Entrevista – Jaile Ricardo (Kareca) – Invenção Brasileira 30 anos

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Decupagem- Bar kareka

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e você não vai sentar não? O abder, você lembra dele? Si, si.

 

 

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não ‘e a vanderlucia não? ‘e uma magrinha? Não isso ai ‘e da época no bar do kareka que ele tinha cabelo ficava fazendo assim. Faz tempo. Muito tempo. Quando ele tinha o cabelinho assim.

 

30’’

Esse lado cupido do kareka eu não conhecia não.

 

 

 

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risadas

 

 

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e a gente era de menor, a policia chegava a gente ia pra cozinha a mae do kareka fazendo coxinha la

 

 

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que que eu acabei de falar com vocês agora? Do osiris, aqui o. Não ‘e cupido não. Cade osiris? Você lembra de  do chico simoes? Do caca? Vamo juntar a mesa. Babau?

 

30’

Ah, vavau. Vocês conhecem vavau?

 

 

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imagem do bar

 

 

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e realmente a batida era da policia federa, da narcoticos mesmo, direto. E aquele cheiro

 

 

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sobre a administração de taguatinga o pessoal “ah….” Nós passamos o filme na garagem da administração de taguatinga, ali era uma garagem. Então a gente aproveitava a garagem pra passar o filme do caixa d’agua dia de sexta-feira, dia de sábado. Nós pegávamos no sesc ou no intrafilmes era…

 

 

 

30’’

meu deus agora esqueci o nome dela. Que era coordenadora da intrafilme aqui, uma professora da unb…eu vou lembrar o nome…e que ela é…inclusive ela foi uma das produtoras do cinco vezes favela eu vou lembrar o nome dela.

 

 

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Então o caixa d’agua passava filmes de…do…filme nacional…nós passamos aqui cinco vezes favela, o diabo na terra do sol, passamos pata palomares, um festival de cinema brasileiro, no cine brasília. é…nós pegávamos os cartazes e passava os cartazes. Esse movimento cultural em taguatinga,

 

 

30’’

foi no final da década de 70, tem início na década de 80 foi um muito importante. do cine clube caixa d’agua saiu um negócio chamado ruas de arte. Você é um pouqinho mais novo…a gente pegava a tinta guache ia no correio braziliense pegava os rolos de papel jornal, que sobrava da bobina, pedia tinta guache, comprava tinta guache, e íamos fazer

 

 

1’

ruas de arte. Era pra molecada brincar de guache. Na ruas de arte, o omar franco, esse que foi um escultor, o omar franco foi um grande desenhista, eu já tava trabalhando no centrão da guariroba, nessa época dando aula de educação artística. Dava aula de história do cinema, educação artística, cinema, teatro. Então eu fazia umas  exposições das gravuras do omar franco com nanquim, ele era

 

 

1’30’’

um excelente pintor com nanquim nas cartolinas, botava num saco plástico, comprava o plaśtico, e plastificava pra gente fazer exposição. desse movimento que sai de taguatinga, o cine clube caixa d’agua, a ruas de arte, das atividades do hip hop que saía na praça do relógio, nós fundamos com os alunos do centrão de guariroba

 

 

2’

o primeiro cine clube guariroba. O primeiro cine clube na ceilandia, o cine clube guariroba eu fui um dos que fundei com os alunos, para que tivesse um cine clube dentro do centrão da guariroba porque precisava, isso em 79.

 

3’6’’

é…dessa época…desde 74 eu começo a frequentar o sesi, desde 74. então o sesi…mas no final da decada de 70, o que acontece é que em 76, 75 pra 76 chega um grupo de professoras de são paulo que vem trabalhar aqui no sesi,

 

 

3’30’’

que era o rolando, que era o professor de atletismo, tarciso que era professor de esgrima, carlos…luiz carlos que era professor de vôlei, carlos alberto que era professor de basquete e futebol de salão, que foi o treinador de joaquim cruz, pretão, um dos grandes campeões dos 800 metros que é daqui, de taguatinga. Quer dizer, da época né, treinou no sesi…é…hemer que era professor de natação. Esses eram os professores.

4’

Esses professores vem de fora, então quando chega aqui em brasilia, quando chega no sesi encontra uma garotada extraordinária e que eram jogadores de futebol. Aqui você tinha o banana que era um grande atleta, um craque de futebol que morava do lado do sesi. Então você tinha o pipilca, to falando que era jogador. Você tinha um..o elmo que era  irmão do banana. Você tinha vários jogadores craques. Tanto que o sesi com esses professores de educação física e de atividades específicas do esporte

 

 

4’30’’

no caso do vôlei, basquete, natação , atletismo, etc, eles começam a ser campeões. E como eu falei antes, nós criamos então…tinha uma relação muito afetiva entre nós. E esses professores tem consciência, tem uma visão maior, vem de uma cidade maior, então tinha uma visão mais do que tava acontecendo no brasil, entendeu? E claro que nós também já tínhamos uma…já imaginávamos

 

 

5’

alguma coisa…já tinha gente nossa estudando vestibular…é..o artur já estudava no objetivo no plano piloto, já ouvia outras coisas. Já tinha gente passando, o erimar dalto, por exemplo, que é mais velho já estava fazendo pela unb que estudava arquitetura. Então você já tinha no grupo, nesse lugar aqui, pessoas mais velhas mas muito conectadas conosco, um pouquinho mais velhas. Então, a gente começa participar, começa ver

 

 

5’30’’

esse movimento. Os filmes nos ajuda muito, o teatro, e aí o teatro popular, por exemplo, o chico morbeque, adenir e  marida tinham uma compreensão importante do brasil, de que que tava acontecendo no brasil. Aquela ideia de libertação, a ideia de tá juntos, de ser…é..ler revistas nacionais, por exemplo, nessa época a gente tinha que ver a..nós líamos a veja

 

 

6’

que era uma revista crítica da época, 78,79, então nós líamos a veja. Essa ideia e que a veja sempre foi de direita no caso hoje, a posição hoje, é diferente, então a gente era crítica do pt. Esse movimento de juventude ele parte muito assim e…teve muito engraçado também, que sai aqui, esse movimento cultural daqui com aldemir, com teatro no sesi, movimentos políticos, sociais, os incansáveis da ceilândia em 78,79 influenciam também

 

 

6’30’’

esse movimento entre nós aqui. As greves do abc começam a aparece na televisão e como cesar a gente era agregado, a gente era junto conversávamos bastante sobre política, né..que que tava acontecendo no brasil. A gente conversava sobre as greves, conversava sobre qual a importância da cultura…o movimento cabeças em 77,78,79 no plano piloto, com as exposições de varal, os varais.

 

 

7’

Isso tudo fez a gente ter uma troca muito grande, apesar que nós estávamos longe a gente fez uma troca muito grande. Então eu refletindo assim, esse chico, assim…essa nossa participação ela não foi apesar de estar longe ela não foi isolada. E eu não tenho dúvida hoje, que os professores nossos foram muito importantes, apesar de estar no regime militar porque eles davam essa ideia de

 

7’30’’

por exemplo estudar, encontrar, ler, ver filme, participar do teatro. Todos eles estimulavam a gente a fazer isso, eu cansei de ver, de bater papo com o luiz alberto, que era o que eu me relacionava mais porque eu gostava de brincar vôlei e ele era de vôlei. Cansei de brincar com ele, conversar com ele e ele falava pra gente “poxa, essa juventude…vocês tem que participar do que tá acontecendo no brasil”.

 

 

8’

Então todos nós fomos de uma certa maneira estimulado por essas pessoas que já tinham a experiência do brasil diferente, mesmo vivendo no regime militar. Então, eu acho..não diria que nós somos frutos desses professores, mas com certeza absoluta esses professores mudaram, olharam pra gente de uma forma também social, de uma forma entender o brasil

 

 

8’30’’

que não era o sesi só, que não era o nosso umbigo. Que existia um brasil de efervescência em 74, 75,76,77,78. E como é…eu, carlinho, bahia, artur, isac, nós já trabalhávamos fora, engraçado isso…enquanto eu fui trabalhar no broques, eu trabalhava no banco do estado de goiás, cesinha trabalhava no citibank e o quinha no banco real, e a gente vinha no ônibus, tudo e aquilo, mas era bancário, mas tinha

 

 

9’

a oposição sindical. O chico vigilante, que hoje é deputado, quando eu trabalhava no banco do estado de goiás tinha um café, eu trabalhava com a irmã, com a umbertina que é irmã do professor de português aqui. E a gente dava café com leite pra lanche, quando ele ia no banco falar a gente ia lá…aí a umbertina que era do partidão “não, a greve”…a gente vamo dar café pro pessoal que vai ter o sindicato dos vigilantes.

 

 

9’30’’

Então, ele não sabe disso, ele nunca me perg…mas eu cansei de dar café com pão pra ele lá banco. Falava “vem cá, entra aqui pra organizar o movimento grevista lá..” isso eu era do banco do estado de goiás nessa época, eu e umbertina. Então eu acho assim que a ideia do meu caso particular e acho que a maioria dos meus amigos dessa época, de fazer o movimento cultural, o movimento social foi esse negócio da troca

 

 

10’’

de ter troca de informação, que não era fácil, não é como hoje no whatsapp, mas de ter tido, conhecido pessoas. A outra coisa que eu acho que foi muito boa, nós éramos muito unidos, engraçado isso, que quando foi pra…pra criar o caixa d’agua por exemplo eu lembro que foi na casa do kim, aqui na esquina. Aí a gente votou lá…vamos fundar o cinema, o caixa d’agua, vamo fazer a ata, cara, quem quer ser o presidente?; quem vai ser?; era tudo unido.

 

 

10’30’’

A gente era…muito interessante…isso foi muito importante. E eu hoje chamo de afetividade e trato, tenho isso até hoje como uma afetividade que entende a diversidade. Porque naquele tempo não tínhamos isso, mas nós tínhamos, por exemplo, o elias que era homossexual, era da nossa turma e ninguém nunca discutiu a sexualidade, mas o elias…jupi, estava conosco.

11’

Né…um ou outro usavam um baseado, tavam com a gente, e outros nem fumavam nada, nem bebia, eu por exemplo nunca usei. Então a gente tava sempre junto, isso foi muito importante porque a gente tinha cumplicidade. Eu acho que é uma  das coisas importantes pra criação de uma cultura também de movimentos, que eu posso chamar hoje de  movimentos sociais, que exista cumplicidade. Eu acho que na nossa época houve muita cumplicidade. Cumplicidade no sentido de…

 

 

11’30’’

não só de tá tomando cerveja um com o outro, bater papo, falar de namorada, mas cumplicidade de tá na casa um do outro, por exemplo a gente almoçava na casa do bahia, era bem uns dez, dez, vinte. Aí chegavam aqueles dez, chegava lá almoçava. Fazia ovo, fazia panela fritava…todo mundo comia junto. Ia pra casa do carlinhos, ia na minha casa, ia na casa do adiel, ia na casa do banana, ia na casa do…o pai do artur fazia mate. Ele chegava com uma jarra de mate

 

12’

pra gente tomar aquele mate gelado, porque vinha do sesi correndo, todo mundo jogando bola, suado, aí tomava aquele mate gelado. Era a cumplicidade que nós tínhamos um com o outro. E também a relação familiar.

 

 

 

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Eu conhecia o chico, a mãe do chico, o pai do chico, isso foi muito importante tanto que hoje quando a gente vai na casa do bahia, a gente reuni a mãe dele, que já tá velhinha, tá com oitenta e poucos anos e com as netas, todo mundo se conhece. A gente conhece a família toda. Não sei se isso ainda existe como era naquela época, mas na nossa época foi importante. Pra também ter uma compreensão social

 

30’’

o social que tava fora. O social era o que tava dentro da gente. Não sei se hoje é a mesma coisa. Não sei…que aí tema facilidade que cê tem a comunicação à distância, não tem o tempo, apesar de ter melhorado a quantidade, o tempo de horas de trabalho e até de satisfação, mas você reduz a aproximidade. Então  acho que isso foi importante. A outra coisa que acho que quando eu falei do crs…

 

 

1’

os clubes recreativo do sesi social, ele cuidava das coisas do sesi. Então por exemplo, tinha colegas nossos que não tinham direito a dentista, porque o sesi não dava direito, e o que aconteceu? Criamos uma reunião, fizemos uma reuniao com o Paro e com o diretor do sesi, coisa seguinte e disse… “rapaz noś vamos botar a comunidade”. Então os meninos também tinham direito a … da comunidade, a comunidade tem direito ao dentista porque não tinha, era um percentual, eu não lembro quanto era, mas um número lá xis

 

 

1’30’’

que era da comunidade. Foi do crs, né. Carteirinha de…era chamada de carteirinha da comunidade, carteirinha da comunidade, era carteirinha da comunidade. Isso nós conquistamos no sesi e isso ajudou socialmente a gente a entender as coisas, no meu caso pessoal. Eu acho que isso deu base, hoje por exemplo, nós somos…eu encontro a maioria dessas pessoas. Gande parte

 

 

2’

dessas pessoas que eu me relaciono e que é dessa época  são pessoas muito, são comprometidas com a vida social, independentes até das opiniões de posições partidárias, ou qualquer coisa, são pessoas, essa palavra não é pra gente, mas são pessoas que tão assim vive com dignidade, com modéstia mais com dignidade. Então você tem o adiel foi evangélico, mas adiel é um cara extraordinário de correto

 

 

2’30’’

também. Genaide tá até hoje conosco, isac continua até hoje conosco…é…carlinhos continua, alceu…alceu é da polícia civíl é um cara extraordinário, um monitor, uma visão humana super bacana e é da polícia civíl e tá lá…e acha que omundo podia ser melhor mesmo, que a gente tem que cuidar um do outro mesmo. Laurinho, laurinho é um negro, bem negro..então o que acontece, o laurinho hoje é um dos mais articuladores nosso

 

 

3’

do chat nosso dos amigos antigos assim, porra, contando as histórias. Carlinho..é…amilton..é hélio; flitz, lucinha, sonia, esse pessoal todo a gente continua se encontrando e batendo papo, cada um com uma opinião mais todos com uma vida modesta no sentido de você viver bem e ao mesmo tempo com muita dignidade. Saber reconhecer no outro as suas diferenças.

 

 

3’30’’

Eu acho que nós trouxemos isso pra década de 70 no sesi. Eu tenho uma profunda gratidão a esse ambiente daquela…mesmo no regime militar, nesse sentido de você ter encontrado esse grupo de pessoas e ter feito tudo isso aí…pra mim foi bacana.

 

 

4’02’’

é…tradicional…é…(risos)…

 

4’30’’

olha eu to assim, tudo que eu faço hoje ainda chico, eu já to com sessenta anos. Eu comecei a participar de alguma coisa socialmente no brasil em 74, então to a ais de quarenta ano de alguma forma participando socialmente. Eu sempre fiz as coisas, eu sempre fiz. No regime militar autoritário qe abusou muito como todos nós conhecemos na história

 

 

5’

do brasil, e hoje que do ponto de vista do momento que a gente vive historicamente, você tem coisas aprovadas por dentro de um congresso publicamente, teoricamente, publicamente com as imagens de televisão, com a mídia ninja, com tudo, e o que acontece? Isso se relaciona, isso é…acaba e dar a essa exceção, e tira alguns direitos que nós conquistamos desse período de 79,80 até agora.

 

 

 

5’30’’

Especialmente da constituição de 88 pra cá. Então eu vou continuar fazendo, eu não estou como pessimista da sociedade brasileira, eu estou com a opinião, a reflexão que a sociedade brasileira não está passando um momento bom. Então ela passa um momento de muitos perigos. Mais não estou pessimista. Não estou pessimista por que? Porque eu vou continuar fazendo como eu sempre fiz. E acho que nós devemos continuar o que nós tamos fazendo aqui agora. Não é relembrando pra viver

 

 

6’

o saudosismo mas é como é que tando esse passado, que nós tamo conversando aqui, e esse presente e ao mesmo tempo nós vamos continuar fazendo coisas socialmente. Uma diferença, mais sustentável, mais atento as coisas que a gente não foi atento num primeiro momento. Nós não tínhamos que comparar, vamos dizer assim, eu não tinha a quinze anos atrás com o que comparar. Hoje nós temos com o que comparar.

 

 

6’30’’

Que é a nossa história, que foram as nossas conquistas dessa geração, é..que foram os erros que foram cometidos nesse processo, que não são poucos portanto nós temos regras pra…aí eu tô vendo assim, não vejo com pessimismo, vejo como um momento muito perigoso, muito perigoso do sentido de que perdemos direitos, que há um autoritarismo no sentido não tradicional, mas há um autoritarismo, uma relação autoritária com a sociedade

 

 

7’

a medida que é aprovado de forma é…por um grupo de pessoas que não tem um compromisso, uma responsabilidade com esse processo histórico. Então…agora não sou pessimista não. Eu acho que nós tamos, vamos viver a fazer coisas que nós tamo fazendo aqui. Batendo papo, conversando, contando a história e vendo o seguinte “vamos continuar”. Nós não vamos parar. Nós vamos continuar ampliando a nossa afetividade, nós vamos ampliar

 

 

7’30’’

corrigindo os erros. Nós vamos continuar corrigindo os erros. Nós vamos continuar fazendo as coisas com amor, com alegria. Nós vamos continuar fazendo as coisas com prazer. Eu acho que isso vai ser…é o momento pra fazer isso. Não tô achando que nós vamos perder todas as cabeças, que nós vamos perder a coragem de enfrentar, agora nós vamos enfrentar diferente.

 

 

8’

Nós enfrentamos com o mobilizações, enfrentamos pedindo constituinte, enfrentamos pedindo eleições, eu acho que nós vamos enfrentar talvez fazendo isso e nós vamos enfrentar e ver o seguinte “olha, tem outros passos a dar. Tem outros espaços na sociedade que são muito sadios pra se fazer política”. Espaços efetivamente no movimento estrutural, espaço efetivamente no movimento cultural,

 

 

8’30’’

efetivamente no movimento ambiental, espaço efetivamente no movimento de gênero, conhecimento de gênero, porque eu acho que essa é a nova cidadania que nós resgatamos, nós conquistamos e em determinado momento podemos perder de direitos coletivos, mais a gente perde os direitos na lei, mas a gente não perde o direito de fazer, no fazer. Isso eu acho que vai ficar, então eu não to pessimista não, sinceramente.

 

 

9’

reconheço o golpe enquanto decisão política de um grupo que pela primeira vez nem a história de 74 e nem 68 não foi assim não. Nesse momento tem explicitamente o setor empresarial, a indústria e do comércio dizendo como é que deve fazer com a economia e outras áreas. você tem o setor da comunicação explicitamente

 

 

9’30’’

dizendo o que deve fazer e como deve fazer e por que deve fazer. E você tem um congresso muito mais cúmplice. Isso é um negócio que a gente, que é diferente. Por outro lado, o lado de cá, eu falo do lado de cá. Nós temos um movimento mais amplo, uma sociedade mais porosa e eu acho que nós temos uma coisa também que nós não tínhamos a trinta anos atrás que é muito importante. Nós tamos passando por um momento que a sociedade de rede que existe.

 

 

10’’

Que a sociedade de rede que existe e a sociedade de rede que aparece. Ela é bem mais subterrânea do que foi na época. Essa que não aparece é que eu acho que é a transformação mais importante porque ela tá mais enraizada. Eu tô, eu tô…nesse caso eu sou otimista. Vou continuar fazendo as minhas coisas. Não vou parar não. (risos). Segue. Não vamos parar. É uma turma que vai cair na depressão, eu não vou ficar deprimido não,

 

10’30’’

não estou. E a turma tá “ah, porra e agora?”. Eu não, tem nada de deprimido.

 

 

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Tem vários, naquela época nossa tinha muito pouco, mais eu acho que agora tem mais. Por isso que…

 

 

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Parece até…tava falando aqui com o Chico, temer, gedel, padilha, apareceram hoje.

 

 

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filmagem do bar

 

 

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filmagem do bar

 

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filmagem do bar

 

 

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pergunta la pro manzati, cade o carroça? Diz que ce veio pra ver o carroça

 

 

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Essa viagem, a viagem…viagem daqui pra frente. Algodão trouxe o carnaval de olinda pra nós. Quando a gente ia brincar o carnaval em olinda todos chegava e “opa vamos pra olinda”. Aí algodão veio de olinda pra cá e chegou aqui e disse porra que que vocês vão fazer em olinda?

 

 

30’’

Vamo fazer um carnaval aqui. Aí começou o carnaval aqui, mamae tagua, menino de ceilandia, e outras coisas que vieram aí…o menino de ceilândia cresceu, já tem um bocado de filho. Mais fala como você veio parar em brasília, algodão. Eu não lembro. (risos) foi acaso do destino.

 

 

1’

A gente veio numa, a primeira vez foi numa excursão…uma temporada que nós viemos fazer aqui com o espetáculo história de bem querer, com a ceiça, fofão. Aquele espetáculo que a gente brigada que só a porra dentro da empanada. O pau comia. Brigava mais que os bonecos. Os bonecos já brigava muito

 

 

1’30’’

…era engraçado…nós viemos fazer uma temporada aqui onde era o galpãozinho, o antigo galpãozinho, onde é o espaço renato russo hoje. Histórias de bem querer.

 

 

 

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E depois fomos pra curitiba daqui. E aí eu fiquei com aquele, vou voltar pra morar aqui, achei bem bonita, espaçoso, e aí teve oportunidade com o chico. Foi passar um carnaval em olinda e falou vamo pra brasília, eu falei vamo. Porque Algodão já construía bonecos, já brincava os bonecos

 

 

30’’

enfim. Tinha sido menino de olinda, guia turístico em olinda. Contava aquelas história pros turistas, recebia turista e tal e tal. Que era o máximo. E eu não entendia por que ele queria deixar aquilo lá e vir pra cá, porque a gente tudo aqui queria ir pra lá né, e alguma coisa ele viu aqui que a gente não viu. É isso que eu sou intrigado até hoje. O que o algodão viu aqui que a gente não via na época.

 

 

1’

Que bem que trouxe a brincadeira. E chegando aqui como é que foi pra você? Foi um horizonte. Horizonte. O horizonte aqui era muito irreal, pra minha pessoa assim. Pra minha realidade. Totalmente diferente do que eu já tinha visto. Então isso me fascinou. O céu, essa longitude que Brasília traz. Isso me apaixonou demais.

 

 

 

1’30’’

A infinitude do horizonte. Aquela poeira vermelha também, essa poeira vermelha que tinha muito. Eu morava na m.norte néh, não podia nem abrir as portas. Tinha que ficar dentro de casa o dia todo, não podia abrir as portas. Era duas épocas, a época da lama e a época da poeira né. Mais essa ideia de fazer o carnaval,

 

 

2’

fazer bonecos gigantes, fazer as coisas que tinham lá em olinda? Cacau senta aqui do lado do angel, por favor. É porque eu lembro bem, eu lembro bem quando ele chegou, ele chegando. Ele menino chegando. Eu lembro dele assim. Eu me lembro que ele foi lá na rádio cultura, trabalhava lá, e pra mim ele era o algodão, pra mim ele era o algodão.

 

 

2’30’’

Sempre foi o algodão do grupo e tal. E aí o carlos marcelo que era…que foi entrevistá-lo falou bem sério “como vai aguinaldo?” nunca esqueci disso. E eu ficava rindo, não consegui mais ouvir o que ele falava, achei a coisa engraçada do mundo. Acho que ele te pediu sei lá, pra falar sua trajetória porque você ia apresentar. E aí aquilo me impressionou também muito porque assim depois que eu fui lá pra rádio me distanciei um pouco do movimento. Eu não lembrava mais

 

 

3’

da relação dele com os bonecos e tal. Então ouví-lo dando aquela entrevista, o aguinaldo, aguinaldo eu conheci um outro aguinaldo. Foi tão bacana aquilo, não sei se você lembra? Lembro sim. Tem muitos anos, lá no teatro nacional. Sim, lá embaixo. Então já foi um pouco depois, não tão depois assim. Eu fico bem perdida nessa coisa da..;já foi depois,

 

 

3’30’’

depois assim, já tinha um tempo já…eu já estava aculturado aqui. Já tinha uma..uma vida aqui sim. É…tinha filho inclusive. Minha filha já tinha nascido. É…olha só, a história veio e ela surgiu pela necessidade de.

 

 

4’

da ideia de enraizar culturalmente um carnaval aqui nessa cidade porque não existia, teoricamente ele não tinha. E a necessidade que as pessoas tinham de sair daqui pra ir pra outros locais porque não havia essa…essa cultura carnavalesca, era muito mínima, muito fraca. Quando você entrava assim nas escolas de samba, nos blocos de enredo, muito poucos também.

 

 

4’30’’

e…foi essa necessidade exatamente de criar um carnaval substancioso parecido com o que eu conhecia. Um carnaval de rua, um carnaval mais popular, mais aberto, uma frequencia de rua, foi essa necessidade. Mamãe Tagua. Porque em olinda a gente já tinha feito, a mamãe olinda.

 

 

5’

Foi um projeto que eu participei junto com o fofão que saia no reveillon que aí tava com essa ideia a cabeça de mamãe olinda, de criar o mamãe taguá também porque tem uma coisa a ver com taguatinga. E o menino de ceilandia com todo, a quantidade de menino que tem lá naquele trem, eu não achei outro nome, entendeu, eu falei “caramba, tem criança demais

 

 

5’30’’

nessa cidade, tem que ser o menino de ceilândia”. Eu lembro que nessa época ceilandia era o lugar que mais nascia criança no mundo, no mundo ceilândia era o lugar que mais nascia criança. Então nascia por minuto não é…e aí o algodão…O correio braziliense fez uma série de matérias sobre isso e também e…sobre a idade também das crianças, crianças que eram mães. Na época surgiram crianças de doze anos acho

 

 

6’

o correio braziliense achou, meninas que tavam grávidas. Então eram crianças pais de crianças. Foi na mesma época exatamente…O menino de ceilândia. Hoje são dois blocos de carnaval, assim já são tradicionais, então o algodão pra mim é criador de uma tradição

 

 

6’30’’

né…essa coisa de tradição parece que só vem de trás né? Não, tradição ela pode começar agora e o algodão com essa sacação né, criou essas tradições aqui o mamãe taguá e o menino de ceilândia, que hoje são blocos, enfim, referências tem muita coisa. já não precisa as pessoas ir pra olinda pra passar o carnaval, pode brincar um bom carnaval aqui também.

 

 

7’

Você trouxe sua própria tradição pra cá e não se afastou dela né? Enriqueceu e encutiu na gente daqui essa ideia, que é uma ideia autêntica, original, né. Carnaval aqui em brasília já tem uma raiz forte, já. Carnaval em brasília é muito forte.

 

 

7’42’

Eu pensei, o algodão vai virar carnavalesco aqui. O joãozinha de brasília. Mais eu fiquei um tempo mas é porque as escolas de samba aqui elas, como elas são muito tradicionais, tradicionalistas, elas não têm interesse, não tão abertas para novas ideias. Então por exemplo, a aruc que é uma escola,

 

 

8’

uma das maiores, eu tentei arraigar lá uma ideia, uma opção de carnaval pra eles, e ele não gostaram porque…inclusive eu…a nova diretoria que tinha assumido…eu fui taxado lá de trazedor de tudo que é coisa ruim pra escola de samba. Nós ficamos no vice-campeonato…nesse campeonato na escola de samba e eu fui culpado porque eu introduzi o azul, o vermelho

 

 

8’30’’

introduzi uma série de coisas na escola de samba que ela não tinha. Ela só podia usar azul e branco, então foi o primeiro ano que ela quebrou essa tradição do azul e do branco. E eles na verdade compram um carnaval…o carnaval deles vem da portela. Então tudo que a portela usa em 2005 eles usam em 2006, a portela. Então…exatamente. E houve esse conflito. Depois eu fui trabalhar em outras mas…

 

 

9’

que também muito difícil de favorecer ideias. Mais o que eu fiz foi criar blocos…tem blocos em várias cidades do goiás, mato grosso, blocos de carnaval, que eu criei em algumas cidades aqui. São muitos, uns dez mais ou menos, que hoje são tradicionais…catalão…aquela cidade que mataram agora o prefeito…itumbiara, aí vai, um monte de cidadezinhas que eu criei esses blocos.

 

 

9’30’’

Sempre com boneco né? Com boneco, eu dava oficina de com criar um bloco. Então eu saia da cidade e deixava um grupo lá, como botar um bloco na rua. Eles tocam os blocos até hoje. O centro disso é o boneco? É o boneco. E o mamulengo…sua brincadeira, o mamulengo saruê? Como é que tá? Como é que vem? Como é que vai? Como que entra nessa, nessa onda toda aí…eu tô dizendo isso, porque isso é de interesse pessoal, particular né.

 

 

10’

Brasília é a cidade que mais tem mamulengueiro fora do nordeste. É a cidade que mais tem mamulengueiro…e o mamulengo saruê, um dos primeiros, o mamulengo do algodão, que ele brinca e nós tamo é, enfim…eu to com essa curiosidade em saber como é que anda e como é essa relação do mamulengo, dos bonecos pequenos com os bonecos gigantes? Esse transito aí. Enfim, como é que vai a vida?

 

 

10’32’’

Então, o mamulengo anda tranquilo né cara. A gente vem fazendo aí, tenho participado de alguns festivais, mais…que que eu posso falar mais do mamulengo? É complicado…a gente anda numa certa dificuldade ultimamente, mas eu acho que é um processo de reestruturação do cultural aqui nessa cidade, brasília. A gente teve uma queda cultural muito grande

 

 

11’

em brasília do teatro…não falo nem conceitual, mas com alguma qualidade, com alguma referência cultural. O teatro passa por um mudança, uma certa mudança de conceito de público, eu acho. Essa coisa nova que tem aí que a gente não acostumou ainda, o stundup, essas coisas novas que tem surgido tem tirado muito a referência de teatro

 

 

11’30’’

como a gente entende, na palavra né. Eu acho que o teatro tem se transformado um pouco. Que aí afeta todo mundo, afeta toda uma qualidade, todo um processo, mas… não sei o que responder. Tá sobrevivendo? Sim. Tá beleza. O algodão sempre teve dificuldade, como alguns artistas, outros mais outros menos, de fazer da arte mercadoria, é só isso porque pra você sobreviver

 

 

12’

você tem que vender, como se fosse uma mercadoria. E o algodão sempre teve essa dificuldade, um artista mais conceitual que brigou sempre pelo que mais gosta, pelo que acredita. Então imagina comprar briga com uma escola de samba

 

 

 

 

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não é. Vai lá pra entro da escola de samba e compra briga com a escola de samba. Que é uma artista que tem um conceito e que discute ele….e o mercado não aceita bem isso. O mercado vai querer adequar o que você faz pra o que o mercado pode e quer vender também. Então essas dificuldades…artistas como o algodão vão viver e tão vivendo é…

 

 

30’’

esse conflito e essas dificuldades, as vezes, mesmo até econômicas por conta de finca pé mesmo, nisso. Então essa discussão que a gente também que fazer. Como..é…mesmo fincando o pé no que você, no que você gosta, no seu conceito você conseguir vender isso, colocar isso pra sociedade. Apresentar isso na verdade é isso. E o vender é esse, é como  você consegue alguma grana pra sobreviver e continuar

 

 

1’

fazendo o que gosta, pra não ter que parar de fazer o que gosta também porque não conseguiu colocar no mercado. Já que a gente não tem uma outra maneira de viver dentro dessa sociedade, então tamos nessa discussão, nesse conflito e nesse…nesse conflito e nesse…nesse conflito e nessa discussão aí, as vezes uns vão mais outros vem menos nessa relação e…mais a gente precisa equacionar com todos, na verdade eu penso que é retomar

 

 

1’30’’

essa equação de tamo junto e vamos sobreviver juntos também, como foi no início. acho que o Everardo falou disso da diferença do que ele vê hoje pro que era quando a gente tava começando, né. Ele via mais unidade, ele via mais frate…afetividade, tinha afeto, ele via mais afeto, hoje é menos, é mais duro

 

 

2’

parece que é cada um por si, né enfim. Ele sente falta de um pouco disso embora ele esteja otimista e eu também. Mas eu penso em…que é preciso uma retomada, eu acho que essa crise que a gente tá entrando agora dessa ditadura de Temer e da elite, uma ditadura da elite vai exigir de nós, novamente

 

 

2’30’’

essa unidade, essa união, esse tá junto pra poder dar enfrentamento a isso. É o que eu tô vendo. E enfim, tô super feliz de você tá aqui, tá de volta, a gente fazer esse espaço dessas discussões muito com muito mais maturidade do que a trinta anos atrás pra que a gente possa tocar dessa forma, sem você abrir mão do teu conceito, da sua arte, né,

 

 

3’

…que você é um artista plástico, você é músico, você é ator, quer dizer você é um artista que domina várias linguagens e muito bem, que é lógico consequentemente tem dificuldade de fazer com que essa sua linguagem, essa sua visão de mundo se relacione com a sociedade de consumo como essa que a gente vive. Mais eu acho que em grupo e como foi né…

 

 

3’30’’

a gente retomando, eu acho que a gente pode melhorar. Também acho.

 

 

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Uma coisa assim da minha própria memória, aí eu fui buscar uns guardados, uns papeis pra eu entender porque… a gente guarda…a memória acho que não tem muito compromisso com a cronologia tem mais compromisso com o que mais te impactou, o que mais fez sentido pra você, como eu comentei aquele dia. Foi a primeira vez que eu vi o mar, aquela data eu não vou me esquecer nunca, né…agora eu nem sou capaz de lembrar, mais uma das coisas marcantes

 

 

30’

e eu dava certa como era um determinado momento e aí o miltinho me corrigiu e “não..isso foi depois” e eu “ah?”. Aí assim como o mosaico da nossa memória também tem um cronologia própria. Eu dando certo como uma coisa e aí ouvindo todos os depoimentos e você vai ver não foi bem assim. Na verdade a lógica do negócio é outra. Curioso isso, né? Eu fiquei buscando a minha própria memória, assim, o meu próprio

 

 

1’

registro, um cronograma, tal coisa em tal época, tal época e não sei o que, aqui foi usf, aqui foi recife, aqui foi não sei o que. Quanto mais você pensa nisso mais você relembra né?.

 

 

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O outro tá trabalhando então, a gente tem, ele tem, ele vai também adequando o que ele…e a gente também. Eu tava falando dessa oportunidade.

 

 

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A gente se conheceu em patos de minas, num encontrão que o magela organizava em homenagem ao irmão dele que morreu. Leno, se eu não me engano o nome, que era um agitador cultural e tal. E foi a primeira vez que eu conheci você, o paulo de tarso, a roma, uma galera. E eu era amiga da socorro né, companheira do magela desde aquela época, amiga do magela porque era militante do pt, e fui no encontro. Aí me entusiasmei

 

 

30’’

com essa ideia de ir com ponto e acabei entrando numa esquete, numa coisa assim que o Ciro de Morais tava organizando só que eu nunca tinha feito nada desse negócio. Conheci aquela alma maravilhosa, que eu amo até hoje. Ele tinha uma paciência porque assim eu tinha uma fala, sei lá, devia ser umas cinco palavras, mas eu não saía delas. Um negócio assim, chegava na terceira o ciro falava assim “não, tá ruim demais”. Só que ele não falava desse jeito. Aí fomos fizemos a nossa apresentação lá..

 

 

 

 

1’

não era que o esquadrão da vida…eu acho que era outro trabalho do ciro. Aí foi uma coisa assim do momento, assim…de juntar pessoas pra participar do evento lá. E eu fiquei muito impressionada porque eu não tinha essa vivência cultural. Ali foi uma explosão porque tinha muita gente, muitas coisas acontecendo. O ‘liga tripa’ foi no mesmo ônibus que a gente. Então foi assim, muito especial. Aí…até tava brincando aqui

 

 

1’30’’

cronologia zero. Mais assim foi antes de 86 porque aí, foi antes de 84…foi antes das diretas, alguma coisa, enfim, né? Nesse aí…84 a 86. e aí passei um tempo sem ver o chico, e aí comecei a namorar o david, irmão do chico. Aí nós nos reencontramos na casa de alguém que não me lembro quem. Eu como namorada do david e o chico

 

 

2’

chegando de uma viagem com a rose. E aí chegando da viagem, contanto as coisas, e eu não acreditei. Eu falei “nossa…to revendo o chico e ele ainda é irmão do david, e tal” nessa época eu era funcionária da polícia federal, eu tinha feito um concurso pro dasp que…e o dasp distribuía as pessoas nos diferentes órgãos. Como meu pai era policial então eles acharam que eu tinha vocação pra coisa, e fui parar na polícia federal. Aí na primeira

 

 

2’30’’

na segunda assembléia que eu falei né, que eu já era do pt, já era da direção do partido, e tal, tinha dezenove anos mas já era da direção do pt. Na época o pt era um partido provisório aí eles ligaram pro meu pai, era desse jeito, ligaram pro meu pai e falaram “óh, sua filha tá armando confusão, melhor cê falar com ela e tal” e eu nem, enfim. Aí foi esse processo de descoberta né, então assim, essa coisa da efervescência cultural

 

 

3’

que vem ser nessa viagem e depois nesse encontro com o chico definiu a minha vida assim de uma maneira muito importante, assim. Porque a cultura nesse movimento todo de alegria, essa efervescência e a militância no pt aí me levaram a pedir demissão, sair da polícia federal e de lá pra cá trabalhei sempre com assessoria e aí em outros momentos também.

 

 

 

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A boa vida que eu tive que eu considero maravilhosa, maravilhosa, assim…agradeço todos os dias as forças do bem por não ter continuado naquele espaço que era completamente doentio e…assim… uma vida maravilhosa, com amigos maravilhosos, com conquistas maravilhosas, quer dizer, tenho uma família.

 

 

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muito importante a sua participaçao nessa histora, que quando a gente alugou

 

 

 

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Então pela primeira vez na vida eu tive que separar porque era tudo junto a casa com a oficina e família era tudo junto, né. E pela primeira vez na vida eu tive que separar e como é que separa? Tem que arrumar um lugar, alugar pro afonso miguel, aí fui lá no mestre dico, no mercado sul. O mestre dico diz “olha tem essa lojinha aqui do lado, trezentos conto”

 

 

30’’

digo “ôh…maravilha. Afonso cê vai ficar aqui muito bem e tal”. Alugou lá e tal, ele tava dormindo lá em cima, embaixo era uma loja. Disse “é o que?” Vamos afonso, vamos fazer um espaço cultural. Então era teatro, oficina, invenção brasileira. Que aí que rolou esse negócio da homenagem ao mestre solom, talvez seria teatro oficina mestre solom.

 

 

1’

Mas tinha que botar um nome próprio assim, as pessoas não iam saber quem era e depois botou ‘invenção brasileira’. Aí chegou o invenção brasileira naquele lugar do mercado sul. Pronto. Tamo lá, afonso miguel com os hábitos holandeses, fumando muita maconha, todo dia. E bora, o que fazer? Aparece valéria e diz “vamos fazer um planejamento?” e a gente riu

 

 

1’30’’

“planejamento?” quer dizer, vocês não querem realizar algumas coisas daqui há dois anos por exemplo? Eu digo: “dois anos valéria? A gente não sabe o que vai acontecer mês que vem. Como é que cê vem falar de dois anos?”. Ela diz “não, não é assim, é só pra falar das coisas que vocês querem fazer e aí de como fazer o que vocês querem fazer.” Eu posso ajudar vocês nisso, eu trabalho com isso de

 

 

2’

assessoria e al. aí os papéis timbrados era da cut, vermelhinha. Eu, afonso miguel e valéria fazendo planejamento. Aí ela com aqueles negócio do método do planejamento. Aí eu..comédia, eu tava me divertindo, digo “esse negócio não dá em nada, esse negócio não funciona.” Mais quando foi entrando na conversa..então

 

 

2’30’’

você deseja isso, é…com quem você conta pra fazer o que você deseja? Aí eu opa, aí começou “tenho amigos”, aí começou ª..ah então tá, então vamos procurar os amigos pra falar disso?. Aí foi fazendo um planejamento mesmo. E foi acontecendo. E eu lembro que a ideia lá no planejamento a ideia era que cinco anos depois

 

 

3’

a gente tivesse um teatro de bolso naquele lugar. Era pra ser um teatro de bolso, porque era um sonho meu ter um teatro de bolso. Que eu pudesse brincar o mamulengo pras pessoas, poucas pessoas que chegassem. E depois…dois anos depois a gente já tinha um teatro de bolso. Ou seja, diminui três anos na projeção do planejamento a gente já tava realizando as coisas que a gente tinha planejado.

3’30’’

Então foi quando eu saquei que esse negócio de planejamento era sério, tinha a ver, porque funcionava. Se você lógico, perseguisse ali o anotado e avaliasse, funcionava, funcionou. Então foi valéria que fez…era eu e afonso miguel esse primeiro planejamento do invenção brasileira. Do que o invenção gostaria de ser.

 

 

4’

E assim foi. E assim tem sido né Chico? Então, tinha antes disso, tinha alguns momentos assim de participação esporádica no trabalho, as vezes de olhar um projeto, de fazer alguma coisa. Então, o que eu via

 

4’30’’

é que tinha um potencial muito maior, achava que…uma coisa assim que precisava ser organizada, sistematizada, porque assim tinha um potencial. E foi muito legal assim, porque de fato, eu lembro que eu vim de metrô, a dora tinha uns dois anos naquela época, deixei a dora e tal e vim de metrô. E pensando “como é que vai ser isso? Será que essa galera vai me levar a sério?” mais aí eu sou muito assim,

 

5’

determinada, e aí, achei assim que foi um instrumento muito legal, de algo que eu queria dialogar e que a gente conversava muito. Sentava no bar, sentava com a família e tal, conversava, mas assim não tinha esse momento. E acho que a partir daí aí vieram outros momentos de sistematização. A própria teia, todo o processo da teia eu acho que foi um processo de sistematização de muitas coisas, mais também do trabalho do mamulengo. Porque o mamulengo

 

 

5’30’’

se viu como ator social de uma maneira diferente, com outras responsabilidades, outro papel. Depois disso também assumiu outras tarefas, vamos dizer assim, um espaço cultural. Acho que assim, são momentos de sistematização que o planejamento é um deles, mas que depois você assimila essa necessidade de trabalhar de uma forma…a sistematizar…isso aqui que tá sendo feito

 

 

6’

eu acho que é o mesmo processo, né. São etapas de um mesmo processo e que eu acho riquíssimo. Porque imagina a riqueza que é pra todo mundo isso aqui. Muito importante. E aí assim, por exemplo, o trabalho do angel, do farid, quer dizer…esqueci o nome da…a nara…né, quer dizer, com toda essa tecnologia também, todo esse pensamento de comunicação

 

 

6’30’’

que aí…a ferramenta rudimentar que a gente tinha de planejamento com a chegada deles aí assumiu um outro patamar né. Mais pra mim isso, assim são momentos, contribuições do mesmo processo que é basicamente a sua decisão de trabalhar de uma maneira sistematizada, de ter memória. Talvez eu fico imaginando até motivado assim,

 

 

 

 

 

 

7’

pela falta de memória dos mestres com quem você conviveu, de tanta coisa que se perdeu, de tanta que se recupera aqui, numa roda como essa. Você já citou outros mestres. Então assim, é um processo, eu acho, de conservar também a tradição. Uma outra leitura da tradição.

 

 

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já pode fazer um planejamento. Ele tá com uma mala de bonecos.

 

 

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tá passando por um processo de ….

 

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Tava falando com o Fabinho: fiz um trabalho agora esse fim de semana…

 

Bar careca – vídeo 29

quem fez isso aqui, aí no final, a avaliação do dirigente lá, mais assim, idoso, ele falou assim: “Olha, foi tão bom, porque a gente está acostumado a ouvir, e dessa vez a gente que falou pra você”. Pois é, é isso aí, e tem muito a dizer; é muito, muito interessante.

 

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Se você tá caminhando na direção do que você deseja, ou não, e ter pessoas pra ver de fora e pra dizer e pra te fazer pergunta, desculpa, eu tinha esquecido, eu tinha esquecido, então a gente podia tramar um…

A memória seletiva.

 

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Muitos diálogos incompreensíveis ocorrendo ao mesmo tempo

 

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Idem

 

ib30-bar_careca-33

Não há áudio a ser degravado

 

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Idem

 

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Idem

 

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Idem

 

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Idem

 

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Idem

 

 

ib30-bar_careca-39

Inaudível

 

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Idem

 

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Não há áudio a ser degravado

 

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Idem

 

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Idem

 

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… esse fim de semana e aí a Luciana e a Mariana…

 

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Não há áudio a ser degravado

 

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E aí, queridona, como é que você está?

Joia.

Então tá bom.

E essas bananas?

Hoje tem banana.

 

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Não há áudio a ser degravado

 

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Idem

 

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Idem

 

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Idem

 

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Idem