Entrevista – Virgílio Mota – Invenção Brasileira 30 anos

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Transcrição da entrevista com Virgílio Mota para o Projeto Invenção Brasileira 30 anos

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começar tudo de novo?

0024

eu sou virgilio mota, artesão por acidente, acho que um dia andando na rua, alguma coisa bateu na minha cabeça, me tornei artesão aos 50 anos.

pra felicidade minha e da família, me tornei artesão.

uma que eu tenho uma certa satisfação de me descobrir artesão pelo fato de eu estar ficando velho e pelo fato de ser artesão, da profissão de artesão ser uma das profissões mais antigas do mundo,

0100

que é puta, artesão e soldado.

então, entre as 3 coisas, o artesão, tem uma utilidade no mundo.

tem que ter uma utilidade no mundo.

 

e nessas andança, eu encontrei o chico simṍes do invenção brasileira, que tava fazendo um evento no sesc de taguatinga, e eu morava lá perto, e um amigo em comum, e eu comecei a fazer exposição num projeto que ele tinha no sesc… SESI de taguatinga.

 

nisso começou uma parceria, demo volta na geranium, daí, fiquei sabendo de ponto de cultura, fiquei conhecendo o mercado sul.

 

e tres anos depois, desse desenrolar da gente lá

0300

eu acabei vindo fazer um trabalho com os meninos aqui que era um cenário de teatro

comecei a trabalhar aqui, até que surgiu essa loja, e aluguei lá e estamos aqui a quase 12 anos nessa história aqui do mercado sul

 

e fazendo parte do trabalho do invenção brasileira, do espitiro da cultura popular, dessa relação, do não aprisionamento do conhecimento, isso e muito interessante, achei muito curioiso, que tem um pessoal que tem esse desprendimento.

 

0300

esse não aprisionamento do conhecimento.

o fato que a gente como sociedade, a gente tem que dividir esse conhecimento.

 

haja vista que eu sou um cidadão que não tenho conhecimento o que é pátria.

não faço ideia do que seja pátria, não tenho característica de patriota.

eu sou um cidadão do mundo, e eu prezo mais pela cidadania do que sim pela pátria;

 

o que é uma pátria?

não existe.

 

agora, cidadania, é todo dia, de manhã até a noite, e no dia seguinte e sempre.

e isso é o mais encantador pra todos nós, e aqui no mercado sul,

com a convivencia do pessoal do invenção brasielira, com todo o pessoal que vem aqui da cultura popular, a gente tem encontrada gente que tem uma visão

0400

mais ou menos nesse parametro de uma sociedade mais tranquila, mais justa, menos apegada a sucesso, a ser o primeiro, isso é que degrada muito até o conceito da arte, a alma do fazer, do cidadão..como palhaço como artista… do médico …

 

quando ele começa a visualizar muito o prazer e alma do que ele faz perde o sentido.

não é ele, é aquilo que ele faz e aí, fica em cima do que el faz e procura um valor que não existe. enquanto isso, ele sobe, pra ele subir, ele diminui um monte.

 

isso não é muito legal, eu prefiro ubuntu, tamos em roda e todo mundo se beneficiando disso,

era uma coisa que precisaria ser empregnado na cultura brasileiro.

0500

uma coisa que nós precisamops aprender aqui é ser brasileiro.

até hoje nós não aprendemos o que é ser brasileiro.

 

primeiro que nós já temos uma conotação com brasieliro que a gente detona com a família tradicional brasileiro que vem de portugal.

e esquecemos de nossa família tradicional de 15 mil anos que são os indios.

que é justamente o pessoal que tem muita informação da nossa cultra, da cultura popular brasileira tem muita coisa do indio.

 

e a gente desconhece tudo isso, e no entanto muita gente querendo adquirir cultura do tio sam, dos estados unidos.

 

não tenho nada a ver com macdonalds, pra que coca cola, com tanta arvore, com tanta coisa linda que nśo temos, tanta coisa rica, tanta coisa interessante, tanta história bonita no nosso país e a gente abandona tudo pra dar valor a história de outras pessoas que nos não temos nada a ver…

 

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cultura

um pouco depois..

 

eu já tinha conhecimento com o chico, e eu não sou uma pessoa de chegar assim AAAhh..

então eu chego devagarzinho, pisando , vendo o que era, …

 

aliás, alguma coisa eu conhecia, pq eu via o mamulengo desde criança, pq eu saia da escola e na praça onde morava tinha um cara fazendo mamulengo na praça.

 

o meu avo tinha uma malinha de coleção de cordel.

 

aí, quando eu encontrei o chico, aí eu tive no festisesi, e pude observar tudo aquilo que via quando criança… Caracá, isso ainda existe! e na capital do país!

 

isso de certa forma me surpreendeu.

 

eu vi pessoas, que eu vi nas minha andanças…

 

0100

e isso me deu um certo encantamento, daí onde eu comecei a prestar atenção no que eu fazia como artesão, nesse tempo, eu abandonei a construção civil, que era onde eu trabalhava antes,

aí, eu dediquei ao artesanato,

tinha o escritorio da cnf, que eu fiquei conhecendo o farid o magnus, uma turma, o angel,

e comecei a perceber o tipo de atividade que eles tinham.,

 

que não tinha o lance do conhecimento aprisionado. eles tavam lá trocando. achei aquilo encantado.

0200

completamento diferente do universo que eu sempre andei.

nisso comecei me apaixonar pela ideia, e pelas pessoas também.

e nisso eu consegui … tempos depois vir pra qui pro mercado sul, e temos uma oficina que tem mais ou menos a mesma característica do trabalho deles, que é a  troca de conhecimento.

 

essa coisa de analisar a reutilização de materiaias, de maneiras que as pessoas podem levar daqui e passar pra outras pessoas, pra poder construir um movel pra casa, um instrumento de maneira mais barata, acessível…

 

então, tudo isso, um cenário de teatro.

eu nunca imaginei q eu pudesse participar de cenografia de uma peça de teatro, de um filme, no entanto hoje, tem cenários…

 

tudo isso foi nascido praticamente aqui.

aqui que teve essa necessidade e foi construido.

0300

e não foi só eu.

foi um monte de gente. e que isso é o interessante.

uma das razões maiores do meu sucesso eu vejo aqui na minha própria rua.

pq tem muita gente fazendo sucesso aparecendo na televisão.

eu acho que meu sucesso já é suficiente, pq só de ver que meus vizinhos, a maior parte deles sabe fazer o que eu faço.

e tem objetos na casa deles, isso é sucesso pra mim.

é a validade que o nosso trabalho tem uma certa utlidade social.

é lúdica, social, tem várias… se alguém quiser, até lucrativa.

 

e toda essa visão, e amplidão que eu tive com relação ao meu trabalho, que eu comecei a entender o que faço, porque faço, de que jeito faço…

0400

e junta aquele prazer do fazer, pq aqui eu exerço meu trabalho nos 3 periodos.

amanhã , tarde e noite.

as vezes eu me canso, vou dormir mas eu to até meia noite no ar.

 

o fato de não ter hierarquia, nos facilita pra gente ter um movimento de pessoas que chega, sai, volta, não tem aperto com nada disso.

não temos uma empresa, não existimos de direito mas existimos de fato.

 

isso que realmente importa.

 

pq existir de direito, vc tem cnpj, um bocado de coisa , aquilo outro…

por exemplo, quando aluguei o depósito tinha 3 empresas que alugavam.

e a única coisa que tinha de fato era a gente que existia de fato.

0500

então a gente consegue aqui nessa coisa, um pouco fora do esquema, a gente consegue sobreviver. e cada um faz o que quer e bem entende.

 

o importante é que ele passe por aqui, entenda o que a gente faz, porque a gente faz, e pra que a gente faz e pra que serve o que a gente faz.

amanhã ou depois ele lembra: isso pode ser reaproveitado… pode ser feito isso.

 

então a gente tá dentro de um ambiente que é pertinente ao que a gente faz.

e o que a gente faz é pertinente ao ambiente que nos cerca.

 

isso é uma coisa que tem que ter percepção.

que não é só uma oficina de artesanto que temos no mercado sul.

com todo apoio de ponto de cultura, aquilo outra…

0600

não é só oficina, é uma sala de aula!

tem geometria, estatistica, física.. Humanas!!!

lá dentro, nós temos humanas, conseguimos conviver diferenças, conviver com candomblecista, ateus, evangṕelico, outros juramentados, hereges… é uma beleza. sabemos conviver.

e a gente ainda tira sarro um do outro!

 

isso é ótimo!

 

ta entendendo?

 

tudo isso é um aprendizado que temos aqui todo dia.

não tivemos, temos! todo dia.

isso pra mim é uma escola, pra mim que já tenho uma idade, tenho 65 anos… é uma escola, é um aprendizado fabuloso!

 

ah! as pessoas dizem, vc já tá velho pra essa aventura!

isso não é aventura! isso é viver!

é vivencia.

viver com essa galera aqui, que aparece uma garota de 12 anso, filha da vizinha, quero fazer um trabalho da escola, vem aqui e faz o trbalho, desenvolve e leva lá…

0700

a tia, a avó, qualquer pessoa pode vir, e interagir com o trabalho nosso, isso é importante.

 

isso é exercício de cidadania.

não fazemos nenhum favor pra ninguém por isso.

… não existe nada disso. é simplesmente, exercício de cidadania.

não precisamos de patriotismo, de partido, de religião, nada disso!

de deus?

quantos deus? 2848? escolhe o seu!

não quer acreditar, tem todo o direito.

mas ele tá lá, ele vive, tá lá, com a gente… é isso que tem que dar importância.

 

opção sexual, a cama, cada um faz o que quer, contanto que não force ninguém, que seja de bom grado, orra viva o amor, que lindo!

 

0800

agora a hipocrisia, é uma coisa que não rola muito entre nós, pq a gente tem uma verve muito franca e honesta.

a gente aceita determinadas coisas, e outras não aceita em hipótese alguma.

isso eu acho lindo.. isso é um fincar de bandeira..

isso que nós precisamos achar nesse pais, um outro jeitode ser brasieliro,

 

esse negocio de ser brasileiro, de cidadania… e já!

 

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nessa coisa com o chico, eu conheci o chico e a fabiola resende, e os 2 tavam envolvidos no ponto de cultura e eu precisava de um lugar pra montar a oficina.

a oficina funcionava no quintal de casa.

 

e precisa de um lugar melhor, mais amplo.

e alugamos um galpão no sitio geranium, lá da abadia, me ajudaram, o chico e a fabiola se associaram na locação desse espaço.

e lá eu fiquei conhecendo a nara, o farid, o angel, o magnus… todo esse pessoal que começou a frenquentar lá, fazer entrevista, e começou a intereção…

0100

foi aí que me abriu o lance de que era uma convivência salutar, de aprendizado,, uma convivencia, uma vivencia…

e nisso eu conheci pessoas com fazeres fantásticos, com conhecimentos fantásticos, com ineligencia favoravel, e a gente tem que ficar perto de pessoas assim.

 

que tá perto de pessoas mediocres e burras é complicado.

e tá perto de pessoas inteligente, a gente consegue se descobrir e descobrir coisas mais interessantes.

 

e nesse interim, tem um bando de gente que ficou conhecendo.

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o abder, mimico, o miltinho, que é iluminador, palhaço…parceiro, amigo.

tem as meninas, a eli, todo mundo trabalha, interage…

a gente quanto pega trabalho, cai todo mundo, um monte de gente vem e faz… todo mundo se ajuda.

 

aqui, a gente se preocupa muito com o compartilhamento, não adianta um ganhar sozinho e os outros ficarem só olhando…meio complicado.

 

0240

que mais?

 

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houve sim, naõ resta duvida de que houve um carinho e franqueza e uma certa adminração pelo que eu fazia.

e foi onde me despertou realmente, eu começar a ver a razão do meu trabalho…

até eu conhecer o chico, eu tive muitas tentativas (é uma coisa que raramente falo) de parar de viver de artesanato,…

eu não via sentido.

passei 2 anos tentando fazer as coisas, achando e buscando e vendo como fazia, e não conseguia ver… olhava e desanimava, mas pq eu tava fazendo isso…

 

por naõ ser era uma coisa que já existia… não ser muito a vista…

por ser um material desconhecido, ele tem uma certa resistencia de aceitação…

 

haja vista que depois eu conheci a Carol Nobrega, foi uma das pessoas que não deixou eu parar de trablhar, pq tinha sentido, q tinha mais uma pessoa fazendo comigo…

 

0200

foi depois que a carol chegou que falou, a gente pode fazer oficina…

ela começou como aprendiz e me ensinou muita coisa.. que ela já fazia muita coisa de papelão.. e fomos buscando…

e conseguimos chegar aí,

temos mais de 400 peças… já perdemos até o limite do que já fizemos, das pessoas que já passaram aqui…

 

essa percepção do meu trabalho, foi depois disso que a gente começou a ter o apoio do chico, que a gente começou a agregar, que teve mais valoração…

em 2004, nós fizemos um ambiente na casa cor, foi um sucesso mas não muito.

0300

apesar de que o mesmo ambiente que nós fizemos lá, conseguimos vender objetos por um ano, 2 anos..

mas e aí, o trabalho nosso não é um trabalho lucrativo.

é mais um trabalho proativo, do que lucrativo.

aí, chega a pessoa lá, eu queria aprender a fazer seu trabalho, mas não tenho como pagar, como é que faz… ali a gente troca ali… vai trocando… varre aqui,

 

e tem pessoas que vem e descobre que não era aquilo…

outras vem e ficam.

 

0400

a minha casa é uma casa livre, que não é mais minha, é de todos nós.

é uma casa de braços abertos, a quem tem algum interesse numa troca de conhecimento, de amizade, a gente taí a disposição pra isso…

apesar de eu não ser uma pessoa de AAA de muitos amigos…

eu tenho a consciencia e disponibilidade de ter um local que possa fazer isso.

 

tudo bem que de vez em quando, a gente fique no sacrificio, pq num patroionio, paitrocinio… nenhum alinhamento…a ajuda é dos amigos, aqui…

dos artistas que vem encomenda alguma coisa… pro palco, ou pra casa dele.

0500

isso que mantem minha atividade…

e principalmente essa troca de fazeres…

minha oficina é frequentada por pessoas… engenheira florestal, estudante de engenharia, arquiteto, estudante de arquitetura… estudante de um bocado de coisas…

 

eles vem aí, na troca de conhecimento. a gente dá alguma coisas, eles também deixam algo.

isso pra gente é interessante pq a gente tem uma relação de variedade… de universos dentro de um universo só

a gente não fica com aquela coisa presa engaiolada num contexto, apesar de ter cuidado com muitas coisas que aparecem por aí… eee obaoba…

 

mas a gente vai tocando nossa vida simplezinha de cidadão, e pra nós é ótimo isso.

 

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se eu lembro o nome da peça…

 

quando nós fizemos o cenário do nascimento, era um engenho de cana em tamanho natural… o desenho era da nara da gunga, e muita gente ajudou…

 

quase todo o pessoal que trabalhou na peça e colava um papel em algum lugar, dava palpite e tomava cafezinho e água, um abraço…

 

mas aí, conseguimos fazer esse cenário, rolou muito tempo aí…

depois disso, fizemos outros cenários..

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até pra mamulengo, ajudamos o chico…fizemos

 

até pro pessoal que faz cenário podia olhar mais pro papelão em vez da madeira, pq da leveza, que pode reutilizar várias vezes…

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a historia minha com papelão começou na construçaõ civil de uma maneira muito interessante;

na construção, comecei a observar que jogava muita coisa fora.

muito tubo fora, as vezes pedaço de 60, 80 centrimentros, fora.

 

e podia tentar fazer alguma coisa aquilo, pq leva muitos anos pra ser reintegrado na natureza e aí, levei pra casa, eu tinha uma pequena oficina em casa, nas horas vagas comecei a pesquisar, dobrar, …

e consegui fazer um total de 30 peças diferntes com pvc.

e nisso, tinha que arranjar uma caixa pra transporta…não podia ser em bolsa. que arranhava…

nisso fiz umas caixas q servia de estantes quando montava nas feiras..nisso comecei a fazer caixas pra outras pessoas.

0300

apareceu uma senhora que tinha uma loja de festas, pra criança.

e ela me encomendou umas malas pra levar as toalhas de festas…nisso comecei a fazer essas malas, malas grandes…

usava tnt pra forrar…

fiz um bocado de malas, nisso me indicou outras coisas, numa loja de festas,

uma senhora me deu um motorzinho e uma foto de uma roda gigante…

será que voce consegue fazer?

levei pra casa e consegui… uai, será que sou artesão mesmo?

e nisso eu comecei a fazer situações de fundo do mar, navio fundeado…

lembro que eu fiz um um navio de papelão, pra tá no fundo do mar tá muito bonito…peguei o estiliete, dei uns cortes, depois dei um murro nele. aí, ficou boneco… realmente, ele afundou pq bateu num recife..ainda botei uns sujos nele, pra fazer cracas.

 

foi aí que eu fui instigado a investigar e nesse meio conheci o chico no invenção e o pessoal do sesc, do sesi… o marconi, apoiador, ele que falou ‘voce tem que conhecer o chico’ ele que me apresentou o chico.

até que nós nos encontramos… e tamo de parceria até hoje.

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apesar de que eu tenho uma queixazinha com o chico, pq nós temos um contrato de parceria, com o chico, com o invenção…

esse negócio de parceria nesse contrato tinha uma anistia, o velho, um pessoal aí, umas coisas que acontece, num tá no contrato… aí ele, tá sim!

não, tá não. aí, quando foi ver, tava lá…

naquela linhazinha, embaixo, era letrinha miudinha… tudo o que acontece tá nessas letrinhas…

hahaha

0600

o negócio do contrato foi brabo, ai ai…

 

 

 

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meu irmão tocava numa banda e uma vez, fizemos um estudio na sala de casa, fizemos um sistema de acustica com material reaproveitado…

 

era um estudio que era calculado gastar 6 ou 7 mil e nós gastamos 300.

 

ensaiava reggae, tal..

 

0100

nisso tinha o baterista de uma banda, o pit, ele perguntou não tá pra fazer um tambor com esse material…

num sei…

0120

me deu na cabeça, vou fazer,  e fiz uma alfaia.

 

fiz, fiz o aro… de musica eu tendo 2 coisas… o agudo e grave… do dó pro si, é tudo a mesma coisa…

 

aí, pedi pros amigos trazer uma pele de bode tal…

0200

aí, vi um saco de papel de cimento.. e eu me lembrei que tinhamos feito uma exposição na unb… uma senhora botou umas cadeiras de piscina feitas com saco de pão…

aí, fui desmontar e vi as peças e ainda falei… po que lega, voce junta saco de pão dos vizinhos.. e ela, não a gente vai na distribuidora e compra…

não, caiu a ficha… eu trabalho com reutilização…

aí, quando eu vi o saco de cimento, ‘hmm, eu trabalhei muito com esse rapaz, conheço..’

peguei um pedaço, em casa lavei, esfreguei, tirei

e vi lá:”50kg’… hm, um papel que guenta 50 kg de material dentro e ainda tem o manuseio, o nego bota na cabeça, caminhão…

 

e foi observar, é uma papel craft de fibra longa e a gente joga fora tudo isso…

ainda vamos fazer muita coisa na construção…

0400

aí na casa cor já aplicamos o saco de cimento na cadeira, aquelas tiras ficou parecendo madeira…

e agregamos o saco de cimento ao papelão… já usava paepl de presente, coador de café… mil e uma coisa, o papel que aparecia a gente usava…

 

a partir daí, a gente usa o saco de cimento como corda, acento de cadeira, forrando um instrumento…

0440

foi aí, fazendo uma lumnária e descobri que dava som… o papel.

eu peguei uma vasilha que tava em cima da mesa, amarrei e estiquei e deixei no sol..

aí, quando voltei peguei bati…tic tic.. deu um som estranho

 

aí, peguei um pvc, de 300, tendeu.. acho que na geranium deve ter…

 

aí, peguei o saco de cimento estiquei a pele, passei uma fita e deu som.

0530

aí, eu descobri,  uma musicista da unb, …

lia… através do chico simões, nós fizemos uns pandeirões pra ela…

0600

uma vez apareceu um pandeirinho, mas não consegui fazer…

nisso no beco, apareceu o tribo das artes, eu fui contratado pra fazer oficinas …

e nisso apareceu  a mirela, o juraci…

juraci me conhecia de antes… atravez do josué, era um cara que era percussionista, era o entusiasta que experimentava… me dava as dicas…

 

foi aí que veio saindo os instrumentos… da alfaia, que eu tirei o coro e botei o saco de cimento… descobrimos que o saco de cimento serve pra tambor e faz tambor pandeiro pandeirão, zabumba…

 

o juraci… hj, eu quase já naõ faço instrumentos pq a bola da vez é dele, ele que é especialista, musico, percussionista e tem o feeling do artesão…

ele conseguiu desenvolver o tambor.

eu fico satisteito que ele melhorou o que eu comecei…

e botando pra frente o conhecimento… que é isso que interessa,

não adianta prender e represar, tem que jogar pra frente

0800

tem o caso da paloma, do joaley, que já tiveram em pernambuco, dando oficinas, ensinando a fazer tambores e tamos hj com o daniel, que tá fazendo lutieria, rabecas, de madeira, e é músico formado…

e isso é curioso.

tamos tentando fazer uma rabeca de saco de cimento, só de saco de cimento.

o corpo, braço tudo, uma ousadia, teimosia e creio que temos possibilidade de fazer a rabeca…

e o  violino também.

pq a flauta já sai esse ano.

e o pifano vai sari de saco de cimento

isso tudo são possiblildades que devia ta nas escolas públicas… escolas de periferia

já imaginou isso na escola pública?

o tanto de músico que ia ter nesse país,

de professor, de aluno, não ficar andando atrás de vereadorzinho, de deputadinho, de figurinhas insignificantes pra comprar tambores, instrumentos….

0920

é muito mais interessante eles mesmos confeccionar os intrumentos deles, com o som deles, do jeito deles..

mas eles tem ali o material, a possibilidade, e alguém pra levar o conhecimento pra eles.

 

isso é que precisa..

são variantes do universo, nós precisamos disso.

nem todo mundo trabalha pra ir prum emprego, trabalha pra ser isso, ser aquilo.

tem pessoas que simplesmente querem viver.

tipo eu, quero viver.

quero ser só um sobrevivnete, um vivente, um cidadão… de preferência.

 

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a tempo ecoarte, a gente tava trabalhando outro dia fazendo um cenário pra uma escola, uma senhora que tem… aquele curralzinho de criança que tem… brinquedoteca…

 

fiizemos sinalização de trânsito..

 

e nisso, descobrimos que a gente tinha um nome, que era ecoarte, e a carol descobriu qu e já tinha umas coisas registradas como ecoarte…

precisavamos de um nome nosso, aí, não sei, acho que Carol, bota tempoecoarte..

 

pq tem o tempo, nós tamos fazendo ecologia e arte.

e no tempo…

e naquele tempo, esse negócio de ecologia, de reciclagem e reaproveitamento era negócio pra ser feito pra associação e pra cadeia.

 

0110

e a carol que ajudou a escolher esse nome e fizemos o registro, pra não dizer que não tem registro, fizemos um registro no creeative commons,

mas ao mesmo tempo ela é aberta a pessoas de associações e coisas afins, a gente libera o conhecimento de boa, e pessoas que a gente autoriza tipo o juracy…

 

e o trabalho dele é resultado do nosso e o nosso dele, e a gente tem que se cuidar… e assim por diante…

 

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tivemos um evento na casa cor,  e depois na unb…

a nicole

 

passou alguém dessas coisas que faz registro de patentes, essas coisas…

e o cidadão passou lá e ‘cade a moça que faz os móveis’… ficou passando um descritivo dos móveis pra gente fazer o ‘coiso lá’…

 

uai, que moça?

 

mas isso quem faz é uma moça e um senhor…

não, 2 moças de um escritório lá…

 

uai, mais isso é lá de taguatinga….

como é que vai registrar isso…

 

é, mas faltou o descritivo…

não, não tem nem ela, nem eu pq a gente sabe como faz a cadeira…

 

0130

aí é onde o pessoal do invenção, o farid, o magnus… sugeriram de que a gente fizesse um registro mesmo pra segurar… já que eu não queria fazer um registro de peças… pq não é a via do meu trabalho, não quero ser dono de coisa nenhuma

 

mas, falaram, já que não quer ser dono, não pode deixar outro se nomear…e fizemos isso pra se garantir… esses anos todos, tamos na fita.

 

0230

essa ideia de se reaproveitar do papelão, não é minha…

inclusive no brasil, já teve uma experiencia de tambor com saco de ciemnto….

ficaram de mandar uma coisa mas nunca mandou..

diz que na decada de 50 ou 60, um peão de obra lá, pegou o saco de cimento, esticou na lata de querosene, e fez um tambor…

 

0320

que nem a casa de saco de cimento

tem história de brasilia… inclusive fiz um projeto ver se eu conseguia uma autorização da…. coisa de cultura do plano…. onde tem o teatro… onde faz exposição, da funarte!

 

eu queria ocupar o espaço da funarte com uma casa de papelão, uma edificação de papelão que fosse utilitária…

que ficasse no tempo, tomasse chuva…

tem condição, é viável.

 

não conseguimos isso.

mas que esse espaço fosse utilizado… um tocasse um violão enquanto esperasse pra entrar… recitasse um poema..

 

que a instalação tivesse uma utilidade social, pública… também de apreciação, uma casa de papelão, lá no meio de brasília, coberta de saco de cimento, uma homenagem ao candango… pq todo mundo tem mania de homenagear jk e jk e jk…

0500

e acontece que brasília não foi construida só por jk

teve uma porrada de gente.

tem lucio costa, burle marx, e o operário…

talvz tenha algum enterrado aqui..

seria uma homenagem à aquela história do saco de cimento…

mãe, eu fiz uma casa de tantos sacos de cimento. e era só o papel do saco de cimento.

e a gente provava que era real.. tinha condição… a gente melhorava a ideia, não é minha… a gente só melhora.

 

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uma coisa interessante:

a primeira vez que eu vim ao mercado sul, procurar chico simões a conselho do … marconi, tinha um outro cidadão também aí, o… beirão…

os 2 sempre falavam pra mim> procura o chico, seu trabalho é interessante…

 

aí, vim… botei uns tambores, uns…

ele falou> não precisava trazer, eu já conheço seu trabalho.

aí, ele, não posso prometer muito…

 

mas já me chamou pra uma exposição, e devagarzinho, comecei a vir, tinha umas arquibancadas, montava uns trens… comecei assistir o mamulengo, uma música…

 

e eu fiquei encantado de presenciar uma coisa da minha infẫncia, sou do nordeste…

comecei de encantar..

0200

e outra observação que eu fiz, na época, da cantoria, de espetáculo popular, de mamulengo…

o que eu achei curioso, é que a maioria das pessoas eram de menos de 30 anos, de 25!

que legal essa coisa que esse cara tá fazendo!

fazer perdurar a nossa cultura!

 

ve só, no japão, aconteceu o que aconteceu com o japão, mas o japão não abandona a cultura tradicional dele. aqui larga de mão …

e … caraca… aqui tá acontecendo isso

e também fui perceber que tinha outros alguéns fazendo isso por aí.

eu nunca via televisão… se bem que na televisão não tem isso, muito raro.

nossa televisão não mostra coisa daqui

 

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… da casa da puta que pariu menos o brasil.

 

e aí, eu justamente por isso eu sou um critico à televisão, eu tive a oportunidade, apesar de não ter frequentado escola durante muito tempo,

eu tive oportunidade de ler sobre comunicação sublimiar, e eu não vejo a televisão como coisa boa.

 

vinha cum acoisa aí com a ebc, mas parece que isso vai morrer…

a cultura…

 

e o jeito é nós preservarmos isso sem ter televisão.

 

0110

a coisa que eu acho curiosa que eu achei aqui no beco, esse envolvimento.

anos depois, a gente ve que tem uma feira no mercado sul,

tem festa junina, a gente ve apresentação desses meninos que já tao rodando o brasil, fazendo apresentçaão já rudando o mundo. gente que cresceu aqui… que desenvolveu aui

já tá gente apresentando mamulengo em portugal, na espanha, na argentina, na colombia…

 

o tiago francisco, a luciana meireles… todo mundo saiu daqui.

 

a fabiola, estudando cenicas, aprendeu na escola e aprendeu aqui, de pessoas sem o saber academico mas o saber fazido… isso é interessante.

 

isso eu comecei a observar…

 

a maioria das pessoas que frequentam a oficina tem menos de 25 anos…

e o artesanato é uma coisa antiga.

exige paciencia,

usa as mãos,

0300

temos que desenvolver as ferramentas dentro da nossa necessidade…

a gente improvisa.

faz a ferramenta com pedaço de madeira, de papelão, o que sobra do estilete.

a gente sempre tá pensando no reaproveitamento até nas ferramentas.

quem tem básica, tem ticotico… furadeira, …que mais?

uma maquina fotografica que raramente uso hehe

 

mas é isso as ferramenta de oficina é tudo feita lá mesmo, com pedaço de ferro, papelão, madeira. prega aqui, ali, do jeito que quer…

sobra de computador.

eu sempre vou guardando peças… outro dia, tinha uma xerox na rua, botei lá, e quando vi já tinha 6 pessoas que passaram e tiraram peças…

parou o serviço dele e em vez de descansar ali, vinha e desmontava uma peça…

em uma semna a desmontou tudo e cada peça foi guardada do que pode,

até meu neto, passou pegou os motorizinhos… e botou nos brinquedos de papelão que o vovô deu, ele tá aprendendo os movimentos lá…

 

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uma big duma impressora xerox…

fomos lá, nem a recicladora queria..

 

pegamos um bando de meninos lá, fomos lá pegamos e

trouxemo…

c ve o tanto de gente que teve o fato lúdico de tá desmontando aquilo…

teve uns que entendia,

o magnus chegava e explicava o que era aquilo, serve pra isso..

 

quer dizer..

tem uma pessoa que pode informar, ensinar explicar a utilidade daquilo.

 

e isso é uma coisa interessante,

se eu pudess por exemplo, aqui tinha uma oficina de metareciclagem

da gente montar computadror, montar brinquedo, coisa que se move..

 

mas isso, envolve tempo, envolve capital, e a gente, dá colaboração que a gente  tem aqui… dificil da gente fazer isso…

 

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a pesquisa não é valorizada no brasil.

os pesquisadores reclamam, na academia..

eles tem um produto, tão testando… tem dificuldade de fazer aquilo

 

agora, imagina nós aqui, que difilculdade nós temos…

aqui não é só uma oficina de artesanato.

é pesquisa… o teatro aqui é pesquisa.

o outro que tá lá, silas, também é pesquisa com madeira, brinquedo pedagógico…

a nem também pesquisa tecidos pra usos cenicos…

 

aqui no mercado sul uma sérei de pessas que a gente pode desenvolver um monte de atividades…

tem a gunga que faz um trabalho de design, trabalho até institucional… fabulosos.

 

tem a nara, o farid, tem a keyane, temos jornalista… gente de várias…

 

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a única profssião que não anda muito por aqui é político…

hoje virou profissão.

o cara não tem porra nenhuma na vida pra fazer, vira política.

o cara garra a teta e não larga mais…

larga ele pra lá…

 

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eu sei que a gente no começo tinha uma ideia de montar uma feira de artesanato nomercado sul.

basicamente, artesanato com reaproveitamento.

 

e isso de perto de nossa comunidade, aqui perto tagua sul,

e um ou outro convidado.

 

mas a minha opinião, é … que não precisa ser geral…

que a gente trabalhasse mais materiaias de reutilização.

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e principalmente pessoas que moram aqui perto da nossa comunidade e tem um trabalho pra apresentar.

e nem sempre tem lugar, tem uma dificuldade pra se apresentar.

teria um lugar próximo, todo mes pra fazer essa feira, pra apresentar

e isso tem funcionado, devagarzinho,

 

mas eu creio que poderia ter mais artesão…

 

e ter uma dificuldade de organizar um espaço pra ter as mesas pro artesão convidado chegar… encontrar uma mesa pra expor, em vez de apresentar no chão.

 

mas tem o negócio da ocupação, e tem o negócio da ecofeira, e cada um tem que se virar, pq cada um paga aluguel, cada um tem que sobreviver,

e esses projetos vão andando devagar, não dá pra gente deslanchar ele justamente por essa falta de aporte financeiro e coisa, que a gente tá tentando se organizar ainda…

 

a gente é muito independente de certa forma, e tem que ser manter independente…

pq eu não quero meu trabalho aleijado ao trabalho de ninguém, quero parceria, parceria com indepndencia… isso acho ótimo.

 

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nesse meio de trabalho meu, eu tenho de deixar de fazer certas parceiras por conta disso, da exclusividade…

não tem por que ter exclusividade nesse trabalho meu.

seria cortar a árvore, não frutifica.

não era a minha…

 

justamente a minha parceria com chico simões, é legal.

ele não interfere, eu não interfiro.

muito pelo contrário, quando ele precisa de alguma coisa, a gente faz.

 

ele dá a ideia, a gente cumpre a ideia dele.

tem várias coisa aí que a ideia é dele. eu só fiz executar.

e essa é a finalidade.

isso favorece a liberdade criativa.

 

a arte não é pra baixar a cabeça, é pra contestar, pra descobrir, pesquisar…

se abaixa a cabeça, pode não achar direito. pq tá olhando só pros pés…

 

a gente tem que ter o olhar muito universal

 

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não resta a menior duvida que eu tenho a consciencia de que tenho o defeito…. qualdiade, não sei.

eu sou utópico…

o meu trabalho continua esse tempo todo, faz 16 17 anos, sem remuneração…

mas uma utopia, a vontade de ver o mundo melhor, as pessoas interagindo,

trocando conhecimento.

 

o que a gente faz aqui, no mercado sul.

não resta duvida tá um pouco fora do contexto em regra por aí.

 

haja vista que a maioria de nós não assiste televisão.

eu não dou entrevista pra globo.

encerrei isso, não … eu não preciso dar entrevista pra globo.

 

a minha obrigação que eu sei que tenho que dar entrevista…

e aí, eu dou entrevista por uma questão de obrigação de cidadania.

 

são os garotos escola, da catolica, da unb, do ceub, projeção…

que vem fazer um trabalho, entrevista, saber o que a gente faz…

 

eu sento e fico horas explicando o que a gente faz, explicando minhas andanças… um bate papo geral

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num tem uma coisa, uma regra, uma aprensentação,

 

mas a gente tem sempre um tópico, que tem que contar 200 vezes…

é a história minha… é a história de um monte de gente,

um monte de liberdades, de utopias, de sonhos…

aqui cada um tem um sonho…

o sonho desse mercado sul, da gente ver aqui, de ter todo mes de feira,

se puder 2 eventos de feira.

 

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a gente não gosta aqui de nenhum evento passar da meia noite, tem vizinhos que não tá atividade que nem nós, tem que acordar 6, 7 horas da manhã pra trabalhar.

e a gente tem que ter esse respeito

 

eles são parte da nossa comunidade, mesmo eles não trabalhando com o trabalho que nós temos, sou artesão, eles tem um emprego… tem que chegar lá, outros faz plantão, isso aquilo.

 

a gente tem que ter esssa convivencia com todo mundo.

aqui é uma comunidade que sabe o nome de todo mundo.

todo mundo sabe quem sou eu, … sabe quem é abder… manzati

 

pouca gente que mora no mercado sul, nãoa não ser quem não gosta de coisa, ele fica dentro da toca dele lá e não vamos aborrecer…

pq se não quer vir pro abraço, fica lá… afinal, o mundo é grande.

 

se a gente tiver metade do mundo pra abraçar a gente, tem metade que não quer.

 

e aí, o que importa é isso.

a melhor coisa que a gente leva da vida é a vida que a gente leva.

 

posso ir embora?