Entrevista – Joaley Almeida – Invenção Brasileira 30 anos

|< VOLTAR PARA LISTA DE ENTREVISTADOS

ib30-joaley-01

sou  joaley almeida,

sou ator, brincante, artesão, brincante de cultura popular, ou vivenciador de cultura popular, ou o nome que queiram dar

tenho 36

sou artesão de cultura popular, bordado, pintura, essas coisas…

e desenvolvo vivências com.. intercambios culturais com manifestações populares de pernambuco

0100

em pernambuco, especificamente, por que meu primeiro contato foi aqui, com um grupo de que veio de lá pra cá, com o carroça de mamulengo,  eles trouxeram um grupo de reizado, eu senti um chamado muito forte, essa coisa de entender…

 

mas eu tava com um trabalho com um diretor de teatro espanhol,  com uma companhia de teatro La Caza Incierta, e fui pra espanha e lá senti um contato mais forte com …

o quanto peculiar é nossa cultura e o quanto é importante a gente cultivar ela.

 

na volta, tres meses depois, eu fiz esse mergulho dentro do ceará, em juazeiro do norte, e bem perto, né?….

ceará, no fundo de pernambuco, juazeiro do norte, crato, barbalho, onde experimetei reizado, e o contato com pernambuco foi, na volta, eu entrei em contato com a criação do seu estrelo, vi algumas apresentações dele, e me interessei mais por essa coisa da zona da mata pernambucana,

 

paralelo a isso, também tem essa ligação com o mamulengo daqui, que tem essa ligação com o mamulengo pernambucano.

 

então, o proximo passo depois do ceará, foi pernambuco, através indicação de chico simões, que era o artesão mamulengueiro Zé Lopes.

Eu fui pra lá passeir 3 meses com ele, esculpindo e brincando com ele.

 

0300

é uma escola bem … vamos dizer auto didata…

não tem um método, e o método é a observação.

no meu caso, eu fui sem grana.

quando eu fui pra vivenciar essa família, do carroça de mamulengo, eu fui sem grana.

 

eu tive que ficar dependendo da família e trabalhar pra ela.

isso, em vez de ser um negativo, foi um positivo… porque me fez vivenciar mais tempo.

depender e passar mais tempo do lado deles.

isso abre outros canais de comunicação.

0400

para zé lopes, também.

eu tinha 200 reais, peguei uma passagem de 150 e passei 3 meses do lado, depdnendo dele, vivendo na oficina dele.

lixando boneco pra ele,

fazendo todo serviço pra ele, desde cavar uma cisterna pra ele…

 

e isso cria outros canais de comunicação.

o fato de ter fica 3 meses sem grana, sem poder me locomover, fez com que eu observasse mais a arte dele.

pássasse mais tempo e observasse a arte dele.

po, eu tava sem grana, comendo da comida dele…

então isso fez que com eu fosse obrigado a absorver o conhecimento e mostrar resultado nos trabalhos que ele me mandasse fazer.

0500

todo o resto das vivencias depois desse tempo… que houve um respaldo financeiro, comecei a trabalhar com mamulengo, e em alguns momentos aprovar alguns projetos… foi acompanhado dessa experiencia anterior…

 

o tempo que se passa, de observaçaõ maior, e o trabalho conjunto com eles…

por exemplo, se eles bordam, bordar junto com eles.

se eles cavam cisterna, cavar junto.

 

isso dá uma aproximação e um entendimento mais amplo, mais integral… do brinquedo e do que eles fazem.

 

ib30-joaley-02

 

o mamulengo em si…

esse teatro de bonecos é o que liga todos, mas são bem diferentes entre si.

por exemplo, o carroça de mamulengo, ele trabalha todos os elementos, por exemplo a musicalidade, a dança, a questão do pife, a questão do roçado, de trabalhar na roça, de pegar a mandioca, fazer o bolo de mandioca… que era o que acontecia na união dos artistas da mãe de deus.

 

o mamulengo é só um elemento dentro de todos os outros elementos, de todas as outras linguagens que essa família domina.

cada filho domina mais uma linguagem

o francisco domina o pandeiro, o antonio a poesia e musicalidade do pife, a maria o canto e a maestria dele.

o carlinhos babau com o mentor, como o cara que direciona….

 

0110

o mamulengo de zé lopes… o que eu aprendi, consegui observar…

 

ele é um ótimo mamulengueiro, tem a questão ritmo porque tá na região, só que ele leva mais pela genialidade do artefato, de fazer o boneco.

 

entao, ele é um mestre que brilha mais na questão da confecção…

 

então, se você vai viver com zé de vina, você toda a maestria do manipular do boneco.

ele tem um otimo repertório musical, ele coordena a musicalidade dos músicos do lado de fora, ele conversa muito bem, cria, com uma genialidade que só ele tem.

 

o zé lopes, constrói com uma genialidade que só ele tem.

 

o chico simões, que é o cara que firmou essa cultura aqui, já é um pouco diferente.

o eixo é o mamulengo, é a manipulação, a brincadeira limpa, bem estruturada, toda bem feitinha…

já é outro ponto de vista da brincadeira.

é outro angulo da brincadeira.

0300

se dentro do carroça de mamulengo, a gente tem o universo de todas as linguagens, a dança, a música, a poesia, o mamulengo, o reizado…

dentro de zé lopes ve a genialidade da confecção.

 

e dentro do mamulengo de brasília a gente vê essa coisa do acabado. da brincadeira bem composta… numa leitura romantica do mamulengo.

 

ib30-joaley-03

 

eu acho que… assim… ele falava do mestre antonio babau, mas ele não falava como fosse o único norte del.

com certeza foi o mestre inicial dele.

com certeza ele falava com bastante respeito, repetia frases, comparava com que esse mestre dele falava a um tempo atrás com o que acontece hoje no mamulengo…

 

0100

mas eu acho que babau sempre teve uma visão muito geral, ele nunca se.. pegou uma parte da linguagem da cultura popular e fez daquilo o eixo dele.

 

ele sempre comentava e mas como se fosse uma referência..

 

quando eu tava com ele, ele tava junto com mestre cachoeira, mestre nena, vários outros méstres de reizado, de bacamarteiros…

a minha convivencia de babau, o que eu aprendi com ele, era do respeito, a necessidade de viver mais com essas pessoas, de colocar eles como norte, como centro de sabedoria…

 

isso… foi o que babau me deixou..

independente se eu lembro ou não, isso já ficou marcado dentro do que eu faço… de como eu tento conduzir meu processo de aprendizado.

 

ele fala que é dentro da cultura popular que a gente vai encontrar saidas pra dificuldades sociais, pra questão da geração de riquezas, pra questão de análise crítica dos valores sociais brasileiros…

 

ib30-joaley-04

 

saúba, ele é eu acredito…

eu não convivi com ele tanto, como zé lopes…

passei várias vezes em capina, com o filho dele, e vi um pouco saúba trabalhar.

 

ele detém…

parece que o conhecimento intimista da coisa.

ele fabrica boneco que parece uma máquina, com um refinamento estético, que ninguém disserta sobre, nem ele consegue falar sobre…que é único dele.

0100

então, saúba é a fonte da fonte da fonte, que ninguém consegue chegar nele… porque…

é um pouco dificil o convívio com ele…

ele tem uns momentos de tá perdido, de não tá…

não tem ninguém perto…

no tempo que u fui pra lá, ele tava numa casa assim que… era impossível vc passar uma hora dentro da casa.

imagine conviver e viver.

 

o chão queimado, os bonecos jogados..

 

mas ele contém uma genialidade no construir, ele tem métodos de construção.

é coisa difícil de ter.

zé lopes tem, mas o método de saúba é mais eficaz.

 

ele tem todo desenho pra construir… o desenho de bícicleta, o matuto vai à praia… que eles chamam…

ele já tem um formatozinho, todo fechadinho…

 

todos os rostos tem um formato perfeito…

ele produz assim… ele produz 20 cabeças em 2 horas.

 

0230

é uma vontade minha de conviver com ele….

mas tive pouco contato pra falar mais.

 

eu vi pouca coisa, quem mais me falava de sólon era zé de vina, e eu assim…

não ouvi saúba falar muito dele, não.

 

não tenho muitas histórias de mestre solon. não posso dissertar pq realmente não convivi.

 

0320

o zé de vina falava mais de outros mamulengueiros do que de mestre solon.

 

ele falava de um tal de antonio de vitória de santantão, falava de um tal de zé da banana, onório, tem outros mamulengueiros que tavam em contato com … que na verdade não eram mamulengueiros, eram brincantes de cavalo marinho…

 

ib30-joaley-05

 

móises, a gente começou a trabalhar com o mamulengo presepada, quando tava com a loja aqui atras.

e era onde eu tava começando a aprender a esculpir.

conheci antes de ir pra zé lopes.

ele é um cara com uma genialidade pra artesanato fora do comum.

uma pessoa dificil de conviver, pq tem todos os seus processos anteriores, de infancia.

 

mas é um exímio artesão, cria coisas como ninguém… e cria por ele mesmo.

não é como eu, que eu crio em cima de uma referência, eu vi em algum lugar, crio alguma coisa mas a referência é bem clara.

 

construi algumas coisas juntos, passando um tempo trabalhando até bem, só que no tempo que eu fui pra zé lopes,  aí a gente já perdeu contato, ele já tava noutras referencias… outros caminhos…

 

0130

na época que eu conheci aqui, eu tinha acabado de sair do processo do galpão do riso, de samambaia, que é um grupo de palhaços, liderado por joão porto dias.

 

lá eu trabalhava com ele, e tinha uma referencia de zé regino.

que foi meu primeiro diretor de teatro amador.

 

no final do galpão do riso, eu vi uma das apresentações de chico simões, ali no teatro da praça, e depois, logo após, eu já fui praquele festival do sesc, a cultura popular e o trabalhador, que era o invenção que eles tavam produzindo,

 

que eles trouxeram o carroça de mamulengo, e grupo de teatro.

0230

aí, eu comecei a vir pra cá.

tinha oficina de percussão com caranguejo.

oficina de confecçaõ de bonecos… essa coisa que o inveção produzia aqui.

 

que foi meu primeiro contato com manufatura e tudo mais.

nesse intermédio, eu entrei em contato aqui e fui pra espanha.

 

e quando eu voltei da espanha a única referencia de cultura popular que tinha era aqui, o mercado sul.

0310

veio o grupo cabulético, a gente passou um tempo junto… o convivio com moisés… depois a viagem pra lá.

 

o invençao… era a referencia… era um porto seguro.

fazia as viagens, aprendia alguma coisa, voltava e entrava nas atividades aqui.

voltava a viajar, ia pra paraty, passava uns 6 meses, voltava e a referencia era sempre aqui.

 

0400

foi o início de aprendizado, de convívio, das primeiras experiências…

uma coisa conturbada, pq era todo mundo muito jovem, todo muito cheio de si, num sabia metade do universo de cultura popular e já se achava, por aprender tocar um tambor..,

mas foi uma experiência boa.

era o inicio, né?

chegamos a nos apresentar no teatro iara amaral do sesc.

eu tava compondo…

a partir dessa experiencia, do cabulético… foi um fertilizante.

ja tinha essa coisa da poesia, quando chegou o ritmo e a poesia do coco, do reizado, eu comecei a escrever nessa linguagem…

 

mas foi um ponto importante, pra aprender a conviver, pra sair buscando.

 

é sempre importante um ponto de apoio..

eu sempre tive dentro de mim a ideia: eu não vou conseguir aprender aqui.,

o que eu quero aprender tem que ser lá.

mas sem essa base, seria impossível fazer o translado.

 

até pq quando vc passa muito tempo lá, você fica meio perdido…

aí, voce precisa voltar pra estabelecer de novo o chão e aí, falar, eu tenho força de novo.

 

0600

(paraty)

pra paraty, foi eu, thiago, ulisses que era um ator, poeta…

um cara que esqueci o nome, tinha um projeto sobre agua…

e quando a gente chegou em paraty, eu e tiago começou a apresentar na rua.. eu tinha uma mala com poesia, tocava pife…

eu e thiago se juntou pra apresentar nos restaurantes…

eu chegava com uma poesia, tocava um pife, thiago chegava com o ventríloco,

 

foi um periodo muito fértil, pq dava dinheiro, a gente conseguia sobreviver…

0700

e a gente via vários outros artistas se apresentar na rua.

gente da argentina, da america latina, brasielira, espanhol…

alguns se apresentavam dentro de restaurantes, alguns se apresentavam na rua…

 

eu comecei a conviver com 3 argentinos numa casa, a gente dividia aluguel…

foi um periodo bem importante pra amadurecimento…

o thiago voltou com 3 meses, eu fiquei 6.

 

nas viagens, sempre tinha essa coisa: eu preciso ficar mais, aprender mais.

 

nessa viagem pra paraty, foi que eu percebi que precisava esabilizar mais financeiramente .

 

parou o período de férias, eu fiquei 3 meses, até o outro periodo de férias, alugando caiaque na praia.

então, era acordar de manhã, ficar olhado aquela calma, que é baia, né?

e você pensa… a vida precisa mudar.

0820

e eu voltei mais com gana de trabalhar mais fixamente.

foi aí que comecei a trabalhar com o mamulengo presepada, nessa oficina que ele montou nesse lado aqui.

tinha um pequeno cubiculo.

o thiago tava fazendo uma tolda de bambu, ele não conseguiu terminar, ele não tinha tempo.

 

o chico passou essa tolda pra mim, e eu comecei a trabalhar na confeção e eu pude direcionar o conhecimento que eu tinha pego com zé lopes.

 

0900

confeção, eisso e aquilo.

aí, no periodo, a gente fez o invenção – arte e oficios, que era oficina de vicente pires, onde a gente desenvolveu toldas, toldas sem parafuse, desenvolveu confeção… uma tolda toda pintada de cenários de cidades antigas…

 

compor o cenário do mamulengo…

saindo da tolda que só esconde o bonecqueiro, pra uma tolda que é um cenário, que é mais volumoso, tem mais elementos, tem brilho, pra complementar a brincadeira.

 

ib30-joaley-05

 

chico, depois daqui, depois que ele mexeu na oficina aqui, ele o irmão alugaram uma casa grande…

o irmão fazia advocacia, e ele fazia a sede do mamulengo.

 

o chico tinha alugado um apartamentozinho aqui no mercado sul, pra mim morar, e eu ia trabalhar lá.

ele também hospedava outras pessoas que passavam… um amigo que era músico…

então, depois ele me chamou pra fazer uma oficina lá.

 

num quarto nos fundos, a gente começou a montar a oficina lá. também virou meu quarto.

0100

a ideia do inveção artes e oficios, era rabalhar construçãoes de cenários isso e aquilo envolvendo confecções tradicionais, bordado… as confecções das fantasia de caboclo de lança.. um dos produtos foi essa tolda toda bordada…e representa também as fitas do lanceiro do caboclo de lança…

 

como a gente chegou a essa ideia?

nas viagens, a gente convivia muito com zé lopes, e zé de vina também.

nas idas a pernambuco, a gente percebia que o como ele fazia a composição dos elementos de outras brincadeiras, a franja do caboclo de lança…

ele tinha a pura liberdade de pegar a coisa dos outros brinquedos e colocar no mamulengo dele.

é claro, sempre com uma sensibilidade de saber que um brinquedo é um o brinquedo é outro.

0220

o invenção artes e oficios nasce com desse desejo de montar uma oficina, que se seja  ponto de visita do mamulengo presepada.

a ideia inicial é que seja bem decorada, e espaço de confecção, esse espaço de direcionamento do que era aprendido em pernambuco, nas vivencias de pernambuco.

 

ib30-joaley-06

 

o mamulengo já tinha essa especie de tolda, que era articulada.

 

e a parte de cima de parafuso, e era madeira.

aquilo se quebrava muito facilmente.

 

as primeiras brincadeiras de chico tinha isso como marca…

tinha que consertar..

e borboleta sumindo…

 

mas era um equipamento eficiente que o mamulengo tinha.

 

no convívio com mestre zé lopes, eu vi ele fazendo tolda de diferentes maneiras..

 

tem que ter um triangulo na frente com ose fosse uma casa tradicionais,..

 

mas eu via ele trocando as madeiras por madeiras mais leves, usando ferro.

as vezes, uma coisa que zé divina usava uma tábua pesada atrás, ele usava pano.

 

com zé lopes, eu fui vendo que a coisa não é fixa, pode modificar.

claro, tem um desenho básico que vc respeita, mas pode modificar.

 

quando thiago trouxe a tolda de bambu, tudo teve que ser mudado.

o bambu tinha que aparecer do lado de fora…

não dava mais pra colocar uma madeira…

as coisas foram se solucionando, usava elástico…

um pano… eu tinha acabado de voltar de paraty, as casas antigas tinham ficado na minha cabeça, eu peguei o pano branco e imaginei pintar o cenário das casas antigas, do brasil colonial…

0250

se o cenário é mesmo dentro, pq não pode ficar do lado de fora…

já que a tolda tá no meio da praça, não só as pessoas que tão vendo da frente pode ver?

 

o chico veio com a técnica portuguesas dos panos, de onde sai o boneco?

pq esses panos são só azul, não pode pintar uma casa na frente dele?

isso foi lidando com o tempo.

a tolda de bambu não teve parafuso…era só de encaixe, de caixeta, uma madeira fácil de esculpir.

0344

a partir dessa primeira tolda as outras foram se desenvolvendo.

a de bambu era pesada, aí a gente precisava de uma mais pesada..

vamos fazer de alumínio…

começamos a desenvolver de aluminio com encaixe, tivemos a ideia de usar os imãs de geladeira… os clecs..

isso em casa de ferragem tem um monte…. a gente só tentou adaptar.

 

0420

quando a gente fez a primeira, ela funcionou mas não funcionou tão bem.

o moises já fez uma segunda totalmente articulada.

e depois, o moises, eu fiz uma ultima pro mamulengo presepada lá em olhos dagua…

e quando o diogo, que trabalha com thiago, viu, ele já montou outra totalmente diferente.

 

ele já começou a utilizar varas de barracas, que dava pra torcer… ficava redonda, em vez de só as quadradinhas…

então, é um desenvolvimento bem coletivo.

um desenvolve e outro vê e ‘vou desenvolver melhor’..

é uma busca e tá só inicio…

 

ib30-joaley-08

 

0030

eu sempre tive uma ideia fixa: conviver com o pessoal de lá.

eu aprendi com babau… mas já tinha essa ideia aqui.

 

tinha alguma coisa fixa que eu precisava compreender a coisa lá na fonte, pra pegar ela, pegar a ideia e ter elementos puros pra trabalhar.

0100

isso vem um pouquinho do egoísmo, que todo mundo ser melhor que todo mundo…

isso era uma forma de eu ser melhor do que as pessoas que tavam fazendo aqui, era aprender na fonte, pq babau aprendeu na fonte, chico apŕendeu na fonte…

então, eu tinha que ir pra fonte também.

 

é meio que uma corrida, assim..

que em determinado momento parece megalomaniaco… ah, eu tenho que ser melhor,

mas em outro momento, é benéfico, pq faz você correr atrás de coisas por si.

 

e isso vai criar alguma coisa no seu trabalho que te sustente.

eu tinha uma ideia de que eu precisava me sustentar do que eu faço.

pra eu me sustentar com aquilo que eu amo, eu preciso fazer isso bem.

 

quando eu cheguei do nordeste, e aí, fui convivendo com zé lopes e com o maracatu, isso e aquilo

0200

eu percebi que a confecção que eles fazem, já tinha os elementos que a gente precisava.

 

e eu tinha que correr um pouco na contramão, daquilo que a modernidade traz: pŕecisa ser rápido, precisa ser super leve…

peraí, tem que ter um equilíbrio… mas não pode tirar a beleza de um bordado.

 

tem que ser leve, mas por ser um brinquedo antigo, e eu via na brincadeira de chico algo clássico…

diferente das brincadeiras de walter, de thiago, eu via na brincadeira do chico essa coisa clássica, a tolda precisava ter esse peso, esse peso clássico.

0300

po, que um espectador olhasse, e só de olhar percebesse: tem alguma coisa diferente aqui.

então, o que é que traria esse clássico, esse peso?

a confecção tradicional. pq ela tem por si, toda uma estética, todo um trbalho visual que vem de gerações.

naõ tem como eu chegar aqui e inventar do nada.

eu preciso beber e reproduzir ipsis literis o que é a tradição e através da reprodução é que vem a produção.

por exemplo, esse estandarte, ele é a ipisi literis como é feito o trabalho lá.

ele tem a parte de cima que é o cortinario.

tem a parte do meio que é o escudo.

tem as abas, que faz parte, que cai do que eles falam que cai do cortinado.

tem a parte de baixo…

0400

todos esses elementos eles não são criados do nada.

a tradição do maracatu constroem com todos esses elementos.

claro, eles tem a liberdade de modificar, colocar um cortinário diferente… mas ninguém vai passar por cima.

pode ser o maior artista… mas um artista genial, ele nunca vai passar por cima do conhecimento de uma geração.

eu sempre tive respeito pelo conhecimento que a geração da tradição trazia.

 

então, o caminho do invenção arte e ofício, do mamulengo presepada, foi um berço onde foi possível fazer esse experimentos.

 

0500

que é uma coisa que tá iniciando…

tem muitos artistas que já criou anos luz a frente…

e a gente precisa perceber uma coisa:

a tradição já inventou 2, 3 anos a frente.

essa coisa de dizer que ela é tradicional e essa ideia .. que bate quando escuta a palavra tradicional e refere a coisa antiga, ela não existe. é uma ilusão.

 

e é uma forma do sistema de encaixar, colocar ali como se fosse arcaico, antigo, pra gente não ver a riqueza dos nossos mestres.

e a gente quer colocar nosso trabalho autoral na frente do que é o tradicional.

 

0600

mas primeiro é o tradicional.

quem é o autor disso? os mestres.

que é o aprendiz? somos nós.

 

se a gente respeitar essa procedencia, a gente vai criar coisas bonitas.

senão, a gente vai criar coisas fracas, com símbolos desvirtuados, que não compreende a força do símbolo primário…que foi aquilo que o mestre recebeu lá trás.

 

ib30-joaley-09

 

eu num posso falar do começo do seu estrelo, pq eu vi 2 apresentações…

eu achei intrigante. achei ridiculo algumas coisas… mas tinha uma coisa muito forte.

 

então, alguma coisa eu recebi de influencia ali, e fui pra pernambuco e me desliguei.

vi e me desliguei.

 

essa coisa do cavalo marinho que o seu estrelo trazia, ficou muito forte gravado.

 

e eu não sabia que o mamulengo tinha uma ligação com o cavalo marinho.

 

eu só posso perceber assim:

0100

o seu estrelo, e o tico, que é um mentor do seu estrelo,

teve contato com a cultura de pernambuco, a fundo.

 

ele foi vivenciar, de uma maneira de bordar do lado dos caboclos, de escutar as histórias do caboclo de lança, as macumbas, as fantasias… taltal

 

quando ele veio pra fazer o grupo aqui, ele não veio só com uma forma de dançar, ele não veio só com o toque de alfaia, só com uma musicalidade.

 

ele veio com parte do imaginario coletivo daquele povo. que vc só absorve com o convivio. que é a tradição oral, ela só é repassada com aquele que convivi durante longo espaço de tempo e com quem você troca relações fraternais.

 

que não é só palavra que tá sendo passada… quando um mestre conta uma história… que aprendeu bordado assim… que quando tava na mata ficou perdido… teve que deixar um fumo….quando foi buscar a madeira da guiada dele pediu permissão, entrou na mata, cortou a madeira, deixou na lama, depois foi buscar, queimou na lua tal…

não é só palavra…

 

existe uma bocado de informação sinestésica que vc só consegue absorver de um mestre quando vc tem proximidade afetiva.

0300

pq aí, você começa mudar seus valores internos.

 

pq no fundo no fundo… que é o objetivo, de tudo isso, de conviver com arte, conviver com o bordado, é o convivio pessoal, é o convívio humano.

quando a gente convive com essa galera, esse convívio humano faz com que a gente troque valores internos.

 

vc pode falar: meu objetivo na vida é viver bem, trabalhar 6 horas, ter umas férias tal, e com tantos anos ter uma aposentadoria tal… com uma casa..

 

esses valores vão por terra, pq a gente percebe que existe um outro valor que nos dá mais satisfação e pra isso, a gente vai sacrificar esse conforto.

0400

a gente pode ter esse conforto junto? pode.

mas se a gente sacrificar esses valores pelo conforto, os valores vão embora.

 

a gente não vai conmpreender o tesouro que é um conjunto humano criando cultura.

inventando e tendo acesso à mitologias, à conscientes coletivos que estavam já com os índios aqui no brasil, que vieram com os negros…

são conhecimentos que estão no … não é sobrenatural, mas estão além do material.

 

então, o tico, ele tinha essa sensibilidade.

quando ele juntou a galera, ele sabia que era importante tocar um instrumento, é importante dançar, mas ele sabia que o eixo de tudo, era a mitologia.

0510

 

por isso, ele criou um mito.

ele sabia que, po… eu preciso de um símbolo que represente o seu estrelo.

 

ele tá buscando esse conhecimento no terreiro.

pq terreiro trabalha com simbolo. trabalhao com estrela, com sol, com lua

essas coisas naturais, que quando a gente tá na cidade, a gente perde o peso do significado, pq são signigicados oníricos, holísticos.

 

e o tico vem e no mito, ele coloca tudo isso.

como vem?

como surgiu o mundo. deus era o som. ele começa a tocar, criou o universo.

ele começa a tocar, criou a terra, começa a tocar, criou a mata.

ele vai criando a partir do som.

0600

e isso, não foi tico que inventou.

isso tá dentro da mitologia universal.

se for pesquisar, alguns mitos universais, deus era o som.

 

no oriental, deus é o omm.

 

tico teve essa sensibilidade pra criar um mito, mesclando coisas e identidades do cerrado…

 

quando eu fui trabalhar com seu estrelo, ele já tinha … já era bem diferente daquela coisa que eu tinha visto.

ele já tinha criado a roda, e e criado os personagens e como os personagens entravam.

 

o tico, foi totalmente, no começo pra uma coisa diferente do cavalo marinho, diferente do maracatu.

0700

tinha a questão dos tambores, era um maracatu e tudo o mais… mas tinha outros cantos…

 

mas ele teve que voltar pra sabedoria da cultura popular… organizar a roda e os personagens, da mesma forma como o cavalo marinho.

organizar o tronco da mesma forma que o banco do cavalo marinho.

 

ele foi lá longe, pra ele voltar e constratar: realmente, a sabedoria popular tem uma formula, um formato que já feito, a gente não precisa modificar, a gente tem que aprender com ela.

 

e a partir daí que o seu estrelo começou a fazer a roda, a primeira, 2a, 3a… blablablablablabla

 

ib30-joaley-10

 

a necesisdade foi o que fez trabalhar com o mamulengo presepada. eu precisava trabalhar, o chico também precisava de alguém músico…

 

o chico tinha uma … um gosto em ver como é que eu buscava…

a primeira vez que fui pra zé lopes, eu nem avisei ningueḿ….

quer dizer, quando fui pra carroça de mamulengo, eu nem avisei ninguém.

 

quando ele foi lá e eu tava lá, ele falou.. po, você não avisou ninguém…

eu sempre vi no chico uma proximidade… ele gostava de como eu buscava… essa gana, repentino…

0100

e era meio louco assim…

passava necessidade, as vezse por nada.

nem precisava passar tanta necessidade… mas como eu vinha de uma realidade social que sempre passou necessidade, isso era normal….

 

então, quando eu voltava, o chico dava esse suporte, ele precisava de alguma coisa do músico, então começava ali a tocar pandeiro… mais por insistencia do chico do que por talento meu…

era envergonhado, não sabia falar com boneco, essas coisas todas…

 

0130

mas com essas viagens, essas vivencias, e buscando as coisas do cavalo marinho, foi criando essa ideia de trazer pro mamulengo do chico essa estrutura do cavalo marinho e a coisa que eu via no zé de vina.

 

0200

o mamulengo…

a gente … eu sempre constratei …

o mamulengo do zé de vina…

 

ao contrário do que se fala, daqui de brasília, que o mamulengo é uma brincadeira de um homem só, que faz muita coisa, o zé de vina, por mais que seja ele o mestre, ele precisa do maro, e dos músicos.

 

desse convívio com o mestre zé de vina, a gente percebeu que precisava trazer isso também pro mamulengo presepada.

daí a ideia de trazer Kika, de trazer Dessa, de trazer Maísa… 3 integrantes das juvelinas e tal,

0300

pra montar esse coco de música com uma música específica..

 

pq no mamulengo de walter, thiago, no mamulengo de chico, ainda se tocava um forró, a música só servia pra descer e subir boneco.

 

no mamulengo de zé de vina,  mas a música serve pra descer e subir boneco, mas cada música tem … está relacionada ao personagem que vem. à cena que vem.

 

o zé de vina orquestrava isso muito bem no mamulengo dele.

 

então, a construção que a gente queria ter dentro do mamulengo presepada era a mesma coisa.

o estudo era isso, estudar os ritmos tradicionais e ver como essa composição poderia ser feito: uma música pra rosinha,  uma música pro palhaço da vitória, essa composição a gente começou a fazer…

não continuou pq era muito custoso ter uma banda específica, uma banda só pro…

 

custear uma banda pro mamulengo…

ele não conseguiria arcar tudo isso. é caro.

3 músicos, pra viajar…

mas a gente começou aí um material, que serve pra desenvolver.

 

ib30-joaley-11

 

até hoje, eu fico me perguntando ao que isso leva…

 

eu acho que o invenção brasileira, o mercado sul.. ele é a base.

onde tudo cresceu.

sem essa base, seria impossível ir todo final de ano pra pernambuco.

conviver com zé de vina, ter equipamento de registro…

0100

ter conhecimento de como faz inscrição no ceac.

como faz projetos, como se aprova.

essa segurança… essa segurança e conhecimento, foi que o que eu levei desses 3 anos que eu trabalhei no mamulengo presepada.

também vários aprendizados pessoais, de compreender como é importante o trabalho em equipe…

como é importante compreender as funções de cada um.

de como vc tem que acoplar a sua ideia às ideias do grupo.

 

0200

esses 3 anos, muita viagem, conhecendo gente de todos os lugares…

do amazonas, do sul

 

foi muito importante pra perceber que essa arte que eu almejo, que eu vislumbro, que eu quero pesquisar, desenvolver, ela é possível.

que sem essa base, eu não teria essa capacidade de perceber que era pośsivel ou não.

 

que primeiro, pra vc criar uma ideia, vc fazer uma ideia vim pro mundo material, ela precisa de um lugar seguro.

pra que vc possa desenvolver ela, com tranquilidade… que qualquer coisa, com uma chama pequena, ela se perde, ela se apaga….

0300

o mamulengo presepada, ele é um berço pra que as pessoas saiam e possam se desenvolver suas ideias.

foi assim pra Kika, Dessa, pra mim, tá sendo assim pra Daniel.

que é a função da cultura popular…

não necessariamente, quando vc entra num cavalo marinho, um menino de Glória de Goitá, de Lagoa de .. de Condado…

quando ele entra no cavalo marinho, não necessariamente ele vai ser um super dançarino de cavalo marinho a vida toda.

ele vai aprender as bases: como se comportar, como ser sociavel.

como se comportar numa viagem, como obedecer uma pessoa que tem mais história, mais responsabilidade, essas coisas todas…

 

ib30-joaley-12

(olhos dágua)

é mágico, pq é uma cidade que já tem sua magia, já tem sua história…

e eu acho que essa coisa de ta indo pra lá é só a soma dessa magia que é o brinquedo, com a cidade.

 

quando eu morei lá, foi um período muito importante pra eu acalmar, entrar em contato com a natureza.

desenvolver bordado, desenvolver pintura, a questão da confecção…

então, é um pólo onde a gente pode sair um pouco desse caos, e poder se adentrar mesmo.

 

0100

eu usei como um período pra adentrar as coisas que eu queria.

passei um ano lá.

o processo de ter passado um ano lá, me levou a buscar o boi guerreiro.

a ideia inicial, ele foi criado aqui em taguatinga. ele foi escrito todo em taguatinga.

 

quando eu fui pra olhos dagua, o contato com a natureza e contato com as coisas minhas, interiores,  que eu ainda não conseguia escutar, deu um start.

foi…

peraí, eu to fazendo isso, mas queria fazer é isso.

mas como aquilo que eu queria fazer tava tão distante da realidade, financeira, psicológica, interna, de segurança, tava tão distante da minha realidade que eu ainda não conseguia entender o que eu queria fazer.

0200

dentro de olhos dagua, do processo de trabalhar a confecção,

eu fui vendo, peraí, eu to fazendo isso, mas o que eu quero fazer é aquilo…

foi o lugar onde meu deu coragem, mas peraí… não tenho capacidade financeira, não força psicológica, mas é isso que eu tnho que fazer.

 

foi a âncora pra me jogar.

tenho que ir pra pernambuco… vou ter que passar um ano lá… vou ter que…

dê o que dê, se dando bem ou dando mal, vou ter que fazer.

 

essa busca pela cultura popular, pela arte, sempre se deu assim.

chega uma hora, que eu não aguento mais,

0300

mesmo que eu goste, e aí, eu corro atrás.

com o tempo a gente percebe que a gente é capaz, sim, independente das situações economicas de realizar aquilo que a gente precisa fazer.

 

a gente tem um brilho interior que mostra que aquilo que a gente  precisa fazer é importante pro meu crescimento, interno e externo.

e importante pra que as pessoas, o nosso corpo, de comunidade como artista, mude também.

a gente precisa mostrar pro outro, ó, isso existe, é real, é possível.

pq o outro também vai se transformar e ajudar ele a caminhar em direção ao que ele quer também.

0400

ele também quer. é uma construção mútua.

esse amparo que o chico dá, pras pessoas, ele cresce muito também com isso.

 

essa…

traz elementos pra ele poder trabalhar,

é uma coisa que tem, é uma rede de ligação, que não tem como ser uma pessoa só, são várias.

a gente vai compreender que são vários brinquedos se dialogando, são várias pessoas se dialogando…

e aí, com o tempo, oxalá, a gente vai poder passar esse conhecimento pros projetos.

pra gente conseguir fazer essa rede integral.

0500

compreender que a troca entre o mestre e o projeto, não é só financeira…

tem a parte financeira, tem a parte humana, tem a troca de valores…

uma cebola, que a gente vai adentrando… blablablablabla

 

ib30-joaley-13

 

é muito dificil pq a gente ainda tá no meio do processo…

 

o mercado sul ainda é um embrião do que vai ser um lugar que vai ser uma referência…

uma referência pra brasília, pro df, pro goiás, pro mundo…

a gente é muito novo.

 

e o invenção brasieira, ele é esse berço, onde as pessoas podem vir, ter esse lugar protegido pra desenvolver suas artes, e aprender…

 

eu num sei dizer.

ainda não tenho um diagnóstico claro de tudo.

envolve muitas coisas, envolve seu aprendizado como artesão, como pessoa, suas relações pessoais…

 

0140

um momento, dá na telha… vou sair daqui… vou fazer outra coisa…

aí, você vai, sai e daqui a pouco, a coisa te leva de novo praquele lugar.

e você comunga de novo com elas, e vc percebe o quanto é importante trazer e dividir o conhecimento.

 

0200

só posso dizer, que foi minha escola, é minha escola, e pelo que vejo, vai ser minha escola sempre.

a gente sempre vai voltar aqui pra dar reverência praqueles primeiros que vieram, que abriram caminhos…

o mercado sul tá abrindo caminho.

 

o invenção brasileira abriu e continua abrindo caminho pra vários artistas…

de maneiras diferentes.

0300

o mercado sul de maneiras mais abertas, pra artistas itinerantes, que passam deixam uma coisa e podem ir embora, outros que ficam mais tempo, construindo lojas, isso e aquilo, de uma forma mais coletiva,

 

numa gestão que pulsa pra esse lado da autonomia…

 

o invenção brasieira, dentro desas coisa que sempre foi, que  é o chico, dentro da produção que tem uma coisa responsável, que tem uma pessoa que direciona…

 

eu não tenho diagnóstico formado… assim

 

acho que é uma escola… muitas pessoas ainda vão passar por ela.

e ainda tem, de todos esses trabalhos que foi desenvolvido, ainda precisa se desenvolver.

 

pq, o que tá em jogo, num é o invenção brasileira.

é o teatro do df, o teatro de brasília, o teatro do brasil, como um todo.

em toda capítal, de rio de janeiro, de recife, …

e aqui em brasília, é aqui.

esse ponto de referncia, ele precisa desenvolver.

todo esse conhecimento que foi pego, ele precisa ser desenvolvido, … fugi… blablablabla…

 

ib30-joaley-13

 

0050

por mais que a gente já tenha saído do conhecimento, ou da forma cartesiana, ou da forma como a física, matemática se organizava em isac newton, que é essa coisa de blocos de construção…

 

tudo tem denominação, tudo é delimitado, e é isso, e a definição é essa.

 

o conhecimento acadêmico ainda caminha muito por aí.

tem muitos outros aspectos que já tão fugindo disso há anos luz.

mas a gente ainda tem influencia desse tipo de pensamento.

 

o conhecimento acadêmico, ele tem pra aprender mais sobre… ele precisa tirar um pouco da soberba que ele tem em definir as coisas.

0200

se ele se esvaziar um pouquinho, ele vai ter mais espaço pra entrar mais conhecimento e aí, ele vai ter acesso a um conhecimento que é volátil… ele entra por aqui, peguei, construí uma coisa, e já não é mais, já foi.

ele é momentâneo.

ele passa por uma geração, fica. e a próxima geração já modifica.

até mesmo o mesmo mestre pega uma informação, ele pega, constrói e dali a pouco, ele já tá fazendo de forma diferente.

 

então, o conhecimento cartesiano, por mais que ele seja importante, pro desenvolvimento intelectual da humanidade, pra organizar as coisas, como o próprio universo veio do caos e se organizou, por mais que isso seja importantes, ele precisa compreender outras coisas que são voláteis, que são humanas e pra isso, precisa desfazer as hierarquias.

 

0300

pra você colocar um analfabeto como ponta da piramide de um conhecimento, você vai precisar se desfazer da hierarquia.

eu dentro do meu conhecimento de cultura popular, fiz isso.

agnaldo, pra mim, é um mestre que está acima.

ele me ensina valores morais, como conduzir a vida, como tocar, e como fazer a composição de um brinquedo.

0400

nice teles, coloquei ela, acima. lá na ponta da piramide.

 

o conhecimento acadêmico, ele precisa fazer isso.

saber ler ou ter um diploma não diz nada sobre a capacidade de construção, de criatividade, de solução…

 

se o academico quiser aprender na cultura popular, ele vai ter que desfazer das hierarquias.

tudo bem, trouxe um mestre e ele fez uma oficina…

mas uma oficina, não é suficiente…

é preciso mais

 

0500

é preciso que o aluno vá pra região onde o mestre tá, pq o que ele faz, o que ele fala, oque ele toca, o que ele dança.. tem a ver com a paisagem da região, tem a ver com uma cultura que está naquele lugar, tem a ver com uma energia que está ancorada naquele lugar…

 

aí, eu to falando de coisas além… talvez a gente não compreenda isso agora… o cara tá viajando.

mas não foi só eu que disse… se olhar na história de pernambuco…estudar os grandes da história, acho que foi joaquim nabuco diz que o viajante nunca vai compreender o lugar, mas o andarilho sim, pq ele deixa que a paisagem do lugar se decante dentro dele, e nesse decantar é que ele vai dialogar com a cultura local.

 

pq quando a gente chega com a nossa cultura, eu sou isso, faço aquilo, taltaltal…

0600

com a hierarquia instalada dentro da gente, a gente chega pronto e não consegue dialogar com a cultura local pq a cultura local fala assim : ah, esse cara já tá legal… como a cultura local é tão humilde, como o índio, ele não se impõe… ah, o meu deus é Jaci.

quem faz isso é o branco.

a gente, o indio, quando a gente ve vc chegando com o conhecimento, ele simplesmente absorve.

a faculdade, os conhecimentos, o governo, se quiser aprender, tem que fazer isso.

 

cada um já tem seu conhecimento.. todo mundo já tá confortável…

só aprende aquele mesmo que entra, se coloca no local de aprendiz, e vive.

servir é muito importante…

0700

dentro do brinquedo…

chegar pra bordar, e ajudar o mestre…

o mestre tá com dificuldade… eu tenho conhecimento em produção, eu pego meu computador, faço não sei o que pra ele.

não é o que eu quero fazer, chega lá e ficar fazendo projeto pro mestre,  lá eu quero dançar, quero cantar… mas se eu tenho conhecimento, eu posso ajudar.

 

mas o que geralmente acontece é que o produtor chega lá, faz o projeto e já se coloca como patrão do mestre..

aí, o mestre não vai conseguir mostrar pro produtor a pérola que ele tem.

que é a transformação de valores, que é criar um banda totalmente diferente.

 

não a banda que tenha baixo, guitarra, …

é uma banda que tenha jogos corporais,

 

0800

que a musicalidade seja o tom da espada tocando no ritmo do zabumba, e a gente já desfaz essa ideia de palco italiano, do palco em cima e o público embaixo… e a apresentação vai pro público, que eles já tão fazendo a muito tempo…

 

mas como a gente é influenciada pela tv norte americana, pelas bandas, isso e aquilo… a gente não compreendeu que a gente tem outras estéticas…

 

0845

essa disputa de poder tá dentro da gente. pq nós somos os colonizadores…

pra gente mudar o quadro, a gente tem que se perceber que … peraí, cara.

 

0900

meu hábito é outro…

meus valores são outro.

esses valores escravizam meu irmão.

 

eu tenho que dar um passo pra traz.

pq a ideia do sistema, a ideia do colonizador é imputar dentro de mim, que o melhor é eu ser igual a ele, e escravizar o meu próximo, como eu fui escravizado por ele.

 

e aí, o ciclo de repetição, o padrão, começa a se repetir.

o sistema hoje só existe, pq o oprimido conserva o sistema…

 

0940

babau foi pra lá e, eu vou ficar do lado do mestre…

eu tiro todos os meus valores essa coisa taltaltal que minha família blablabla…

e reconstrou minha biografia.

como uma ferramenta de luta. do lado dos mestres.

 

é claro, ele como lider, ele vai ter um papel diferente do lado dos mestres.

1000

a gente tem que compreender, o mestre tem conhecimento, mas ele é limitado em algumas coisas.

e a gente precisa dar auxílio pra eles se organizarem.

 

por exemplo, dentro de juazeiro do norte, existe uma disputa muito grande família.

matança de família por família.

 

disputa muito grande de reizado contra reizado.

quer dizer…

dentro do mestre existe uma disputa que pode ter vindo da cultura do indio, que já era uma cultura de guerra, ou pode ter vindo da forma como o colonizador misturou os povos e criou animosidade entre eles pra que eles não se unissem… tem que dar uma estudada nisso aí.

 

1100

mas ele se coloca como lider… quer dizer, ele não se fala lider, como mestre.

mas ele dá respaldo à aquela cultura e dizer, o mestre é cachoeira, e ele começa a ensinar pros filhos o que o mestre cachoeira canta…

nena, coloca os filhos do lado de mestre nena pra mestre nena ensinar como é a estrutura do reizado… que figura tal… que isso aquilo.

 

a gente … isso é radiacal,

todo mundo criticou babau… a gente não precisa de nada do exterior, nada.

a gente tem todos os valores.

mas como a gente tem na cabeça que o legal é ter equipamento, ter tecnologia, ter acabamento na peça do teatro…

a gente deixa os valores de fora invadir…

(continua..)

 

ib30-joaley-15

(continuação)

… o que é de suma importância, que são os valores humanos, os conhecimentos orais, que vão criar pertencimento, vão criar mitologias próprias…

um povo só é forte pq tem suas próprias mitologias…

 

nisso a gente tem que baixar a cabeço pros colonizadores, pq eles tem a mitologia.

eles não deixam que a sua própria mitologia seja invadida, alipas,

eles estudam a mitologia do outro pra absorver o que é bom e perceber onde ele pode dominar o outro.

 

eita… blablablabla

 

ib30-joaley-16

 

não dá pra falar em mercado sul, sem citar a importancia que o invenção brasileira tem dentro do mercado sul.

 

primeiro veio o mestre dico, depois outros artistas, chico simões… afonso miguel, que vieram aqui em busca de aluguel barato.. pra fazer o teatro aqui.

nessa coisa do invenção brasileira é que foi chamando outras pessoas.

por isso que eu acerto quando digo que o invenção brasileira é berço

 

pq todo o movimento que alicerçado dentro do mercado sul, se não todo, quase todo foi chamado pelo invenção brasileira.

 

pelo chico, que tem essa força agregadora.

 

pode hj estar em movimentos distintas… mas o invenção brasileira foi esse chama.

 

0120

o movimento anterior, que foi o grupo retalhos, o zé regino, humberto pedrancini, hoje, não tem uma referencia, de base, de local.

 

hoje, o local de referencia da cultura de taguatinga é o mercado sul.

que é continuação desse processo dos antigo.

 

movimento de resistência. de luta pela autonomia.

de pessoas que querem fazer por si.

 

de mostrar que uma outra forma de fazer é possível, livre, espontânea…

volátil, as pessoas vem aqui, vão embora, voltam…

 

qual é o outro lugar que a gente pode entrar dentro de uma oficina aprender fazer uma caixa e ir embora?

mexer com material?

aprender a trabalhar com ervas?

não conheço outro lugar além do mercado sul que tenham essa liberdade.

 

eu não sei falar como movimento, não

eu sei que dentro desse processo, eu sou um dos frutos…

tenho bastante reverência ao mercado sul, às pessoas, as coisas, à energia que é criada aqui…

 

blablabla…

quando eu saír daqui, vou lembrar o que eu tinha que falar….

 

ib30-joaley-17

(externa): edgar de capa de chuva amarela

 

ib30-joaley-18

ebano e lila brincando de bolinha de gude

ib30-joaley-19-20

contraplano e saem…