinho’ do antropólogo betinho, que isso foi um prêmio, foi um…pode de sindicatos que premiavam grupos que tinham trabalhos sociais e nós fomos um dos ganhadores aqui em brasília e montamos o projeto ‘ ruar’ a  gente trabalhava com crianças e adolescentes de rua

 

 

10’

ou que estavam na rua. E aí trabalhamos com esse projeto e aí mudamos foi até sem fronteiras, foi aí que surgiu o sem fronteiras também. Foi nesse período.

 

 

 

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14’’

Então, hoje se você for ver, for balancear o espetáculo do chico e desses novos bunequeiros que hoje tem. Que são os novos,

 

 

30’’

walter, thiago né…e são inúmeros, eu nem lembro agora pra citar o nome, mas enfim. O chico hoje é diferenciado daquela época, eu acho que há muita diferença no brinquedo. Principalmente na questão estética, né.. acho que tão hoje valorizando estética do próprio mamulengo. Acho que eu que ainda continuo com esse mamulengo mais

 

 

1’

parecido com essa época atrás, eu ainda sou mais tradicionalista, né. Ainda prefiro manter essa linguagem mais um pouco antiga do mamulengo. Porque eu pleitio mais a questão da comunicação no mamulengo, então eu..a minha… a minha intenção é o máximo, é meio conflitante isso, é o

 

 

1’30’’

máximo de simplicidade possível, então quanto menos efeito, aspecto visual eu puder usar no meu teatro de bonecos eu acho que eu vou tá conseguindo o que eu quero, que é uma coisa totalmente inanimada, é um boneco inanimado que vai se animar. Então meus bonecos tão tendenciando a não terem boca, não terem olho,

2’

cor, eu to até tirando a cor já também. Quanto mais grotesco, que aí também, eu tenho mais oportunidade de ganhar, de ter ganho na comunicação. É o que eu acho pelo menos, não quer dizer que…isso é verdade, entende? É o que eu acredito no momento. Eu acho que tem muita diferença sim, até porque antes eram coletivas as brincadeiras, então o tempo é diferente quando você bota

 

 

2’30’’

três bonequeiros atrás duma empanada, quatro bonequeiros o tempo é totalmente diferente, porque cada um tem um tempo. Ai fala assim ‘os mamulengos se repetem’. Não se repetem. As personagens podem ser repetitivas, as personagens que nele compõem o mamulengo, mas a forma de brincar, ritmo, o jeito de falar, tem diferença demais da conta. Então não…vocÊ não deixa de ver um mamulengo hoje do chico

 

 

3’

e o do walter amanhã, e do thiago, enfim, o meu porque são diferentes. A forma de expressão são diferentes, de imprimir o espetáculo. Por isso que as brincadeiras antes elas tinham uma conotação bem diferenciada por causa desse coletivo. Você brincar coletivamente. Você dar espaço a raciocínios diferenciados. É diferente de você ter um bonequeiro por trás de todos os bonecos e ter um bonequeiro por boneco.

 

 

4’

Então, é outro time, é outro tempo. Tem, tem. Exatamente. Eles são os segura bonecos, que a gente chama né. Segura boneco. Segura um boneco aqui, segura um ali, enfim. Que é o jeito deles

 

 

4’30’’

de acreditar…tem que preparar o brincante o ajudante até que ele exploda na manipulação do boneco.

 

 

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Sim, eu estava lá. Tava sim…sim…foi tenebroso, foi excelente, excelente, excelente. Muito bom, muitos mestres, muitos artistas e tinha um mestre que não esqueço nunca,

 

 

30’’

inclusive eu tenho numa fita cassete, tenho que passar isso prum documentarista. é…de uma brincadeira do mestre chaves, da paraíba. Ele brincava se não me falha a memória eram cinco ou seis, eram cinco ventríloquos ao mesmo tempo. Era fabuloso, eu nunca vi coisa igual. Era muito bom. E eu tive muitas convivências com chico daniel, enfim, vários bonequeiros, vários, vários.

 

 

1’

Zé divino, muitos, solom, mestre solom  que foi um dos mestres…porque nem todos os mestres de mamulengo estavam abertos ou tinham esse tempo, digamos, pra dedicação a um aprendiz, ao ensinamento, né. Sempre as pessoas são mais…e eu diferencio alguns mestres nesse caminho. Como mestre solom, ele era um grande professor, mestre solom. A gente teve uma convivencia com ele, muito próxima dele e ele não se negava a

1’30’’

ensinar, a passar informações, como o mestre saúba, o zé divino, o chico daniel, enfim. Essas pessoas tinham um diferencial como mestre, elas conseguiam passar essa relação de trabalho com a gente, que éramos meros aprendizes ali, curiosos. E sim, foi muito bom, muito bom. Esse encontros eram excelentes em Olinda.

 

 

2’

Sim, sim. Já brinquei ventríloquos por demais. Mais aí também, eu sou assim, eu sou muito variado também nas…tem época que eu prefiro não fazer, aí agora eu não tô fazendo mais o ventriloquo. Não estou fazendo, mas já brinquei sim, já brinquei ventriloquo, perna de pau, já fiz circo, um monte de coisa, monociclo. A gente tinha essas

 

 

2’30’’

variada de arte, essa miscigenação artística muito presente né? Porque tudo é muito ligado ao circo. O teatro de boneco é muito ligado ao circo, principalmente no nordeste. Eu lembro dos circos que a gente chamava “tomara que não chova” que eram os circos sem lona e onde eu assisti palhaços como vero faceta, mestre barroso que era do pastoril, pastoril o profano. e o

 

 

3’

saúba tinha uma frequencia muito grande nesses circos com a boneca dele. E…e eu me lembro de vários bonequeiros brincando em circo, em lonas de circo. Então  tem tudo as linguagens elas se completam aí. E eu acho que…eu sempre tive muita aproximação com essa gama de linguagens. E a pantomima também né…a mímica sempre teve muito presente. Em olinda tivemos uma convivencia com o

 

 

3’30’’

gaúcho mauro, eu não lembro o sobrenome dele, trabalhou com a gente também. Um grande mímico, depois mudou pra frança. Aqui em brasília, o miquéias, depois o abder, o filho dele, e tantos outros mímicos que passaram por nossa vidas, sempre contribuindo muito com nosso teatro de bonecos. Eu acho que a mímica e o teatro de bonecos tem mui a ver, tem muito a ver, o tempo da manipulação.

 

 

4’

Isso. Olha só…eu tive contato com o solom digamos próximo. Eu não posso dizer exatamente o que aconteceu, algum fato específico. Eu ja tinha dito antes, eu sempre tive muita relação com a confecção né, então eu sempre fui requerido a fazer bonecos pra outras

 

 

4’30’’

pessoas. É…eu fazia muito boneco pra outros bonequeiros. E…nesse período, quando…logo que eu comecei a fazer a confecção dos bonecos, eu fazia um broches também de machê, vendi muito esses broches. O solom também….a gente montou…foi montado, organizado pela prefeitura de olinda, uma feira de artesanato na praça do jacaré em olinda e havia duas barracas

 

 

 

 

5’

com bonecos, era a nossa que era eu e itaércio e a.b.e de olinda e do lado nosso estava o mestre solom, na frente tava o j.borges que vendia as xilogravuras e inclusive foi nessa feira que eu tive uma convivência muito próxima com mestre solom e que eu lembro que no segundo dia da feira aquele antonio carlos nóbrega,

 

 

 

5’30’’

foi lá que eu conheci ele também, ele teve na feira, ele me comprou acho que uns dez bonecos meus, enfim, foi super legal. Fez ainda um trabalho, um show pra gente lá na feira. Ele tocou lá uma rabeca lá…fez um…ele também tava inicializando o trabalho dele depois do madureira, que ele tinha um trabalho muito forte com o madureira lá em recife, com o antonio madureira, que eu também tive um trabalho com o madureira em recife, com balé popular.

 

 

6’

E foi aí que tive. Depois a minha convivência com o chico e com o sauba, especificamente, e também com o mamulengo sorriso, eu me aproximei mais do mestre solom. Porque o sauba e o mestre solom tinha uma convivencia muito forte com o mamulengo sorriso. Eles sempre tavam lá, sempre, sempre, sempre. Eles tavam direto lá. E como carpina era muito mais próximo do que as outras cidades, então eu pegava um onibus no centro de recife, 40 minutos

 

 

6’30’’

depois tava em carpina. e…por conta disso que eu te falei né. Porque o mestre solom tava mais aberto a isso. Tudo o que a gente perguntava ele respondia. E falava de são saruê, né. Que o invenção brasileira é tirado disso, do nome do mamulengo dele, da brincadeira dele ‘invenção brasileira.’ o meu grupo o são saruê também vem dele, porque ele falava pra nós que saruê era a terra do imaginario, ele falava isso pra nós, que era a terra onde

 

 

7’

tudo que se imagina. Então todas as brincadeiras, todos os folguedos, tudo que é da criação…do mitológico, do irracional vem de são saruê. Como o mágico de oz. então são saruê, é onde vive tudo o que se imagina. E foi nessa também que eu acho que resolvi homenageá-lo

 

 

7’30’’

e me homenagear o mamulengo saruê.

 

 

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Conheci muito. Tive convivência com ele. Sim, conheci muito. Sim, cheguei a ver apresentações, já chegamos a trabalhar juntos. Já tivemos…a convivência não foi…é isso aí tem que ser cortado. é…foi um pouco tumultuada. Mas…o trabalho dele é fantástico, o Carroça de Mamulengo, o trabalho dos filhos, os filhos pequenos. A maria…

 

 

 

 

30’’

eu tive muita convivência com a maria, os outros filhos dele eram ainda muito pequenos, joão, pedro eu acho, não lembro os nomes dos outros porque já nasceram já, depois. Mais enfim, eu tive convivência com ele sim. Chegamos a viajar juntos, fizemos trabalho juntos com o mestre zezito, que trabalhava com ele, e outros artistas. Agora não me vem o nome. Vários artistas que era a caravana, não me lembro o nome da caravana dele. Era caravana carroça de mamulengo. Então ele sempre tava trazendo esses artistas

 

 

1’

do ceará. Então eu tive varias convivências, inclusive, eu não lembro agora o nome do ‘mateu’ que ele trouxe…era expedito. Era o mestre expedito que brincava o ‘mateu’, que aí então comecei a fazer mateus também, o personagem mateus. e…tive sim, convivência com ele. E depois eu tive…a partir dele foi que eu comecei também uma convivência muito forte com mestre babi, babi guedes. Que toda vez que vinha em brasília ele ficava

 

 

1’30’’

em minha casa. Tenho muito da minha brincadeira dele, inclusive eu possuo, não sei se ele fez outro boneco, mas ele me disse na época que foi o único boneco que ele tinha feito na vida, e eu tenho esse boneco. Não sei se ele fez outro, mas ele nunca havia feito boneco, ele fez esse boneco que é o meu sanfoneiro que ele me deu de presente, o meste babi já falecido, babi guedes. Então tive essas convivências muito ricas.

 

 

2’

Paulo de tarso? Afonso Miguel sempre foi um…muito complexo…eu, eu acho que a arte dele, nem ele da conta. Ele é um cara de muitos talentos, né. e…eu conheci afonso ele brincava, ele fazia o mamulengo, eu até comentei com ele a

 

 

2’30’’

última vez que eu o encontrei no piaui. Ele fazia um mamulengo todo de cabaça, eu nunca tinha visto aquilo assim, um mamulengo todo de cabaça. Era lindo o trabalho dele…era lindo. A julieta, eu não lembro o nome do…do personagem, não era benedito, era romeu. Era romeu e julieta, acho que era isso. Aí ele fazia uma história na praça da redenção, que ele tava vindo do rio grande do sul, tinha morado lá,

 

 

3’

usava aquelas…por isso que a gente chama ele de fofão, usava aquelas bombacha de gaúcho e a gente começou a chamar ele de fofão. Mais o trabalho dele era lindo. E ele tinha uns negócios com uns fios também, trabalhei com ele também com fios, reformei bonecos pra ele. Fiz várias coisas com ele. Nós tivemos a convivência bastante profunda assim, em olinda né, na área do boneco. Mas ele é sempre muito complicado, ele sempre tá fazendo muita coisa. E ele é muito mestre em

 

 

3’30’’

mecânica de boneco. Ele é muito minucioso, mexe muito, dedinho. Eu falava pra ele “não fofão, isso ninguém vai olhar dedinho de boneco” ele falava “nãooo”, enfim. Mas ele é…eu acho que ele é um grande artista… um grande artista. Mais ele tinha a relação forte com o mamulengo, ele só negava. Ele sempre teve essa negação com o mamulengo. Depois de um período que ele voltou da holanda, que ele passou um tempo na holanda, que ele teve um vivência mais

 

 

4’

forte com o chico em campinas, eu acho. Chico tava morando em campinas, ele também tava morando em campinas, eu acho…eu acho que ele voltou mais comeu o mamulengo, com esse boneco mais tradicional e tudo. Mas o teatro dele era sensacional. De cabaça. Era lindo, era lindo. Era uma das coisa mais lindas que eu já vi. Eu lembro que eu assisti…muitas vezes ele fazia nos bares a noite em olinda, nossa era lindo era uma coisa espetacular. O espetáculo dele era muito bonito.

 

 

4’30’’

Já não gostava muito do de fio…o de fio eu não gostava muito. Eu falava pra ele “o boneco de fio é legal e tudo, mas não tem a mesma essência, não contagia.” Prêmio betinho..é…foi, ele não ttrabalha mais? Ele sempre faz isso também, ele sempre faz isso.

 

 

5’

Sim, nesse trabalho que surgiu…surgiu o que a gente tem lembrança hoje é do moisés, mas esse trabalho foi muito significativo porque a formação que a gente tem como artista, e o trabalho que a gente desenvolveu, inclusive é uma coisa que a gente conflitava muito com grupos de assistencia sociais estatais, do Estado, que eu não lembro agora como é que se chamava.

 

 

5’30’’

Tinha um centro ali perto do parque da cidade e eles não gostavam muito da forma como a gente tratava, porque eles chamavam o menino de rua, a gente achava que era meninos em situação de rua e…enfim. A gente tinha uma relação bem legal com esses garotos. E dentro disso um dos garotos fugiu com o teatro de bonecos e veio com muita força com o Moisés…outros também que eu não me lembro foi pra bahia, não me lembro o nome dele, mas que

 

 

6’

uma vez que eu tive notícia ele também tava fazendo boneco na bahia, não lembro. é…mas foi daí que surgiu moisés, e o moisés ele se mostra um confeccionador de bonecos, ele confeciona…não sei…eu nunca vi a brincadeira dele mas as confecçoes dos bonecos dele são significativas, são muito bonitas. E surgiu daí, do projeto ruar. Porque ele tinha uma proximidade…a gente tinha essa sala em cima…

 

 

6’30’’

no edificio acropol,é isso mesmo, acropol, em cima do cine pornô, antigo cine pornô ali, e a gente alugou o andar inteiro de cima e essas crianças, esses garotos conviviam direto com a gente lá..enfim, aí o moises dormia por lá também..deixou de dormir na rua, dormia por lá. E a nossa relação foi se estabelecendo mais duradoura. É tanto que hoje ele

 

 

7’

também é nosso parceiro. É…

 

 

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Não é bem assim, não. Desde morando aqui, sempre tava indo em Olinda, no carnaval, e não sei porque “cargas d’água”… nesse período foi na época que teve a vitória do governo do Cristovam, então, para nós, a gente viu como uma certa revolução: ‘Pô, a

 

 

30’’

esquerda ganhou em Brasília’, então os horizontes se abriram para nós, pros trabalhos que sempre quisemos fazer na cidade, pô agora é a oportunidade e nesse período, não sei porque, não fui ao carnaval em Olinda e numa conversa com o Chico, com Zé Regino eu sugeri; eu tinha feito em Olinda a Mamãe Olinda, junto com Fofão, Mamãe Olinda, que

 

 

1’

saía no Réveillon, e aí sugeri fazer a Mamãe Taguá aqui, em Taguatinga.

A confecção do boneco não é minha, a primeira boneca quem confeccionou foi o Zé Regino… foi o Zé Regino, não foi minha, a ideia, sim, a confecção, não. E aí, em paralelo a isso, também fiz o menino de Ceilândia, em Ceilândia, que é um bloco

 

 

1’30’’

que está estabelecido até hoje lá, que é um bloco também com bonecos, com frevo. Ah, o Mamãe Taguá? Como sempre, como até hoje. Não sei, porque eu nunca mais tive tempo de brincar carnaval, eu sempre tô trabalhando no carnaval, mas é um bloco bem aberto, que a ideia inicial,

 

 

2’

ela permanece até hoje: se tem, bote. Se você tem alguma coisa, ponha, venha pro bloco participe. Inclusive lá, acho tem essa característica: vários músicos participam, você leva seu violão, tem Asé Dudu, que toca também. Era, inicialmente, pra ser mais tradicional, com orquestra, de sopro, mas Taguatinga sempre foi um pouco mais irreverente, então eles quebraram com essa coisa de orquestra até pelo preço e pela

 

 

2’30’’

dificuldade que a gente tinha de achar músico aqui, sempre os músicos que a gente – no começo a gente contratava, eles derivavam da Polícia Militar, era muito difícil a negociação com eles, enfim, eu acho que o Mamãe Taguá optou por uma coisa mais alternativa que é uma banda mais variada, que toca vários ritmos, não necessariamente frevo de orquestra e o Menino de Ceilândia é mais tradicional, porque lá a gente conseguiu, conseguimos

 

 

3’

nos transformar em Ponto de Cultura, junto com o Ministério do Turismo conseguimos um projeto e conseguimos fundar uma escola de música e, a partir dessa escola de música, foi que o Menino adquiriu uma orquestra, então tem uma certa facilidade nessa questão. Mas a ideia inicial dos blocos, dos dois blocos, é essa, uma coisa mais democrática, mais aberta

 

 

 

 

3’30’’

para quem quiser participar, que quiser expressar durante o carnaval. E a partir desse movimento, eu já criei vários blocos aqui no Goiás, no Mato Grosso, na Bahia, tem bloco aí “adoidado”, em tudo quanto é lugar que eu criei; em Gurupi, inclusive em Gurupi tem uma história muito interessante, lá nós criamos um bloco, eu tinha assistido aquele filme, “A bela da tarde” e eu fiz uma boneca lá em

 

 

4’

Gurupi e foi um sucesso tremendo, o bloco arrebentou, só que lá não era com orquestra também, era com trio elétrico e eles mudaram, inclusive, o nome da boneca, não ficou “A bela da tarde”, ficou “La belí de tardí”, porque era o jeito de goiano falar “ A bela da tarde”. E depois de uns cinco anos desse bloco saindo, aconteceu uma tragédia lá que num desses períodos, a boneca cruzou uma

 

 

4’30’’

esquina e tinha uma senhora sentada na frente de casa, as pessoas lá tem muito o hábito de botar cadeiras na frente de casa, ela passou mal, teve um derrame e foi uma tragédia. O filho dela, que era policial militar pegou uma arma e deu um tiro na cabeça da boneca, saiu todo mundo correndo, ele tocou fogo nessa boneca no meio da rua, foi uma tragédia. Então “La belí de tardí” foi assassinada em Gurupi e eu nunca mais voltei pra fazer outra lá, não sei se

 

 

5’

fizeram, se acabou o bloco, mas “La belí de tardí” foi chocante… La belle de jour… mas é o jeito de goiano falar, é sacanagem, goiano não sabe falar la belle da tarde… la belle de jour, aí ficou la belí de tardí.

 

 

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Tem unidade, sim, tem tudo a ver, porque o que a gente chama… o boneco gigante, o que as pessoas chamam boneco de Olinda, é mais conhecido como bonecos de Olinda, eles também derivam da cultura popular e tudo que permeia na linha do boneco,

 

 

30’’

da cultura popular, eu classifico como mamulengo, é um ‘mamulengão’, alguma coisa nesse nível porque os bonecos têm muito essa característica. Hoje em dia, naturalmente, tudo tem se transformado, hoje são muito mais bonequeiros; antigamente, em Olinda, você contava nos dedos quem fazia boneco, eram pouquíssimas pessoas, 3 ou 4. Hoje em dia tem muitos, 20, 30, sei lá quantos bonequeiros têm, de muita qualidade, fazem bonecos com muita perfeição, inclusive. O que não gosto mais hoje

 

 

1’

porque ficou uma coisa assim: se você tem um pouco de dinheiro você paga, o cara faz seu boneco, bota no meio do carnaval, e tá tanto boneco sem ter o porquê, sem ter uma história por trás dele, do surgimento dele, e vai ficando aquela coisa sem razão. Hoje até chaga a chatear, quando vejo boneco em Olinda, nem quero mais ver, porque é tanto boneco, político de todo o mundo, todo mundo vira boneco,

 

1’30’’

é chatice. Porque na minha época não era assim; na minha época você fazia um bloco porque o bloco tinha uma história pra fazer. Eu lembro que fundei…que ajudei a fundar John Travolta – que é um bloco tradicional, a gente começou com uma caixinha, porque foi logo na época do filme Baile da Brilhantina, John Travolta, e eu lembro que o primeiro boneco era uma caixa de papelão que a gente botou em cima da cabeça, hoje é um bloco tradicionalíssimo lá. O Demo e

 

 

2’

a Bruxa foi um dos blocos também que ajudei a fundar, só que os primeiros bonecos que a gente fez, o que aconteceu? Nós saímos o primeiro ano, no segundo ano, nós saímos no primeiro dia de carnaval – foi no sábado. Quando foi no domingo, marcamos a hora de sair, todo mundo, e foi todo mundo lá, e foi aquela coisa, pra sair o bloco que faz a concentração e tudo, e fomos lá onde guardava o boneco, na casa de Antônio de Olinda, que é um artista de Olinda, e nada, ninguém

 

 

2’30’’

atendia, enfim. Eu falei: “Não, eu vou ali na praça”. Quando estou passando na Praça do Carmo, eu vejo um jeep cheio de gatas, umas loiras lindas, só mulher bonita, uns três jeeps andando num “pau’ danado, com aquele santo Antônio com os bonecos atrás. Eu fui lá, os caras pararam, eu falei: “ O que vocês estão com nossos bonecos aqui?” O cara: “ Não, a gente comprou esses bonecos ontem de um tal de Antônio de Olinda”. O cara vendeu nossos bonecos. Aí tem essas coisas,

 

 

3’

essas histórias que tem a ver com o surgimento de um bloco. E aí ficou vazio isso, esse espaço, então eu já acho meio chato, hoje em dia, aquela bonecaiada de Olinda. Mas acho que tem a ver o boneco gigante com o mamulengo até porque, esteticamente eles – pelo menos eram, hoje não sei mais – antigamente eles tinham muita relação com mamulengo aquela coisa: você pode olhar o Homem da Meia Noite

 

 

3’30’’

é um mamulengo, é um Capitão João Redondo. É incrível como a própria população tem uma referência com o boneco que é uma coisa quase que, quase religiosa com o Homem da Meia Noite, é incrível isso, que não tem com outros bonecos que já são corriqueiros.

 

 

4’

Então, tinha essa coisa também da gente querer fazer um, a minha ideia era fazer um carnaval aqui pra quem quisesse, porque não tinha carnaval nessa cidade, a gente não brincava, não se expressava, as pessoas falavam que ninguém gostava de carnaval: “ Ah, goiano não gosta de carnaval, e depois, todo mundo viaja”. Realmente, você ia pra qualquer um centro desse de produção cultural carnavalesca como Salvador, Recife, o que você via era brasiliense de tudo que é lado, placa de Brasília, muita, muita gente, muita gente e

 

 

4’30’’

foi aí que partiu essa ideia também: como a gente também, nesse período, nesse mesmo ano, tinha a história do governo Popular, da Frente Popular, que era o PT, na época, o Cristovam tinha ganho o governo, e era o primeiro carnaval nosso aqui em Brasília também, então tudo isso culminou na feitura e na construção desse bloco. E como o Zé Regino – eu tava muito ocupado na construção do

5’

bloco de Ceilândia – como Zé Regino sempre foi um brande artista, principalmente das artes plásticas, ele … mais que justo que ele fizesse a Mamãe Taguá e ficou realmente muito linda, muito bonita, diferente, meio brasiliense, muito linda.

 

 

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A Tetê Alcândida sempre junto com a gente, ela até hoje, não sei, Jorge Dimas, aquele professor de arte… Jorge Dimas… também não faz parte do Mamãe Taguá? Acho que faz. Não conhece? O Ruiter, várias pessoas já participaram, o Miquéias, várias pessoas, sempre contribuindo. O que acontece com esses blocos é que nem sempre as pessoas

 

 

30’’

têm uma continuidade, porque tem uma variante viaja num ano, no outro ano, não, mas sempre que elas estão em Brasília, elas participam, elas frequentam, dão sua contribuição dentro do bloco. Então, vários artistas já passaram por esses blocos, e hoje eu acho que está consolidado, o carnaval em Brasília está muito forte, consolidado, com muitos blocos, e é isso.

 

1’

Isso. Isso. Então, eu lembro que logo na primeira vez que surgiu essa oportunidade, foi a estreia na viagem internacional, a gente estava indo pra

 

 

1’30’’

Itália e nós fizemos um intensivo, um intensivão de italiano, arrumamos uma professora de italiano, não lembro o nome da professora amiga nossa, não lembro o nome dela… enfim, aí fizemos aula eu, Jeová e Chico, nossa, foi um negócio aplicado mesmo, nós fizemos muitas aulas de italiano mas, assim, não adiantou de nada. Nós chegamos, é diferente a língua “viva” e a língua técnica,

 

 

2’

é muito diferente, mas foi muito legal, No começo nós tínhamos medo dessa diferença do idioma, do entendimento, mas depois a gente percebeu que não era barreira, não é barreira a diferença de línguas pro teatro de mamulengo porque era só você captar algumas palavras-chave na língua, algumas coisas que são mais fáceis, que são mais usuais, digamos, e botar isso dentro do mamulengo. E

 

 

2’30’’

com essas pequenas introduções, você tem a plateia toda em mãos, você consegue fazer como se fosse português. Lá, nós tínhamos, no começo, nós tínhamos uma brasileira que era nossa tradutora – eu não lembro o nome da mulher, era Raquel? Não lembro, era paulista ela até – e ela viu que a gente fazia debates depois do espetáculo, falava da formação do trabalho nosso, e tudo, e depois com uma semana,

 

 

3’

eu acho, 15 dias a gente na Itália nós começamos a perceber que ela não falava, não traduzia nada do que a gente falava, ela falava tudo ao contrário. Então, começamos a chamar ela de traidora em vez de tradutora “Onde é que está nossa traidora?”. Enfim, mas era sempre assim, e aí dispensamos ela, já dispensamos e aí foi tranquilo, foi tranquilo, a partir daí não teve mais dificuldade nenhuma na diferença de idiomas, foi super tranquilo, foi… lá, quem era o carro chefe das

 

 

3’30’’

apresentações, mais frequentemente, era o Chico, eu cheguei a fazer também em outras regiões lá, mas foi ótimo, como estreia foi ótimo, acho que foi excelente.

Sim, os buratinai, os polichinelos, tive convivência, a gente conviveu com vários bonequeiros lá, inclusive somos amigos até hoje,

 

 

4’

mantemos contato, eu tenho vários no Facebook. A internet é muito legal nesse sentido você está perto das pessoas estando longe delas, enfim, nós achávamos que ia ser mais complicada essa relação, mas aliás, antes da Itália teve Argentina, Uruguai, mas nunca foi empecilho essa questão do idioma, mas como a Itália era uma coisa nova porque era

 

 

4’30’’

Europa, foi muito bom, essa convivência, essa relação lá, foi muito legal, muito legal.

 

 

 

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Muito, muito. Na Itália, você fala? Ah, sim, aqui era legal porque a escola, não tinha atividade em escola, quase não se tinha teatro em escola, então, eu lembro que a gente fazia muitas escolas, muitas escolas, escolas classe, escolas particulares. Era muita coisa, a gente levava o teatro pra escola, fazia no pátio, normalmente no refeitório das escolas,

 

 

30’’

colava preços bem populares, tipo hoje, não sei o que é um preço popular? 3 reais? Tipo isso, a gente cobrava, tipo, 3 reais por criança, não era muito organizado a gente xerocava ingresso, o material da gente era xerocado

 

 

1’

também, não era colorido, era uma pasta que a gente usava, um portfólio grosso, cheio de foto, de matéria de jornal, de coisas que a gente vendia pra escolas e era um trabalho bem legal, era o que mantinha a gente, a gente sobrevivia. Foi no período também que começamos a realizar projetos, a fazer projetos, que era o que ajudava o dia a dia da

 

 

1’30’’

gente, porque a escola sempre foi uma coisa meio instável, não tinha muita estabilidade, não se tinha, não se tem até hoje, porque uma escola pode comprar, ou não, mas a gente sempre fazia: todo mês, todos os meses a gente fazia, toda semana a gente tava fazendo em escola, toda semana. Eu cheguei a fazer em pátio de escola, escola classe, pra 600 alunos de uma vez só, sem microfone, não tinha microfone, era no gargalo assim. Hoje em dia não consigo mais,

 

 

2’

não tem nem condições, não tem condições, mas enfim, a gente fazia muita escola, muita escola, muitas, era o diário. Eu ia à escola todos os dias, todo dia eu visitava escola, todos os dias… pra vender, eu e Chico, nós andávamos muito. Eu lembro de uma época que nós passamos um perrengue, não me lembro o ano exatamente: a gente tava sem grana, sem grana… eu sei que vocês não vão botar isso, mas eu tava totalmente sem

 

 

2’30’’

grana, cara, não tinha dinheiro, acho que a gente tinha dinheiro pra passagem, nós fomos pro Plano Piloto. Foi isso: tinha passagem de ida e volta… aí nós compramos…não, tinha dinheiro pra comprar alguma coisa, um lanche; aí paramos na Asa Norte, ali perto do Ceub e nós compramos uma penca de banana, uma palma de banana, foi isso. Depois nós fomos naquela escola Canarinho, ou Sibipiruna, acho que era Sibipiruna, depois que nós fomos na Canarinho e consegui

 

 

3’

marcar o espetáculo. Eu lembro que nós paramos na hora do almoço assim, numa pracinha, e nós almoçamos banana, eu e o Chico, mas logo depois nós vendemos um espetáculo e já na mesma semana nós fizemos espetáculo, já vendemos outro e as coisas eram assim, eram sempre…não eram muito profissionais e as relações não eram muito profissionalizadas, eram sempre improvisadas. Então, havia muitos altos e baixos nessa relação econômica, mas a gente sempre dava um jeito, a gente

 

 

3’30’’

sempre conseguia sair do buraco, e o Chico sempre foi um cara que teve muitas ideias; ele não estava aqui, a gente não conseguia vender uma escola, mas ele estava pensando em fazer não sei o quê, vender pra um shopping, vendia não sei o quê, nem sei pra quem, e ele inventava, ele sempre inventou muita coisa, ele sempre foi muito inventivo nessa questão de projetos, de achar um jeito, ele sempre achava um jeito da gente sair da pior, ele sempre pensava em alguma solução, e era assim.

 

 

 

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Lembro, sim, o Walter, conheci ele na minha casa- na época comprei uma chácara ali, hoje Colônia Agrícola Samambaia – e precisei fazer uma cisterna para água e o rapaz que eu contratei tinha Valter como ajudante.

 

 

30’’

E eu lembro que uma tarde lá eles cavando era uma pedra muito dura, aquele toá duro, e já estava há uns 4 metros. E eu lembro que um dia eu levei os bonecos: eu parei o carro e tirei, eu mal ficava em casa, mas aí nesse dia eu fui na… tirei a mala de boneco, botei pra tomar sol, botei uns bonecos, tava arrumando os bonecos, foi isso, eu tava consertando alguns bonecos e ele viu e me perguntou, achou legal,

 

 

 

 

1’

apaixonou pelos bonecos e veio me consultar o que era necessário pra brincar, pra fazer aquilo, que ele queria… Como é que ele falou? “Não, bicho, eu tô cansado de ser tatu, não aguento mais esse buraco aqui” Eu falei: “ Ué, bicho, mas tu tem que terminar a cisterna. ” “ Não, eu vou terminar então”. Aí ele terminou a cisterna e veio pra trabalhar conosco, começou a trabalhar ajudando, nos ajudava, nos auxiliava e persistiu até hoje aí, um grande mestre

 

 

1’30’’

dos bonecos.

Foi, claro, pavão misterioso, eu, Chico, Isabela Brochado, Paulo Cauim, tinha mais duas meninas que eu não lembro o nome… eu não lembro o nome dela, Jô Oliveira, tinha muita gente envolvida, a Tetê, muita gente envolvida nesse espetáculo, é um espetáculo bem legal, pavão misterioso.

 

 

2’

Sim. Sim. Essa relação com o Sesi sempre teve, a relação com o Sesi. Eu participei de algumas, eu sempre fui muito flutuante, depois que o Invenção, que o Chico veio pra esse espaço aqui que virou Invenção Brasileira, a minha participação diminuiu

 

 

 

2’30’’

muito por conta de outros caminhos também, de outros trabalhos, de outras coisas, sempre há outras coisas pra serem feitas, mas diminuiu bastante; mas eu tive algumas convivências com trabalhos realizados aqui, já aqui com o Invenção aqui, no Sesi, já … aqui várias vezes, sempre foi assim, mas é um traço da

 

 

3’

linha de trabalho da gente, eu acho, essa coisa do ir e voltar, ir e voltar, entende?

 

 

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Lembro, lembro, sim, acho que fazem 10 ou 11 anos, se não me falha a memória. 14? É por aí, é o Fofão, que ele saiu de Campinas, inclusive, e apareceu aqui pra vir morar aqui