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Transcrição da vídeo entrevista de Nara Oliveira para o Projeto Invenção Brasileira 30 anos
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Do início, tá.
Tem uma história que eu não esqueço, que eu junto com mais dois designs editamos o livro que é Nação Griô, que é a compilação de todas as ações dos primeiros anos, ou do primeiro ano da ação griô no Brasil. Então tinha história do Brasil inteiro, fotos, contos, casos, poesias.
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Não só a descrição das ações que tinham sido feitas.mas, a história dos mestres, a história de vida, frases. Um livro assim bem recheado de coisas. A gente fez esse livro, tudo bem, tudo certo. Aí não sei se foi anos depois, eu tava olhando uma matéria na TV que tinha dado uma enchente numa cidade no norte do Pará…E tava aquela clássica entrevistando
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a pessoa que a casa foi levada pela enchente na porta da casa dela. E aí era uma senhora que participava da ação griô. E aí ela aos prantos, chorando, segurando o livro na mão. Tipo assim mostrando, tipo assim, olha velho molhou o meu livro. Tipo, tinha eu nesse livro aqui. Sacou? Então, de tudo que ela tinha pra mostrar que tinha molhado na casa dela era o livro. Sabe? Era o livro, que tinha ela. Que tinha contando a
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história dela. Que tinha uma foto dela. Que reverenciava o saber dela. Então acho que o registro, ele tem essa importância de botar pra fora muita coisa que tá escondida, que tá silenciada. Mas, também de voltar pra dentro, pras pessoas que tao compartilhando esses saberes. É uma forma de você reverenciar, de você valorizar esses saberes. Eu mesma tenho vários processos
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com registro, principalmente com foto, de registrar vídeo e foto porque tem momentos que você acha que você não tinha que tá ali. Que você tinha que pegar sua câmera, botar ela de lado e viver aquele momento. Cê não tinha que tá ali registrando, atrapalhando o povo, e o povo achando que tá sendo filmado. Cê não devia nem tá com aquela câmera ali, sabe?. Só que você tá ali porque você precisa fazer aquele registro. Porque o registro é importante.
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Mas, você como pessoa que tá registrando, você se sente num lugar assim, tipo tinha que tá vivendo isso daqui. Porque o que importa nesse momento é viver. Isso daqui não passa pelas lentes da câmera. Tipo, a energia não passa. E…mais é isso a gente tenta, filma um pouco, vive um pouco, fotografa um pouco, vive mais um pouco. A gente vai equilibrando.
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(Risada) Então, o câmera man é o Angel, né galera. Ele não aparece, não vai aparecer, mas foi ele quem me ensinou a fotografar. E o jeito que ele me ensinou…Eu conheci ele no ponto de cultura, o Angel malucão, doidão até hoje. É uma das pessoas que mais recebe bem as pessoas aqui no Mercado Sul, uma paciência incrível, uma personalidade ímpar. (gargalhada) E a forma como ele me ensinou a
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fotografar é como eu ensino as pessoas a fotografar até hoje. Eu tava num curso, a Shaira tava com a câmera nova, ela não sabia mexer na câmera. A câmera dela era uma semiprofissional, tinha várias coisas que ela não sabia usar. E aí lá vai eu sentar com ela e com o Julierme, outro brother que chegou aqui junto com a Ocupação, a fotografar. E a mesmo modo, a didática que ele me ensinou é a didática que eu ensino pras pessoas, que é comparar a câmera ao nosso olho, né. E fazer sempre essa
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relação, tipo, da abertura com a pupila, do embaçado com o foco, de fazer muito essa ligação entre a câmera e a nossa anatomia, assim, a forma como a gente enxerga. Sim, é..
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teve uns anos que eu saí de rolê…é…junto com o Farid a maioria das vezes muito nessa missão de…porque a gente tava, por exemplo, tinha internet, as pessoas tinham internet, tinham acesso a computador, tinham acesso às mídias mas, elas não produziam. Então, da mesma forma que elas tinham acesso elas continuavam invisibilizadas. Então, a gente ia em pontos de cultura, em quilombos urbanos, foi na Xambá, foi no
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Leão Coroado, foi no Puraquê, no Norte, em Pirenópolis, foi em vários lugares dando oficinas de, pras pessoas fazerem pequenos impressos, folhetins, panfletos, cartazes, tanto digital, como impresso. Aprendendo um básico de diagramação, um básico de edição, um básico de fotografia, de enquadramento, de iluminação. Tudo pra dar aquela sevirologia, porque é
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isso, quando você vai dar oficina num lugar, cê vai, cê fica de uma semana até um mês e depois vai embora. E a galera tem que continuar. Então, eu acho que esse processo ele foi muito importante pra esses lugares, que hoje alguns são referências em trabalho com comunicação em comunicar o próprio, as atividades que faz. E essa importância que dá pra comunicação. E como as vezes é importante
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o design mesmo ele é muito as vezes usado pra ludibriar, pra iludir, pra te convencer, mas ao mesmo tempo ele pode vir por um outro caminho, que é tipo, mostrar a beleza que tá escondida. Evidenciar coisas que tão sendo feitas, que são muito legais. A gente tá no meio de uma mídia que tem a violência e a desgraça como pauta
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principal, né. E a vida não é só isso, muito pelo contrário. Se a gente quer inspirar as pessoas eu acho que a gente tem que inspirar isso, inspirar pelas coisas massas que tão sendo feitas, pelas coisas diferentes que tão sendo feitas. Por quem tá conseguindo, por quem tá tendo sucesso. E acho que o registro e a comunicação dentro da cultura popular elas têm muito esse papel. De…óh galera
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tem essa galera fazendo isso daqui que é iradíssimo, importantíssimo, e eles tão fazendo. Olha que doido. E olha que qualidade. O TC que é um cara, um mestre da Rede Mocambos, ele fala ‘pô a gente vai tá competindo com a Pixer meu irmão, a gente não tem que ter os negocinhos mais ou menos não.’ te tem que ter coisa de qualidade, a gente não pode ficar marginalizado nas nossas produções. Então se a gente vai fazer, vamos fazer com qualidade, vamos aprender a fazer, vamos
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fazer bem, vamos fazer direito. Porque a gente não tá é…competindo com…a gente tá competindo com a grande mídia, a gente tá competindo com os grandes estúdios. Então infelizmente muita gente vai deixar de ver porque acha que não tem uma qualidade. Então tem muito essa importância, de fazer as coisas chegarem nesse lugar do que hoje é..se tornou né…o que é que a gente escolhe pra ver, o que é que a gente escolhe pra assistir.
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Não. Das logos. Então, acho que 70% do Mercado Sul tem logo feita por mim. E de tudo, já troquei de tudo, de tudo, de roupa à várias coisas, uns pagam com dinheiro, outros pagam com coisa, outros não pagam. É…é muito doido, né?
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Acho que a primeira que eu fiz foi a da Tempo Eco Arte, que eu fiz ainda como projeto de faculdade…e também na sequencia depois fiz o site da Tempo Eco Arte também como um outro projeto da faculdade. E aí foi indo, e aí muita gente aqui tem logos feitas por mim. Então fica fácil, quando alguém precisa de uma barra de logos, pode falar comigo que eu tenho a maioria das logos. E aqui do…eu lembro que das antigas assim, eu tava estudando né essas coisas, eu falava assim, eu falava pro Chico,
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não Chico essa sua logo ela não funciona. (RISADA) Porque tinha…hoje ela é diferente, ela mudou. Hoje tem o palhacinho aí tá Invenção Brasileira na frente, Invenção Brasileira. E aí antes era o palhacinho e em baixo, dentro de uma caixa preta Invenção Brasilieira, ponto de cultura. Então, onde ela ia não dava pra ler, nunca dava pra ler ela, e aí…o Chico não gostava, que eu não gostava dela.
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Eu falava ‘mas Chico não dá pra ler, num sei o que’ e ele ‘não…’. Aí teve um dia que ele asiô, mandou um email super sátiro, que no início eu achei que ele tava falando sério, mas depois eu saquei que não assim. Aí ele mandou um email, tipo… falando vários defeitos que a logo tinha. E tinha mesmo, só que ele tava tipo assim..zoando, sacou? Tipo assim, não velho essa aqui é a minha logo eu não vou mudar ela.
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Aí hoje ela mudou minimamente a questão da tipografia, tudo, e já funciona. E a logo do Mamulengo Presepada também já fizemos várias. E ele tá sempre mudando aí ele…eu faço e passa uns meses aí ele me liga…não porque o mamulengo, a mão, e o coração, e tal. E aí tipo…muda tudo, muda o conceito e faz tudo de novo. Mas, é sempre um prazer, porque eu acho
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que…é…são poucas pessoas que têm a oportunidade de trabalhar com essa estética, sabe? A maioria das pessoas tá fazendo propaganda comercial. Então eu sempre…pra mim os trabalhos comerciais que eu mais gosto são esses que tem os conceitos mais malucos, mais diferentes, porque acaba que também é um desafio pra mim. É isso.
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Sim, é…boto…boto fé hein…a gente esquece da nossa própria história. A Gunga que é a empresa que eu tenho junto com o Farid, hoje…é por muito tempo só nós dois e alguns agregados que vinham e saíam assim, de acordo com os
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trabalhos. Hoje ela já tá maior, já tem o Webert e a Mia, que também estão aqui no Mercado Sul super atuantes, e vizinho meu de cima, agora a minha loja é dividida em duas tem o Rdoze tatuando. E…por a gente estar no Mercado Sul, a nossa primeira e a nossa segunda…e até hoje é o lugar como a gente reside como empresa é aqui no Mercado Sul, a gente sempre teve…é…fazendo e trocando
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serviços muito aqui dentro, né. E também nas viagens que a gente fez, e nessas vivências, a gente identifica também como muitos lugares têm ações muito lindas e pouca estrutura de comunicação. Então a gente fez um…construiu um edital próprio, nosso, que as pessoas se inscreviam, que tivessem ações relacionadas com cultura pra ganhar um site e uma identidade visual.
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E quem ganhou foi uma associação de Matarandiba, na Bahia que depois a gente visitou, super lindo, super maneiro. Que é uma vila, numa ilha, que tem 400 ou é 500 habitantes e que tem uma associação de quatrocentas e poucas pessoas, ou seja, praticamente a cidade inteira é da associação. E é uma associação muito puxada pelas mulheres e ela decidiram juntar, chamar as véia tudo, e resgatar todas as brincadeiras,
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os teatros populares, e as festas todas e fazer. Porque não tinha mais nada e tava todo mundo só na cachaça. E cansadas de verem os homens jogados, estirados no chão da praça, que ainda tem até hoje, mas, né, tão no processo, e decidiram refazer tudo de novo. Todas as brincadeiras que eles faziam, os espetáculos teatrais populares que eles faziam, a ciranda…
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várias coisas eles voltaram a fazer, e hoje eles tem um calendário de festas populares que é promovido por essa associação. E…foi muito legal, depois a gente foi lá conhecer, depois de um ano, um ano e pouco eu fui lá conhecer e fiquei muito feliz de saber que era bem verdade. E hoje a gente tá com um projeto de uma animação, um curta metragem que é uma animação que chama Malaika que
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significa anjo. E… é a história de uma menina quilombola, que vai passar por uma saga. Não vou trollar, como é que é…não vou ser spoiller…que vai passar por uma saga pra salvar a comunidade dela. É…enfim de várias pressões que têm as comunidades quilombolas hoje. Acho que
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a gente quando teve…fez o roteiro desse filme… ele foi muito pensado em várias realidades, então ele é uma ficção, mas que a história tem…é como se fosse uma colcha de retalho de várias histórias que a gente ouviu e viu. Então é aquela ficção, se tiver qualquer coisa que pareça que foi um fato real é mera coincidência. É isso.
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Pode falar? Tu tá filmando o preto. É o estilo? Meu nome é Nara Oliveira, eu sou taguatinguense, tô aqui desde que eu nasci. Estudei em Taguatinga Sul e também cheguei no Mercado Sul bem novinha, no segundo ano.
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Me formei em desenho industrial, hoje sou designer, também me enveredando pelas artes plásticas, ilustração, fotógrafa. Também tô aqui na luta pelo movimento de Ocupação Mercado Sul Vive, e misturado com o contexto da…do design, da arte, da cultura popular, em vários níveis, com vários segmentos, com várias trilhas.
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Eu era amiga, tinha a Luciana Albertin, ela fazia teatro aqui, e…ela é minha amiga de infância, a gente estou junto, ela mora aqui perto. E aí, acho que
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as primeiras vezes que eu vim aqui, acho que foi com ela. Quando tinha ou apresentação dos espetáculos que eles ensaiavam, nas festas juninas. Também as vezes eles faziam uns bazares pra conseguir montar o figurino e os cenário das peças. Acho que essas foi…nas festas assim, as primeiras, a primeira vez que eu vim aqui. Já, as festas juninas, acho que era a Tetê botando um fogão com caldo e um café na rua.
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O povo trazia alguma coisa, um prato de casa, dava umas trinta pessoas e pronto. Era a festa junina. Era um encontro de amigos, ne?. Mais era muito bom mesmo assim. Acho que sempre teve, eu não lembro quando foi a primeira vez que teve festa junina, mas elas eram bem assim. O povo trazia alguma coisa, botava um caldo de abóbora, passava um café e já era festa junina.
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Ai…eu acho que…eu não lembro exatamente o que fez a gente falar ‘caraca vamos fazer uma festa junina’ eu não lembro a motivação pela qual a gente fez isso. Acho que como muita das coisas que acontecem por aqui, acontecem né. É…mais a gente
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decidiu fazer a festa porque tava tudo crescendo, tava ficando grande, acho que a dinâmica do cada um traz seu prato já não tava mais funcionando. Porque vinha muita gente pra festa junina e não necessariamente era daqui. Então, a gente resolveu, não, então vamos organizar, vamos montar uma programação e aí foi vindo. Assim, foi aumentando gradativamente até o ponto que a gente falou ‘vamos parar de divulgar tanto, porque a gente não aguenta
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tanta gente’. Porque a festa ficou bem famosa, as pessoas perguntam ‘vai ter festa junina esse ano? Vai ter festa junina esse ano?’ Então existe até já uma expectativa sobre a festa. E eu acho que toda edição ela é diferente uma da outra. E…eu gostei porque ela foi crescendo e muita gente de fora veio colocar coisa,
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colocar comida. E na última eu achei massa que veio só a galera daqui botar comida. E foi bom também porque veio menos pessoas. E quem veio conseguiu ter uma renda legal da festa. E foi uma festa mais feita por nós mesmos. Mas, já teve ano de ter food truck. O pessoal do food truck me ligava ‘e aí qual a expectativa de público?’ eu falava ‘eu sei lá a gente nunca contou gente nessas festas aqui não’. E acho que
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todo ano tem uma dinâmica diferente, e a gente espera melhorar. Ela…No início a gente tentava ser em julho mas a gente nunca conseguia porque era organização voluntária. Então, quando ia chegando uma semana antes a gente ‘não, não vamos conseguir’ e ia passando pra frente. Mas, depois a gente viu que isso também era bom, porque como quem apresenta…é na brothagem né…os
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músicos vêm e apresentam porque acreditam na festa, então a gente um pouco fora do calendário junino é um pouco bom porque não concorre com as festas em que os músicos estão recebendo cachê. Então agosto pra gente fica…é até mais fácil conseguir a programação e ter a disponibilidade das bandas, dos músicos. Muita gente trabalha com arte então o mês de festa junina ele é sempre corrido pros artistas. Aí pronto. Aí foi umas
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duas edições…a primeira acho que a gente fez em julho, mas no último fim de semana. A segunda já foi em agosto, porque a gente não conseguiu fazer em julho. E aí depois quando a gente foi vendo, aí ‘não é em agosto mesmo e é isso”. Aí agosto a gente consegue fazer sempre.
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Ah..eu acho que as primeiras peças que eu vi foi a…o cordel aquele Pavão Misterioso, que tinha o Walter e tinha essa Luciana Albertin, tinha uma galera que eu não conhecia, não lembro o nome, tinha o…nossa, muita gente que também já não tá mais aqui, que mudou de
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cidade. Mas, acho que a primeira foi essa, o romance do Pavão Misterioso. Que apresentava nas praças, era uma coisa de teatro de rua. Depois teve os Autos de Natal que foram vários. Aí já nos Autos de Natal eu comecei a contribuir com…que eu sempre desenhei, então eu contribuí.. no primeiro auto de natal contribuí com cenário, coisas pequenas de figurino. Aí teve um
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que eu fiz o cenário com a Isabela, que é uma colega que eu conheci na faculdade, que ela fazia artes plásticas. Mais ela também costurava, então a gente fez um fundo de pano, que existe até hoje, até hoje a gente ainda usa. Que o auto de natal ele se passava em Taguatinga, então era como se fosse uma vista de Taguatinga feita em tecido. Aí mais pra frente teve um outro auto de natal que já tinha a Dielle, tinha
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um menino que agora teve filho, como é o nome dele…o Vitor…a Dielle, o Vitor, o Walter. Eu não lembro de todo mundo porque eu também não tava ensaiado com a galera. Eu ficava mais de fora, então nessa época eu não tava aqui tanto. Mas eu via todas as peças. A gente também apresentava no Sesi, era sempre casa cheia. Era uma época que o Sesi ele era mais
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efervescente e tinha uma conexão entre o ponto de cultura e o Sesi. Tinha os FestSesi. E acho que…e eu me envolvia nisso, fazendo os figurinos e fazendo os cenários. Foram as primeiras coisas que eu me envolvi aqui. E depois quando teve os FestSesi a gente sempre trabalhava nos FestSesi. O pessoal do ponto de cultura, os jovens que vinham pra cá ou do teatro, ou curtia, ou fazia as oficinas,
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eram os oreia do FestSesi. A gente fazia tudo de receber artista, buscar artista, levar artista pro hotel. Entregar tíquete de alimentação, cuidar. A gente fazia né, várias partes da produção dentro do evento. E a gente pirava ne, era tipo ‘caraca’. Pra mim era tudo muito novidade
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porque eu vinda do senso comum, eu era roqueira, e tal, aí de repente caí aqui. Eu já achei massa, eu nunca achei uma coisa muito do estranhamento. Eu já acho que alguma coisa dentro de mim já dizia que eu ia gostar desse trem. Mas aí quando a gente ia nos eventos, que a gente via aquele monte de coisa, não sabia nem como falar, não sabia nem que existia. Eu lembro da primeira vez que vi o Carroça de Mamulengo,
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eu lembro assim, eu não esqueço. A primeira vez que eu vi o Chico brincar eu também não esqueço. Vi tantos outros mestres de mamulengo. Então era tudo muito encantador, a gente trabalhava assim, babando. Porque a gente teve a oportunidade de conhecer e vivenciar, porque quando cê tá trabalhando cê fica ali com a galera, troca ideia, conhece as pessoas. As vezes os artistas ficavam um tempo a mais,
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ou chegavam antes. Então era uma vivência muito legal. A Tetê sempre botava a cozinha tradicional dela, tanto nas festas aqui, quanto no FestSesi. Nos FestSesi já montava mesmo a cozinha linda com parede de pau-a-pique, pendurava as loucinhas desmaltadas na parede, passava aquele café gigante. Eu acho que era o café mais gostoso do mundo, só porque ele era feito ali, naquele fogão, naquela hora, naquele coador
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gigante. Era meio mágico. Ainda é né?! Ela ainda faz até hoje os cafés.
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Nossa!…Eu lembro que tinha a Rose, que trabalhava na, bem na produção mesmo geral dos eventos, das coisas. Já chegou a Andreia também produzia, as vezes, alguns. As vezes vinha uma galera que a gente não conhecia também, produzir. Foi bem no início
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acho que a gente não entendia muito onde a gente tava direito. Só tava lá. Mais sempre foi muito bom trabalhar com a galera. E vinha…nessa época os trabalhadores eram eu, Thabata, Luciana Meirelles, o Chiquinho, o Wagner irmão do Walter, o Raoni que hoje até se formou na faculdade né, ele era super oreia. Os meninos carregavam tudo.
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Chiquinho virou percussionista. Foi muito interessante acompanhar pra onde todo mundo foi. No início acho que todo mundo era meio perdido, tava fazendo o que tava rolando. E foi interessante ver pra onde as pessoas foram caminhando, tomando seus rumos, seus caminhos, se especializando, mas todo mundo meio que na arte ou na militância, enfim.
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Sim, acho que a cultura popular…eu acho que ela traz muito…por exemplo, eu que sou designer ela tem muito dessa coisa do encantamento. E isso em vários níveis. O encantamento
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da música, das artes, da estética. Então pra mim ela vem muito nessa linha do encantamento, que não necessariamente é dito como belo, dentro do que a gente estuda por exemplo na faculdade. Então, tipo..é uma outra beleza. Ao mesmo tempo que a gente vê uma beleza num mamulengo, as vezes uma criança que nunca viu, olha e chora, morre de medo. Porque é outra beleza. Não é o bonequinho
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bonitinho do zoião que a gente vê na TV. É outra história. E acho que a própria vivência com a cultura popular. Acho que se a gente sai e viaja, a gente conhece as pessoas, entende porque que elas tão fazendo o que elas tão fazendo, como é que elas estão fazendo e de onde vem as inspirações delas também e compreender que as inspirações delas vem de tudo. Do passado
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mas também do presente. Porque a cultura tá em movimento. Acho que uma coisa…eu aprendi muito isso aqui, é isso, a cultura não tá em conserva. Ela não tá num potinho fechadinho e é assim que a gente tem que manter ela. A cultura popular ela tá em movimento. Ela não é uma peça de museu, e acho que a minha profissão ela dialoga muito com isso. De dar visibilidade
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muitas vezes pra essas expressões que tão invisibilizadas, porque de alguma forma não conseguem alcançar por conta de alguns vazios estéticos, vazios conceituais que tem hoje na internet e nas mídias. Então, é super importante, hoje eu trabalho muito com grupos da cultura popular. Já trabalhei com muitos outros e as pessoas vem me procurar na maioria por três fatores.
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Um pela qualidade do meu trabalho, outra pelo fato de eu trabalhar com software livre e a outra por eu trabalhar com a cultura popular. Então as pessoas ‘não, me manda um portfólio seu só com…focado em trabalhos que você pra cultura popular, porque a gente tá precisando pra fazer de um grupo’. Então, as pessoas esperam de mim essa sensibilidade porque se você fala de teatro popular, cê fala de cultura popular, cê não vai colocar
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as máscaras da comédia del’arte e uma cortina de veludo vermelha. Porque esse não é o teatro do nosso povo. Então, acho que a grande importância foi essa sensibilidade. É a importância pessoal pra mim, porque eu sou muito feliz vivendo tudo isso.
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É uma ponte, né. Você faz uma ponte. Eu sinto que meu trabalho é bem esse da ponte.
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Não. Tipo assim, quando eu cheguei o Caranguejo ainda estava por aqui, mas ele não dava mais oficina. Que tinha os Cabuléticos, eu lembro que a Thabata, o Chiquinho, galera que fazia parte, falava dos Cabuléticos, mas acho que quando eu cheguei foi o fim dos Cabuléticos, eu cheguei.
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Assim, quando os Cabuléticos tavam acabando eu tava chegando.
Porque eu também não cheguei, cheguei, de ficar todo dia aqui. Não cheguei pontualmente. Mas eu não cheguei a ver os Cabuléticos tocarem. Mas, quando eu cheguei todo mundo sabia tocar côco, maracatu, ciranda. Acho que foi a primeira assim, formação. E o povo diz que o Caranguejo ensinava tudo errado. Que os toques que ele ensinava, era tipo uma mistura dos toques que ele tinha aprendido. E a gente
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depois foi descobrir que a gente não sabia tocar nada. Mas, foi a base, pra muita gente buscar, aprofundar, ir aprender, e saber mesmo o que é o maracatu, de baque solto, baque virado, os tipos de coco que tem, que são inúmeros, as cirandas. Acho que, por muitos anos foi a trilha sonora do Mercado Sul. Os vizinhos odiavam nós. O negócio da gente era quanto maior o tambor
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mais pesado rasgando o couro, melhor. Então a gente juntava era tambozada, era tocar coco, ciranda e maracatu. A gente tava até falando que a gente sente um pouco de falta disso. Que chegava aqui e ‘vamos fazer um coco’ e a galera sabia várias músicas. E a galera, nós, né. Eu, Thabata, Lu…a gente brincava que tinha as inimigas do ritmo. Aí a gente chegava e ‘vamos tocar uns coco e tá tudo certo’.
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Mais acho que os Cabuléticos foram a faísca da percussão afrobrasileira que tem aqui. Na época
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era uma política de governo. A coisa da cultura digital, disso tá dentro da política dos pontos de cultura. Tinham os telecentros, não só aqui como em vários lugares. Então pra mim foi uma época muito efervescente nesse sentido. Eu já trabalhava com computador, com softwares proprietários e aqui com o Magnus e o Angel eu aprendi que tinha uns outros softwares muito doidos aí. Eu já trabalhava aqui em
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cima. Tinha um computador aqui em cima, aí eu ficava fazendo as artes, os cartazes das peças. Porque eu também fazia isso, assim…nos softwares livres. Eu ficava lá apanhando e vinha o Magnus e me ajudava, me falava como é que era, até que foi, eu peguei o jeito. E veio o Etienne Delacroix, veio aqui dar palestra, a gente não entendia nada, mas era o máximo. E ele era muito doido, montava umas estruturas, tipo uns
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computadores que eram as peças conectadas, sem a caixa, essa coisa de desmistificar a caixa. Então foi aqui que eu aprendi a montar, desmontar computador. Entender o que tinha lá dentro, que as vezes é só uma poeira, por isso que não tá funcionando, cê tem que abrir e tirar a poeira, e seu computador volta a funcionar. E tem toda uma cultura em volta disso, do software livre, da autonomia. Eu acho que tem muito a ver com
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o que a gente já fazia, no sentido da cultura popular. Das coisas serem nossas, da gente ter a nossa expressão. Da gente buscar produzir coisas, não só consumir coisa. Acho que a lógica do software livre é um pouco assim também. Elas se encontram em vários lugares. E também né, quando vem essa coisa de tecnologia vem uma outra galera. Vem o Diego Mendonça também nessa época.
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Veio outras galeras colando por conta disso. A gente até fez um núcleo de cultura digital aqui, mas não durou muito tempo. É, mas eu esqueci sua pergunta.
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É porque de repente a gente se vê, ‘não a gente tem mídia, a gente pode fazer as coisas, a gente não precisa mais tá na sombra, a gente não precisa mais tá marginalizado. A gente tem que construir nossas próprias coisas. A gente tem que construir as nossas redes. A gente tem que se comunicar de alguma forma.
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Disso surgiu várias coisas, a Rede Mocambos é uma delas. Que eu trabalhei há alguns anos, acho que em 2008 pra Rede Mocambos, indo em quilombos urbanos e quilombos rurais fazendo oficinas e com as coisas que muito eu tinha aprendido aqui. Foi nessa época também que eu conheci o Farid. Que ele veio pra cá convite de algum evento, não me lembro qual. E aí eu lembro até do dia em que eu conheci o Farid.
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Era uma noite e tava ele e mais algum maluco, eu não lembro quem era, se era o Magnus. Eu tenho uma foto disso, desse dia. Porque nessa época eu tava fazendo uma matéria, já tava na faculdade, tava fazendo uma matéria de fotografia, aí eu tava andando com a câmera pra tudo quanto é lado tentando tirar umas fotos de Taguatinga. Porque eles queriam que a gente fizesse…o tema do ensaio fotográfico era Brasília, e eu falei ‘Brasília de cu é rola. Vou fazer um ensaio de Taguatinga que é a minha cidade, que a única coisa que eu
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conheço de Brasília é o caminho que o ônibus faz até a Unb e a rodoviária, e eu não quero tirar foto na rodoviária. Custei muito pra ter uma câmera pra ficar dando mole lá na rodoviária com ela.’ Aí tava andando com a câmera pra todo lado, com Chiquinho, a Bela, fazendo foto do Faixa de Gaza, fazendo fotos das sinucas, fazendo foto do centro, das comerciais. Aquela…o caos da comercial, aquele mar de fila. Pirada nessas coisas. E aí eu tirei uma
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foto do dia que eu conheci o Farid. Ele embaixo de um poste, aqui na frente, com um monte de computador desmontado no chão, um monte de peça pra tudo que é lado. Ele sentado daquele jeito dele assim, tipo montando os computadores. Tinha muito lance da metarreciclagem, de pegar os computador e fazer outros computadores. Fazia até bijuteria, fazia artesanato, um monte de coisas com as peças dos computadores. Essa época foi
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quando acho que deu uma…o conceito de ponto de cultura ele tava sendo formado e tava sendo expandido ao mesmo tempo. Então a cultura digital misturou com a cultura popular, que misturou com a galera da cultura negra, que conheceu o pessoal do hiphop, que conheceu a galera…Vários movimentos que tinham a cultura como centro também se conectaram.
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Acho que foi bem nessa época. E essa chuva?
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lembro de nome nenhum. Então, foi, farid veio com etienne, mas nesse dia não…Pode ser o Vinci, eu acho que era o Vinci e o Farid. Eu acho que foi o dia que eu conheci os dois. Acho que conheci os dois no mesmo dia. Os dois cabeludão, não lembro se o Vinci tinha dread nessa época.
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Não né? Os dois cabeludão tonhoinhoin, batendo bem na cintura assim, embaixo do poste. Eu achei aquilo tão viagem que eu tirei uma foto. Porque tá no ensaio, aí ficou, foi pro ensaio essa foto.
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Gente a pessoa ‘e ruim demais pra nome.
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A gente conheceu a tete aqui. Grava aí que eu vou contar essa história. Ta gravando? A gente conheceu a Tetê aqui no Mercado Sul né, nas festas e tudo. Ela é sempre uma pessoa muito pra cima, muito pra frente. Uma bonequeira de mão cheia. É das antigas ela tinha uma loja que ela tem até hoje. Hoje é o Armazém dos Ofícios, uma loja de economia solidária, mas na época era uma sapataria e onde ela também fazia reformas e costura de roupa, e
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os bonecos dela. Então ela sempre foi a fornecedora de figurino, boneco, roupa de boneco, boneco gigante, perna de pau, sapato de palhaço, enfim, ela fazia muitas coisas assim. E a gente começou a ir lá, com essa nossa amiga Bela que costurava e a gente começou a ir lá, aprender a costurar. Eu fiz alguns bonecos…tava fazendo alguns bonecos de mamulengo pro mamulengo da Fabi, que é o Veredas dos Mamulengo. Que ela também aprendeu
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a brincar aqui com o Chico e com o Walter. Aí nessa época a gente tava construindo a empanada dela, construindo o terno dos bonecos. E eu fiz acho que foi uns três bonecos pra ela. E aí a gente tava nessa de fazer as roupas dos bonecos, de fazer os bonecos e a Tetê ia ensinando pra gente.
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E aí a gente ficava tanto tempo lá na Tetê que a porta da loja era cheia de menino, ela conhecia todas as crianças da rua. E ela tinha o Mamãe Taguá que era um bloco, ainda é né, um bloco carnavalesco, que na época saía com o batuque do Taminoá, que é a galera do Paranoá, e os bonecos gigantes e tudo. Então a molecada da rua toda conhecia a Tetê.
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Era tia Tetê pra todo lado. E a gente falou ‘não vamos fazer um negócio pra essas crianças’. E a gente ficou acho que mais de um ano fazendo o que a gente chamou de brincando na rua. Aí, tipo…uma ou duas vezes na semana, já não me lembro, a gente ia lá e propunha brincadeiras de rua pra galera, perna de pau, construção de boneco, de roi roi, de brinquedos tradicionais, enfim, brincar de biloca. A gente pegava as brincadeiras assim
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juntava a molecada e fazia, fazia lanche, fazia pipoa, fazia suco. Ficou um bom tempo nessa brincadeira. Essa coisa da construção dos bonecos de mamulengo, acho que muita gente passou aqui. Teve a época que o Moisés Bento, ele morava aqui do lado do ponto de cultura. E a casa do Moisés por um tempo era o ponto. Todo mundo ia pra casa do Moisés, primeiro era muito doido ver ele trabalhando. Ele
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esculpia assim, de uma forma assustadoramente rápida, e fazia uns bonecos muito lindos, com uma estética muito dele, os bonecos todos pareciam com ele. Tinham o narigão dele, os traços negros, umas formas bem arredondadas, bem diferentes dos bonecos que a gente vê mais comuns. E ele tocava samba, tocava coco, tocava pandeiro. E o povo vinha e juntava na porta da loja dele,
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fazia uma bagunça e aprendia também. Eu aprendi a esculpir os bonecos com ele, observando ele. Ele fazia engenhocas. Eu tenho uma boneca que eu comecei e ele terminou que dança. Então tinha bem essa interação, a gente tinha com a Tetê, com o Moisés, na criação das empanadas, das soldas. Foi uma época bem construtiva assim, de fato. De pegar as coisas e vamos fazer.
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É…É um espírito que eu não tenho mais que admiro muito nas pessoas. Aquela canceriana, caranguejo, sozinha na toca. É…eu conheci o André…o André é designer de longa data autodidata, muito talentoso, também muito talentoso com cozinha. Ele trabalhou no restaurante do
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pai muito tempo então sempre foi uma mistura de cozinheiro-designer. Eu conheci ele no FestSesi ele tava fazendo a arte gráfica aí eu colei nele porque eu tava estudando, eu trabalhava, fazia o negócio e ia lá atrás do André. Porque como eu sabia que ele tava atrasado em tudo o que ele fazia, então ele tava fazendo as artes do evento na hora do evento. Aí ele tava tipo…ia pro restaurante que tinha restaurante. E ficava sem ninguém na hora
3’30’’
que não era almoço ou janta. Aí ele botava o computador dele lá e ficava fazendo a programação, o crachá, um monte de coisa. E eu ficava lá sentada com ele olhando o que ele tava fazendo. Eu também aprendi um bocado de coisa com o André. E ele veio se aproximando do ponto de cultura, prestando serviço, acompanhando alguns projetos e até que ele alugou uma loja aqui do lado. Que é aqui do lado, o ponto de cultura,
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aí tinha o Moisés e tinha o André. Que é onde é a loja que eu tô hoje. O André ele abriu a casa, abriu um cineclube e abriu uma cozinha, tudo ao mesmo tempo. Então embaixo era o cineclube e também o lugar onde ele trabalhava com arte gráfica, e também, onde ele fazia reprodução de cd. Ele imprimia dvd, gravava dvd, queimava dvd. Ele fez o dvd do seu Zé do Pife, dos Mambembricantes,
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de uma galera. O pessoal da música, dentro de cultura popular e que também é música autoral, assim né, música independente, ele queimou muito cd pra galera. Lembro que quando alguém encomendava a 500, aí juntava a molecada da rua, começava a cortar papel, refilar, abrir e colocar os cds dentro das caixinhas. Fazia tipo uma linha de montagem
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com a molecada pra poder entregar os cds, os dvds. E aí depois um pouco, ele fazia almoços memoráveis. Fazia feijoadas, acho que foi com ele que eu aprendi a comer várias coisas, tipo molho funji, feijoada vegetariana. Tudo que era vegetariado ele fazia sempre uma opção, mesmo ele não sendo. Eu achava isso muito massa.
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E enfim, ele fazia umas coisas doidas. O André ele experimentava muito na cozinha e dava uns almoços, e os aniversários de criança era na casa dele, aniversário de criança e de adulto, era tudo na casa dele. Depois veio mais essa coisa do cineclube, aí ele montou mesmo a estrutura, gravou vários filmes que ele achava massa, e você podia vir e locar.
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Aí começou a vir galera de movimento social, porque os filmes dele também tinham muito essa pegada, aí começou a colar alguns coletivos aqui. E começou o pessoal a fazer reunião no cineclube também. Mas, o André foi embora. Tá pingando em vocês?
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Ta chovendo mesmo. Então aqui no Mercado Sul toda loja tem esse vazamento aqui, não tem jeito. Já teve briga de vizinho, o povo já até caiu do telhado tentando arrumar isso daí e não acaba nunca. É daqui
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Eu acho que a política que a gente faz aqui, exerce é a gente mesmo que criou ela, assim. Assim, claro que nada foi criado do zero, mas foi uma coisa do jeito que a gente foi fazendo porque eu sinto que todo mundo tinha essa coisa, tinha a paixão. E quando a gente se enxerga no mundo, a gente começa a ver que a gente tá num lugar de disputa política. Então, quando a gente tá usando
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software livre e chega num lugar pra falar com as pessoas o porque, você começa uma disputa política. Se você tá no meio da cultura popular e entra numa discussão doe porque que a cultura popular em alguns lugares não é considerada cultura? Por que só cultura erudita? Por que vários porquês. Você começa a entrar dentro de um em espaço de disputa política de novo. Então você começa a se politizar e o que você faz também se torna um ato político, em si né.
1’30’’
E eu acho que essa…a nossa política é bem do fazer, do ensinar, do compartilhar a luta. Ela não é o movimento estudantil, o movimento sindical ou movimento partidária. Ela tem outras bases, tem outras raízes.
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Tem muita gente fazendo essa cultura por aí. Acho que ela ainda não tem um nome, ela ainda não tá formalizada, mas eu acho que acredito muito nisso. Então quando a gente abre, a gente abre é a roda, porque a gente aprendeu a abrir a roda na cultura popular. Então quando a gente começa, a gente começa pedindo a benção. Porque a gente aprendeu isso na cultura popular. Independente se a gente tá num evento de tecnologia. Sabe, então
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essa coisa do respeito aos mais velhos. E as vezes é até difícil você pensar, que a gente tá pensando por exemplo…que a gente tá…que quando a gente começa a entrar no campo político e a gente começa a expandir os horizontes, expandir as ações, a gente vai encontrando com os movimentos políticos, vai se encontrando com os movimentos sociais. E aí a gente vai construindo o retalho que somos, assim. Acho que tem muito dessa
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linha assim, de uma colcha de retalhos mesmo. E agora com a Ocupação acho que isso se intensificou e foi pra outro patamar. Porque até então a nossa politica era do ‘fazer aqui e agora, vamos nessa.’ Tinha uma galera que se envolvia dentro do governo também, se envolvia com políticas públicas. É…se envolvia com fazer dentro do movimento cultural. A gente se envolve também com movimento de tecnologia. Mas,
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acho que com a Ocupação vieram novos fatores. Veio o direito à cidade, veio outras esferas. Veio o Movimento Passe Livre, veio outras galeras. A gente também entou em conexão com MST, em jornadas de agroecologia. A agroecologia também é outra coisa que se incorporou dentro da questão. Eu acho que a gente saiu do âmbito de movimento cultural
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pra um movimento multi, multi sei lá o que. Multi muitas coisas. Porque é o cultural, é o ambiental, é o tecnológico, é os direitos, são nossos direitos, é o feminismo. É a luta de classes, é tudo junto e misturado. Eu acho que essa mistura, ela é muito positiva. Eu acho que o fato da gente não ter vindo de uma construção política, é vamos dizer, tradicional
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ela nos fortalece muito pra gente não ter os vícios que elas têm, da hierarquia, da forma como as coisas são tratadas, decididas. De muitos ranços mesmo, que isso nem é esquerda nem direita. É a própria construção política, mais formal que se construiu. Acho que a gente não tem alguns desses ranços ne, porque a gente veio de uma construção que foi sendo feita no fazer.
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Sim. Sim. A Ocupação
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ela é sim…ela é tipo uma consequencia. A gente tinha as atividades que aconteciam aqui no ponto de cultura. Aí teve uma época que aqui o térreo virou um telecentro e aí a gente não podia mais rolar a capoeira. Na época rolava capoeira, yoga, as rodas do ‘Eu, Livre’, rolavam aqui e rolavam algumas outras atividades. E aí a gente,
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‘então, pra onde a gente vai’? A gente foi pro parque, ‘Vai quem quer’, Saburo Onoyama. E a capoeira acontecia lá, a yoga acontecia lá. As rodas, acho que como era uma coisa que não exigia tanto espaço continuou aqui. Só que aí depois também não podia ser mais no parque, porque o parque só aceita atividades não remuneradas. E aí nenhum dos professores era aposentado e tava de boa
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pra oferetcer seus serviços gratuitamente. Que é o caso do parque, que a maioria das atividades são feita por pessoas, tipo…que é massa também né, mas tipo assim, pessoas aposentadas que tão no luxo de poder oferecer atividades gratuitas. Aí a gente ficou de novo sem ter lugar porque a galera do parque falou que a gente não podia mais fazer yoga e a capoeira lá. Aí a gente juntou algumas pessoas que tavam nessas atividades
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e falou ‘não, vamos alugar uma loja? Bora que a gente precisa, a gente tem que ter espaço, a gente pode ter várias outras coisas e tudo’ Começamos a caçar uma loja por aqui e alugamos uma loja dupla no outro beco e chamamos de Espaço Cultural Mercado Sul. A gente tentou mudar esse nome várias vezes, porque a gente achava que a gente não representava o Mercado Sul inteiro. Mas tipo, foi o primeiro nome que veio e a gente teve umas quatro dinâmicas de grupo
2’30’’
pra tentar conseguir o nome pro espaço e nunca saiu nenhum nome. E foi, e pronto ficou esse. Aceita que dói menos, é isso, então ficou Espaço Cultural Mercado Sul. Aí lá começou com yoga, capoeira, as rodas do ‘Eu, Livre’ que na época era um ambulatório popular, que uma vez por semana vinham os terapeutas e vinha uma galera e atendia as pessoas com várias terapias a preços populares.
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Fazia um circuito de terapias, massagem, reike, orientação sobre alimentação, sobre medicina ayurveda, várias coisas. E aí nisso a gente começou a ter oficinas de tudo quanto é tipo. Oficina de palhaço, teve a oficina do Valentim, aí começou as festas, aí começou o povo da capoeira a fazer as festas da capoeira. Começou o samba de roda e aí foi crescendo. Aí a partir do…a primeira festa junina que a gente fez aberta, a gente fez assim,
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divulgou e tudo, foi uma festa que o Mercado Sul tava oferecendo, a gente pegou todo o dinheiro e ajudou a Tempo Eco Arte, que tava num momento de precisão. A gente pegou o dinheiro arrecadado com cerveja, com venda de comida e fez essa doação. Aí a partir do segundo arraiá que a gente já estava com o Espaço Cultural Mercado Sul, a gente começou a usar o dinheiro do arraiá pra investir na loja. Porque a loja tava como essas que a gente ocupou agora, completamente
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desestruturada. Sem água, sem luz, sem porta. Com chuveiro dentro. Então toda vez que tinha uma arraiá a gente embutia o que a gente conseguia ganhar arrumando a loja. Porque a gente arrumando a loja, mais gente ia poder fazer as atividades. Então a gente recebeu muita contrapartida do FAC, muita oficina, espetáculo, lançamento de projeto, de livro, de cd. Muita coisa de música,
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só que aí foi isso assim…Essa galera do Espaço Cultural Mercado Sul, é a galera da minha geração. Era eu, a Luciana Meirelles, a Fabíola, a Thabata, a Dione, Keyane, chegou depois mas, tava junto…Farid, o André que não tava mais com a loja, mas ele ainda tava aqui, ele não tinha se mudado, a Sharya.
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E foi essa galera que ponteava assim o espaço nessa época. A Carol depois também. E aí todo mundo foi seguindo seus rumos. A Dione mudou pro Capão, a Lu viajou, Keyane virou, comeu perna de cachorro, a Thabata enveredou dentro da missão da carreira musical dela, a Fabíola ficou grávida,
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enfim, aí puff. Moisés se mudou, Moisés era o professor de yoga. Ele não tava mais conseguindo vir, tava morando longe. O aluguel aumentando, de seis em seis meses aumentava 100 reais. E aí decidimos encerrar. E aí entregamos os pontos em novembro de 2014. Mais assim, sem aquele sentimento de tipo óh
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não porque, a vida que tava levando todo mundo pra outros rumos mesmo. E depois disso rolou esse hiato, porque era um espaço que acolhia as atividades coletivas.
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Foi. Foi. Sim. Sim. A TEIA foi em 2008. Eu trabalhei nela na coordenação da fotografia, da equipe de fotografia da TEIA. E também trabalhei
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posteriormente na diagramação dos dois livros. Um falando como tinha sido a TEIA e os documentários que foram criados e um outro mais técnico que era mais um mapa dos pontos de cultura, o que tava acontecendo, os números. Então teve esses dois livros que a gente editou. Foi um dos primeiros trabalhos que eu fiz como Gunga, que é a empresa que eu criei junto com o Farid, foi esses livros da TEIA.
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E foi assim, nossa, muito forte. Um encontro de muita gente, muitos mestres, muitas…mestres em todos os sentidos, mestras e mestres. Encontro de muitas pessoas querendo, foi de uma efervescência e teve um grande cortejo no Eixo Monumental. Muito doido e toda aquela galera das cultura popular tudo, dos
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candomblé tudo. E entramos na Catedral, e aí não deixaram a gente entrar na Catedral. Entrou um pedaço do povo. E quando eles viram que era muita gente e fecharam a Catedral, aí um povo ficou preso do lado de dentro e um povo do lado de fora. Aí foi aquela bagunça, que o povo…enfim né, tipo…a Catedral é ecumênica tem que entrar mesmo. Teve aquela bagunça mas no fim deu tudo certo.
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Acho que foi um evento que marcou, tipo um auge desse movimento, do encontro dos pontos de cultura. Eu não fui nas outras TEIAS, eu não tive a oportunidade de ir, mas essa foi bem especial.
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Eu acho que…não sei se a TEIA foi esse ponto, nunca relacionei, mas acho que aqui foi um centro que fez
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pessoas se encontrarem, fez ideias se encontrarem, proporcionou muitas oportunidades pra muita gente. E acho que pra essa diversidade ele ficou pequeno. Em vários sentidos. Em espaço, pequeno em ideias também, que pô, a galera querendo juntar, fazer e tal. Nesse processo rolou atrito. É nesse processo que vem as diferenças. Acho que vem as diferenças
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da forma como as pessoas viam o que era a gestão de um espaço. Então, o ponto de cultura ele tinha esse caráter bem aberto, mas ao mesmo tempo ele não era um espaço coletivo. Eu acho que na época eu não entendia, porque também era confuso. Porque o que se falava era isso, era que é de todo mundo, mas não era. Era de um núcleo, do Chico, da galera que produzia.
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Acho que esse foi um dos conflitos, porque ele chegou num lugar onde ele era… as coisas tavam chegando num limiar onde já não tava dando certo porque as pessoas estavam se apropriando do lugar, só que essa apropriação tinha um limite. E, aí é isso, quando chegou esse lugar do limite rolou aquele zig, assim.
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E aí falou ‘não, não então não é aqui, não é assim’. E aí muita gente saiu e tal, mas acho que saiu nisso, saiu pra alugar a loja do lado e continuar aqui e tá junto de uma forma ou de outra. Então acho que foi nesse que meio que teve a coisa do André, não nesse, por conta disso. Mais também foi nessa época que o Virgílio veio pro Mercado Sul, foi também nessa época que eu fundei a Gunga com o Farid, foi mais ou menos nessa época que as
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meninas se juntaram e fundaram a Casa Moringa, um pouco depois. Então acho que é isso, ficou pequeno. E aí então tá, vamos fazer vários elos, e a partir disso surgiram várias iniciativas e elas se consolidaram e se aprofundaram no que elas queriam, da forma que elas queriam.
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Eu entendo, compreendi dessa forma. E hoje eu vejo já que por exemplo, já compreendo mais assim, mas a gente fala que ‘pô é tudo aberto, tudo aberto, mas na hora de fazer uma decisão, tipo a gente não tá dentro das decisões. Mas o espaço era da galera. Acho que falta comunicação, mas ao mesmo tempo é um aprendizado. E tipo, acho que de forma nenhuma isso diminuiu nada, nada.
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Eu acho que isso foi só um ponto pras coisas crescerem. Não vejo de forma negativa, não foi. Na verdade…por exemplo, o fato de aqui ter virado um telecentro foi só um ponto na história, pra gente sair daqui, pra ser expulso pra outro lugar, pra poder fazer o Espaço Cultural Mercado Sul que impulsionou muito a coisa da Ocupação, nesse sentido de querer ter um espaço que fosse
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realmente aberto. Que fosse de todos, porque a Gunga é a minha loja, eu alugo lá. Então lá é as minhas regras, tá ligado? Então a Tempo Eco Arte? É a Tempo Eco Arte, são as regras do Virgílio. O NPDD é o NPDD e tem, cada um tem a sua missão, cada um tem a sua área, cada um tem a sua construção. E acho que o Espaço Cultural foi essa
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coisa da construçao que podia ser de todo mundo e todo mundo usava, todo mundo fazia parte. Acho que quando ele acaba e depois quando vem o burburinho da conversa sobre a Ocupação, acho que foi um pouco nisso. Então, ‘poxa a gente vai ficar sem esse lugar, que é o lugar onde todos podem usufruir?’ Não é fácil fazer isso, manter um lugar aberto dessa forma. Mas a gente vai ficar sem esse lugar.
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Uma coisa foi levando a outra, sempre numa crescente. Rapaz eu não sei muito da história da Ecofeira não. Porque quando a Ecofeira surgiu eu já tava numa missão, muito dos meus trabalhos. Eu sempre apoiei, sempre fui em várias. Hoje eu exponho na
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Ecofeira, mas eu não participo das reuniões. Não tô ligada nos paranauê. Mas assim é uma feira que ela surgiu, muito naquela coisa de botar pra fora os trabalhos do Virgílio né, da Tempo Eco Arte e a foi crescendo, foi crescendo. Vindo outros artesões não só nesse sentido do valor ambiental. Mais também da economia solidária,
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no sentido do feito à mão, do feito pelas pessoas, do trabalho justo, do preço justo, de uma outra pegada. Acho que hoje ela tem um caráter. Ela não é uma feira que tem curadoria. Eu que entrei num circuito de feiras passo por várias curadorias onde a pessoa te aceita ou não, para estar na feira. É uma feira livre, e mesmo sem curadoria eu sinto que ela é
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super nicho. Ela tem a galera que realmente tá pensando em fazer diferente, fazer pensando em sustentabilidade, fazer pensando em novas ideias. Refletindo mesmo o fazer do artesanato ou da arte. Ou mesmo da agricultura…tem agricultor que leva a banca na Ecofeira.
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Saúde…tipo…vários ramos pensando de várias formas diferentes e naturalmente. Eu acho que é muito bonito de ver isso.
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Ce fala a ecofeira ou não? Todo, todo? Nossa mudou…Quando eu cheguei aqui o beco daqui era igual ao beco de lá. A única loja que era pintada, não sei nem se tinha loja pintada. Aqui tinha um banner na frente, um banner ‘Invenção Brasileira’ mas tipo era quase uma foto preto e branco aqui antes. E isso assim
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isso há dez, doze anos atrás. Então antes disso né, que a galera também tá vindo de uma história anterior a essa, também já…E aí como sempre a galera daqui era os macumbeiros, os maconheiros, os vagabundos, e tal. A sina do artista. Aí todo esse movimento foi mudando tudo. Porque eu acho que quando você trabalha com cultura, a cultura ela é muito ampla.
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A cultura quando você trabalha por exemplo, com teatro, com boneco…é…mais cultura também é cultivar a fachada da sua loja. É cultivar um vínculo afetivo. Então, acho que isso foi mudando o Beco. Nesse sentido de que a pessoa vinha aí arrumava a fachada, aí o outro pinta e você vai e pinta também. Aí veio a onda das plantas porque antes não tinha planta nenhuma aqui.
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Nada, nada, nada. Aí a galera do Sítio Geranium veio fazer oficina de ervas medicinais, isso a muitos anos atrás, e a gente resolveu como que por impulso quebrar a calçada da porta da Tempo Eco Arte. E a galera ‘não, não vai quebrar a calçada’. Eu falei ‘galera vamos quebrar a calçada, nada vai crescer em cima da calçada’. Porque a galera trouxe umas
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plantas que não iam crescer se não fosse em profundidade. ‘Vamos quebrar, vamos quebrar, as imobiliarias nunca vem aqui mesmo’. Aí quebramos a calçada que fica entre a minha loja hoje e a Tempo Eco Arte. E a gente fez o primeiro jardim ali. Aí depois a galera da metarreciclagem colocou vários monitores, ocos, pra jogo. E a galera pintou os monitores, e até hoje ainda tem esses monitores
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esses monitores são velhos. E botou o monitor, distribuiu com plantas assim, aí foi virando. Acho que…e as pessoas foram vindo pra cá, morar. Esses dias eu tava conversando com a Nayara, que hoje ela faz a feira agroecológica aqui. Ela já morou aqui alguns anos. Aí ela falou que ficou doida quando veio aqui e falou ‘meu, eu quero morar nesse lugar’. Aí ela veio e morou aqui não sei quantos anos, acho que foi um ano, um ano e pouco.
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Acho que várias pessoas tem esse mesmo sentimento. E várias pessoas vieram morar aqui por isso. E aí quando a pessoa vem morar aqui ela é engolida. E aí se ela tá aberta, ela é engolida. E aí quando vê ela tá trabalhando com não sei quem, fazendo não sei o que lá, trocando com não sei quem. E aí entra dentro da roda. E aí muita gente veio junto com essa onda.
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Veio o Moisés, veio o Virgílio, aí já veio alguém que conhece. Veio o Juraci depois, morou um tempo também. Farid morou um tempo aqui. Várias pessoas que hoje ou transitam ou trabalham também já moraram aqui alguma época, algum tempo. Thiago, Lu Meirelles já morou aqui, a Thabata morou, desmorou, morou de novo. Ixi muita gente, muita gente já morou aqui.
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A interação eu sinto que ela é bem diversa. E ela passa por uns, por ondas. Tem épocas que tá mais amigável, tem épocas que não. Quando eu cheguei aqui
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não era muito amigável, a gente era visto como os intrusos mesmo, a gente sentia um pouco isso. Mas ao mesmo tempo a gente era jovem, não tava nem preocupado se a galera que morava no Mercado Sul, que que eles tavam achando da gente ou não. Hoje por diversos outros fatores já ttem essa preocupação. E eu acho que algumas pessoas foram
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conquistadas, entraram dentro dessa roda, outras abominam ela. Acho que isso não é uma coisa…pra mim o Mercado Sul é um pequeno universo, então o que acontece aqui, acontece no Brasil inteiro. Da mesma forma que…e como eu falei…é uma disputa política, é um espaço político. Então, quando a gente trabalha com cultura tradicional que muitas vezes é cultura de matriz africana, a gente trabalha com preconceito.
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Diversidade em vários aspectos, você trabalha com preconceito. Quando você trabalha com arte você já tem isso também, de ser artista…ser como fosse uma classe menor. Então, quando você trabalha fora dessa lógica de você ser escravo do seu trabalho
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você já é tido como uma pessoa que não faz nada. A gente passa por isso aqui, como a gente passaria por isso em qualquer lugar do mundo, eu acho. Aí já houve várias tentativas de aproximação, mas nem sempre vai pra frente. As vezes vai, as vezes não vai. Acho que por muito tempo eu me senti meio…nunca me coloquei muito por ser jovem,
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então a galera também não bota muita fé porque tu é jovem, então tu não tem muito espaço de fala quando faz uma reunião, por exemplo, de moradores. Aí acho que essa relação aqui, de alguma forma ou de outra ela sempre vai ser assim, como é em vários outros lugares. Acho que isso é uma construção de sociedade. Então, se a gente…é…hoje a nossa luta aqui é pelo diálogo
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que as pessoas não querem dialogar. Elas querem chamar a polícia, botar na justiça, reclamar com o outro, mas elas não vem falar com você se tem alguma coisa incomodando. Não existe o diálogo. Acho que a luta maior hoje é o diálogo porque a gente precisa conviver. E não adianta viver pisando na cabeça do outro. É isso, é muito doido.
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Mil tretas, mil fitas. Porque aqui é muito diverso. Ao mesmo tempo que tem aqui a história do mamulengo, tem a história da serralheria, a história da galera do salão de beleza, a história de…várias histórias…que tem anos que estão aqui também. Acho que alguns…aí é um misto muito entre tapas e beijos. Tem hora que conversa
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com a galera ‘aqui é o Mercado Sul’ e você vê a galera falando sobre o Mercado Sul…‘vários artistas e acontece várias coisas’ e no outro dia você vê a mesma pessoa ‘essa desgraça de lugar, esse barulho’…e é assim, a vida aqui é assim. E acho que a gente tem que levar menos a sério, porque é difícil, não é mole não.
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A Fabí, eu conheci ela no segundo grau, que foi assim. Eu conheci o Mercado Sul pela Luciana Albertim, mas quem me trouxe pra cá mesmo foi a Fabíola, porque ela fazia, ela também fazia teatro aqui e eu me aproximei muito dela porque eu era amiga do namorado na época dela. E aí foi quando eu colei mesmo no Mercado Sul, foi com com a Fabíola. E foi nessa época…a Fabíola saiu do interior de Minas
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pra vir estudar artes cênicas. Ela veio fazer o segundo grau aqui em Brasília pra conseguir passar no vestibular pra fazer artes cênicas. E ela fazia teatro aqui e eu acompanhava ela em várias aventuras por aqui. E ela decidiu aprender a arte do mamulengo. E muito também nessa força de que ela nunca tinha visto uma mulher brincar.
1’
Aí ela entrou, mergulhou de cabeça. Foi uma dos vários aprendizes que o Chico teve, também junto com o Walter também. E a gente deu muito rolê com os dois, em apresentação de mamulengo. Eu fotografando muito, nessa época eu comecei a fotografar e a desenhar também.
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Foi bem inspirador. E a Fabíola ela, o mamulengo dela, ele é feminino como ela. Ele é muito ela. O mamulengo ele tem essa coisa mais…esse humor negro, esse humor áspero. E a Fabíola ela não, ‘eu quero fazer o movimento de encantaria, um mamulengo pra encantar as pessoas
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pra puxar elas, pra outra coisa’. Então o mamulengo dela é bem diferente, apesar da história ainda ser uma raíz bem puxada pras histórias de mamulengo, só que a protagonista dela é uma mulher. E aí vem…são outros ensinamentos, outras histórias. Acho que ela construiu muito legal as músicas do mamulengo dela. É um mamulengo muito musical.
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E mais metafórico. Tem muitas cenas que não tem falas, que são só instrumental, tem a música e o boneco mesmo, o movimento do boneco. É isso, a Fabíola é essa pessoa. Aí hoje ela tá…ela se ligou muito com o movimento da ação griô. Que ela foi representante no ponto de cultura por um tempo, dessa parte da…junto da ação griô. E a gente deu muitos giros assim,
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com essa galera griô aprendiz regional. Então ela mesclava esse trabalho do mamulengo dela também com as histórias dos mestres. Ela escreveu livros com as histórias do mestres. Hoje ela tá encerrando um ciclo mesmo. Agora ela é professora na rede pública. E tá encerrando esse ciclo dos mestres, fazendo os mestres se encontrarem. E das apresentações de mamulengo…
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que foi os mestres que a gente se conectou…A mãe do Virgílio foi uma. Hoje ela já tá num estado de saúde mais…dona Estelita, que teve muito pra ensinar. Seu Zé do Pife, a Martinha do Coco. Teve mestres que já faleceram. E é isso. Acho que o ponto de cultura sempre foi esse lugar pra gente conhecer essas pessoas.
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Walter. tem que ficar falando dos outros é? Fofocando aqui nesse documentário.
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Foi essa figura assim, a Rose. Aí depois ela passou um tempo daqui afastada. Eu sei que ela continuava ajudando nas questões administrativas, mas presencialmente nas atividades ela já aparecia muito pouco. Não, só formalmente
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tipo, porque quando a gente criou a Gunga a gente trabalhava no apartamento do Farid. Aí como era um lugar residencial a gente não podia botar a empresa lá. Aí a gente colocou ela aqui onde é a Tauá. Aí quando a gente alugou a gente transferiu pro nosso endereço. Tinha uma placa ali, mas era só de fachada.
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Quando eu cheguei aqui a Rose administrava o espaço, ela quem cuidava das coisas. Ela que brigava com a galera pra deixar tudo ajeitado, tudo arrumado. A gente era muito moleque, tudo doido, a gente bagunçava tudo e a Rose é que botava ordem na casa. Ela tinha muito essa missão aqui e muito cuidadosa com as coisas, com os objetos, com os bonecos,
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com as plantas. A presença dela aqui, ela mudou o ambiente. Também quando ela saiu também mudou. Walter. Ou eles tão pedindo pra gente fofocar aqui Thiago. É…botando a lista do povo pra gente falar do povo. Gente o Walter, o Walter é muito doido. Quando eu conheci ele…
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ele era que junto com o Chico dirigia os autos de natal, e as peças. Ele fazia esse papel bem presente do diretor do teatro. Eu encontrei com ele…conheci ele mais no Sesi quando eu ia assistir os ensaios e ele tava lá dirigindo os ensaios, dirigindo as peças. Acho que foi, foi assim que eu conheci o Walter. E nas viagens, era muito doido. O walter
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Cê ia com ele tinha onde comer, onde dormir, passava bem se você andasse com o Walter. Ele muito animado, andava com os irmãos, tinha uma família lá em Olhos D’Água, até hoje ele tá com os irmãos aí. É isso, bonequeiro também, tá aí aprendendo, tá aí ensinando. É uma pessoa muito focada nas coisas que ele faz.
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Ce não vê o Walter dando mole, de bobeira, encostado numa parede. Ele…eu sempre vi isso…o Walter é mamulengueiro, então ele foi…é isso, ele apresenta, ele vai, faz um cd, faz não sei o que, faz cenário. Acho que foi ele que aproximou um pouco a Nem do movimento aqui no Mercado Sul porque…não só aproximou como incitou
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porque agora a Nem…antes era a Tetê e hoje é a Nem a costureira, que faz os bonecos, faz a roupa dos bonecos, faz figurino. E aí ela é mãe de uma amiga nossa a Mariama que veio morar aqui depois de um tempo…falei tudo errado. Ela é sogra da Mariama, que é amiga nossa, veio morar aqui no Mercado Sul e depois de um tempo ela veio.
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E ela é costureira, abriu a oficina de costura dela, aí pronto, caiu na rede é peixe. Costureira aqui no Mercado Sul, aí agora todo mundo faz tudo aqui com ela. E aí, ela gosta, ela é baiana ela gosta da bagunça. Acho que ela é bem feliz em fazer as maluquices que a gente vai lá encomendar pra ela. Ela fala ‘ai essas coisas de vestido de festa, tô cansada’ aí chega lá um malucão com uns desenhos muito doidos, ou se não umas roupinha desse tamanhozinho de mamulengo,
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aí ela faz. O Chico. Chico Simões. Ai gente tá começando a ficar difícil. Falar das pessoas não é fácil. É…Chico Simão…Chico Simão pra mim ele é um eterno jovem sacou? Quando eu conheci ele, andava eu ele e a Fabíola e a gente dava altos rolês e saía e ia pro bar
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Faixa de Gaza e ia pro Kareca e ia pros festival. A gente andava junto, tipo brother. E ele tinha muita história pra contar, era muito bom andar com ele. Acho que quando, nos meus primeiros anos aqui foi quando eu fui mais próxima dele. Porque ele era mais próximo da Fabíola e aí eu ia na rebarba. Papagaio de pirata dela. E..
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aprendi muito com ele. E a gente ia ver os espetáculos eu achava o máximo. Que ele é super crítico aí a gente ia assistir os espetáculos. A gente ia assistir as apresentações de mamulengo de outras pessoas. Aí a gente voltava e ‘pepepepepepepepepe’. E nossa, a gente lascava todo mundo. E tipo, mil conversas profundas, aquelas viagens tipo, a gente viajava muito dentro dos conceitos
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das coisas. Acho que essa proximidade que eu tive com o Chico, os momentos mais legais foram esses de ficar viajando do que é cultura popular. Ele falava assim ‘mas o que é cultura popular?, cultura popular não existe’, ele queria quebrar a gente, pra gente tipo, pensar em tentar rebater ele. Porque ele via que a gente tava formando uma opinião e tipo vinha e cortava. E ‘não vei, pensa de novo
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vou te cortar aqui só pra te cortar, posso até tá errado, mas eu vou, eu quero cutucar’. Assim tipo, por que você tá formando esse conceito? Quem disse que isso é um conceito? Ele tem muito essa coisa de construir e desconstruir, então tudo que ele faz daqui a pouco ele muda tudo. Eu faço logos, eu faço logo pra eles tem uns 10 anos, porque ele tá sempre mudando. Aí todo ano ele quer uma logo diferente. Todo ano ele repensa o trabalho dele
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o que o tabalho dele significa na vida dele, significa no universo. Ele tá sempre ressignificando tudo, ressignificando as palavras. Tem muito essa coisa de ressignificar as palavras, ressignificar os conceitos. E isso tem muito a ver com o trabalho dele. Até hoje ele faz o mamulengo dele. Esse mamulengo dele ao mesmo tempo se você olha e você acompanha, ele tá sempre mudando também. E acho que o Chico é muito isso assim
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essa metamorfose ambulante. E eu sinto que ele sempre tem essa coisa de deixar a galera fazer. Ele é desapegado com as coisas. Se ele ver que você tem jeito com a coisa assim, e começou a empolgar com ela, ele já te dá ela logo pra fazer. Tipo assim, ‘ou faz aí’ aí ele ‘ah é tu gostou disso então pega e faz’. Ele tem isso,
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isso é muito legal quando você encontra com alguém…por exemplo hoje ele é considerado mestre, mas quando eu conheci ele ele não era considerado mestre, mas ele tava no processo. Então é uma pessoa que as pessoas respeitam, que a gente via que chegava gente e conversava com ele. A gente nem sabia muito bem o que o Chico era e representava. Mas, a gente entendia que ele era uma pessoa que tava numa posição de ter um conhecimento, de ter um saber.
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E aí era…e é massa quando uma pessoa que tá nesse lugar, ela não fica com as coisas pra si mesmo. Ela não fica juntando as coisas tudo pra ele. E ele vai jogando as coisas pro povo e o povo vai pegando, vai fazendo, vai estragando, vai devolvendo, vai fazendo melhor. É bem desapegado com as coisas. E isso é massa, porque fez muita gente aprender muita coisa. E é isso.
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Ah…eu acho que quando eu fiquei sabendo das coisas do software livre, do movimento, eu fiquei sabendo por umas pessoas muito legais. Umas pessoas muitos entusiastas e que estavam muito dispostas a ensinar. E ao mesmo tempo quando eu via politicamente justo, politicamente correto, autonomia. Tem vários conceitos ne. A coisa de ser das pessoas para as pessoas. Não tá dependendo da vontade do capital
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ou do interesse do capital. É uma comunidade que faz, essa comunidade ela te apoia. Então varias coisas no software livre pra mim faziam todo sentido. Eu falei ‘nossa é isso’. Então acho que pra mim eu aceitei muito fácil. Bora nessa. E tinha muito essa vontade de aprender as coisas. Então foi nessa época que eu aprendi a mexer com softwares de verdade. Porque eu já tinha feito uns cursos, mais uns cursos nada a ver.
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Foi nessa época que eu aprendi a fotografar. Então eu fui pegando uma onda, que pra mim foi muito fértil e quando eu vi, eu já mexia em tudo, eu sou muito fucenta. Tanto desenhar quanto mexer nos programas foi muito de forma muito autodidata. Aí hoje eu já dou palestras sobre os programas, eu dou aula de coisas bem específicas dos programas, pra partes partes bem profissionais.
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Só pra quem realmente trabalha com aquilo, por exemplo, hoje eu sou referência nisso. Parece meio ‘ha, sou referência’, mas o pior que é isso mesmo. Eu sou referência na parada. E é muito bom porque as pessoas têm muito essa coisa, não funciona, não da certo e é legal ver que não só eu mas tem várias pessoas que provam ao contrário. E a gente viajava muito nessa
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coisa de ir fazendo oficinas, ensinando as pessoas. E eu nunca esqueço de uma das pessoas que foi a Daraína, que ela tem um ponto de cultura também lá em Pirenópolis. Aí a gente foi conversar com ela o que era o software livre pra ela. Ela já é uma senhora, não tão senhorinha, mas é uma senhora. E ela falou ‘nossa, que massa, instala esse negócio pra mim aí, eu vou usar ele’ e ela usa até hoje.
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E ela é aquela pessoa que nunca ligou pra gente pra falar que deu merda, que deu tudo errado. Ela pegou porque ela não tinha nenhuma ideia do que era, do que não era…a diferença de windows, linux. Ela nem sabia das coisas negativas. Não sabia das fofocas, não sabia das coisas ruins, das coisas boas. Ela simplesmente gostou da filosofia e falou ‘massa eu vou usar’. E as vezes eu acho que muita gente fica embarreirado
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nas coisas que não…nas coisas que acha que sabe, e as vezes que não sabe de nada são a galera que tipo pega e usa na maior tranquilidade.
Qual era a pergunta? Eu fico fugindo, eu falo do Chico mais fico fugindo.
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Ai meu deus, eu deixo essa parte pro Farid, sempre…Software livre, nossa…acho que essa foi pior do que a das pessoas…fala de fulano…softwares livres são softwares que são feitos por comunidades eles são livres, ou seja, o código desses softwares são abertos. E quem souber e quiser mexer pode alterar ele da forma que quiser. Então eles não são propriedade de ninguém. Então acho que um conceito primordial
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é que o conhecimento ele é livre. Então se você cria algo, ele é para todos. Então você não pode encerrar o conhecimento em você, só porque você criou. Porque, afinal, nenhum conhecimento da humanidade ele foi criado a partir do nada. Ele foi criado a partir de conhecimentos de outras pessoas que alguém aprimorou ou sintetizou e criou um novo conhecimento em cima daquilo. Então acho que um pilar muito forte é isso,
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que o conhecimento tem que estar aberto. E ele tem que estar a favor das pessoas que vão utilizar. Acho que é isso, software livre, são softwares livres.
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a gente tem vários amigos que viraram capa de revista. A Luciana saia em todas as capas de revista. Quando a gente viaja pra esses lugares é muito doido. Por exemplo, quando a gente vai filmar ou fazer um registro ou mesmo fazer uma apresentação e você tá indo pra registrar e registra um grupo ou mestre de cultura popular é muito doido que naquele momento, aquela pessoa
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ela…é um processo muito forte pra pessoa que a gente vai registrar. Ela naquele momento se sente observada, como eu to sendo agora, mais ela também se sente importante. E senti que a história dela tem que ser contada e tem que ser registrada. Aí essa pessoa se vê com outros olhos. E é muito forte isso quando a gente vai em alguns lugares. Tem pessoas que já tão nessa coisa de dar entrevista, já tão bem articulados nesse sentido
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e tem outros que não. Que as vezes na própria rua dela, as pessoas não conhecem, não sabem o que ela faz. E de repente tem uma equipe de audiovisual lá filmando a história dela. E de repente vira notícia e as pessoas começam a reparar naquela pessoa. E o registro, isso é o momento do registro. Mais depois que ele vai pra um produto, vai prum vídeo, vai prum livro, aí eu acho que aí que ele tem uma grande importância. Porque ele
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socializa aquele conhecimento e é um retorno pra quem transmitiu aquele conhecimento. Uma coisa que eu não esqueço é que eu fiz o livro junto com outros dois designers que chama Nação Griô, da ação griô nacional. Que era uma compilação gigantesca de todas as ações…