Entrevista – Geraldo Magela – Invenção Brasileira 30 anos

|< VOLTAR PARA LISTA DE ENTREVISTADOS

Transcrição da entrevista com Geraldo Magela

Ib30-geraldo-01

00’

Então, as famílias, é..o que acontece com nossa brincadeira, nós encontramos dificuldade de incorporar pessoas, tem muita gente que não tem nenhuma ligação com essas coisas, até a ditadura fez isso, ne. Ela sufocou a cultura popular em função de modernizar, a falsa modernização,

30’’

botou guitarra na mão da juventude, eletrificação dos instrumentos, em função disso sufocou e inclusive cresce o preconceito contra os instrumentos usado na cultura popular,  sanfona, cavaquinho, viola, isso foi, tinha um certo preconceito com isso, no entanto, passou vários…uma dezena de anos

1’

Sem as pessoas aprenderem a tocar esses instrumentos. Acordeon, né, cê vê que hoje essa moçada mais nova ta voltando a tocar esses instrumentos. Aqui em Brasília vocÊ naão encontrava esse tipo de coisa e as pessoas que vieram pra Brasília, elas não vieram pra ajudar a melhorar a cidade, fazer a cidade crescer. Elas vieram na intuição de trabalhar, ganhar seu dinheiro e voltar pra sua cidade de origem

1’30’’

E ter uma vida melhor, poder montar um comércio, comprar um sítio, comprar uma casa. Então essa era a intenção das pessoas que veio pra cá. Um exemplo claro é que Brasília foi uma cidade arquitetada para ter 2500 mil pessoas e houve essa explosão demográfica justamente em função por que? Porque aqui se concentrava melhor renda do país. Então todo mundo queria vir pra Brasília porque aqui se ganhava

2’

bem . sim e aí tem a questão cultural NE, porque, na brincadeira do bumba meu boi você tem os músicos, vc tem os matraqueiros, vc tem toda a parte instrumental e você tem as bailarinas, tem todo um processo, um ritual que tem e é a dificuldade de vocÊ encontrar pessoas que tenham interesse em brincar

 

2’30’’

É muito, era na época que a gente começou era muito grande. Hoje já tem uma certa facilidade, mas na época, e justo em função do ponto de cultura essa ampliação de saber, de procura pela cultura popular o ponto de cultura também que foi, ajudou bastante. Então nesse processo aí tinha muita dificuldade, a gente montar o boi nosso, nossa senhora, pra encontrar

3’

Pessoas que tivessem, quisessem brincar num boi foi muito difícil. Então quando a gente consegue montar o boi com a parte musical, a parte cênica, com a parte cênica e com a parte de dança, quando a gente fecha o processo que era…o que que tinha acontecido? Ele fecha esse processo mas a gente tem que continuar a caminhada continuar com o processo pra poder ir aglomerando mais gente, ir

 

3’30’’

Buscando novos, novos participantes, influenciar as crianças também pra brincar. Inclusive nossa brincadeira já tinha, já tinha jovens que eram pais e as crianças nasceram bebezinhos, e pai já tava levando pra brincadeira. O pai com três anos de idade a criança já tava dançando bumba meu boi com a gente. Que que acontece? A  gente sofre um golpe sério.

 

4’

Que é a questão política. No governo agnelo que a gente esperava que a coisa ia tomar uma outra forma foi uma coisa de doido, e termina a gente ficando sem recurso sem nada. Tivemos que fechar, acabar com a brincadeira. Dispersou o grupo. E aí ta tudo parado, já tem cinco anos que a gente não consegue fazer mais nada.

 

4’30’’

A política do agnelo, foi uma política terrível pra essa parte aí, porque não foi só o nosso grupo foi o distrito federal em peso foi… Inclusive nesse trabalho aí que eu acho que eu fiquei decepcionado quando eu cheguei na secretaria de cultura a gente foi fazer um projeto, uma emenda parlamentar e eu tinha

 

5’

Colocado os instrumentos musicais de sopro, porque é o seguinte, o boi também usa isso, o boi de orquestra, e a intenção nossa era influenciar uma juventude pra poder aprender a tocar esse instrumento, montar uma banda de música. Eu chego na secretaria de cultura e vou falar da dificuldade porque existe um preconceito religioso nas comunidades. A gente tem essa dificuldade né

5’30’’

Tudo o que tem tambor, que tem um canto diferente, o pessoal vem, principalmente os evangélicos vem pra cima, eu mesmo recebi lá o pessoal bradando as suas orações, jogar o livro do edir Macedo pra dentro do ponto de cultura, jogar o livro pra gente poder se informar da ignorância deles, é terrível..e aí cheguei na secretaria de cultura

 

6’

E o pessoal me pediram um, saber como é que tava andando o nosso projeto. Falei “óh a gente ta com uma certa dificuldade eu acho que são coisas que o próprio governo devia saber pra fazer um trabalho específico pra poder a gente quebrar esses preconceitos, quebrar a discriminação em função e a intolerância religiosa” aí o cara vira pra mim, o cara dentro da secretaria de cultura “cê vai botar um negócio desse num projeto? Ce tem que ver o que a comunidade

 

6’30’’

Quer. A comunidade que rezar então ela reze…a comunidade quer” aí eu falei “mas não é assim rapaz, você tem que mostrar pra comunidade que tem n possibilidades, não existe só um caminho, são vários caminhos e esses caminhos tão abertos. As pessoas podem ir…então você tem que fazer isso.” A ideia nossa lá no ponto de cultura era ter uma banda de música, vários grupos de teatro, era ter inclusive uma escola de samba. E

 

7’

Vários, vários ramificações na arte. E aí por conta de questões políticas a gente terminou…e o sonho nosso de construir esse bumba meu boi aqui em taguatinga foi por água abaixo, quer dizer, não toda porque a gente ainda ta vivo, eles não conseguiram matar a gente eles podem ter dificultado um sonho, a resistência ou sonho nosso, e mas assim, a gente ainda ta vivo cara.

 

7’30’’

E se a gente tiver um possibilidade a gente consegue ainda né…

 

Ib-geraldo-02

00

Sabe muito difícil, mas foi. Foram vinte anos, né, vinte anos de trabalho, era pra gente ta fazendo vinte e cinco anos agora. Mais enfim, isso tudo teve, teve apoio, por exemplo em 98 quando era o governador Cristovam, a rose trabalhou na

 

30’’

Administração regional de Taguatinga. O Miltinho era diretor regional de cultura. E a gente conseguiu, eu tenho filmagens de uma reuniao nossa falando sobre o boi lá na drc fizemos uma reunião lá o Miltinho, a rose, todo mundo novinho, falando sobre o bumba meu boi.  O que que a gente tava querendo, como a gente, o que que a gente tava querendo, como a gente tava querendo construir essa história e de que forma a gente queria fazer

 

1’

Isso. Então a gente teve apoio dessa turma toda que vem o tempo todo, não para. Eu vejo o chico que ta, o chico simões com o invenção brasileira, o tempo todo batalhando… para… a história não para. Ta o natinho com a história dele lá, ta o natinho também, que também fez parte do retalhos. O natinho hoje tem um grupo de

 

1’30’’

Rap, acho que é ra, e…ele também não para. Ta o zé regino, zé regino do celeiro das antas também não para. Então assim e é todo mundo ligado um no outro, não tem jeito, não tem como e a história não para. O mercado sul eu cheguei a morar aqui também. assim que o chico alugou, comprou…na época ele tinha alugado depois ele terminou comprando isso aqui.

 

2’

Mais eu cheguei a morar aqui também, montei uma oficina pra fazer algumas coisas, ensaiar o boi aqui também e depois terminei mudando daqui, saindo daqui que na época não tinha essa energia toda que a gente ta vendo de preservação do mercado sul, que eu acho que é um lugar aqui tem história

 

2’30’’

A construção do prédio ele tem sua alma, ele tem as paredes, ele tem sua história aí. Algum ser humano que chega aqui e pensa essa percepção ele vai passar a mão na parede e escutar essa história aí. Tem que ser, aqui tem quer ser preservado sim.

 

3’

Sim uma vida plena, o mercado sul era um local de muita movimentação, era um reduto de compra popular, primeiro que naquela época não existia esses hipermercados que existem hoje, extra, Carrefour, não existia isso. E o mercado sul era um local desse. Aqui você encontrava tudo, de bebida, cachaça a tecido, brinquedo, comida, arroz, feijão,

 

3’30’’

Açougue, frut., verduras, legumes, que os japoneses que tinham suas chácaras aqui por perto e tinha a sua loja de comercialização. E aqui era muito movimentado, muito movimentado, era um negócio de doido porque não tinha outro lugar em Taguatinga com esse aspecto. Depois é que surgiu o mercado norte. Mercado norte ele funciona até hoje mas

 

4’

Não naquele jeito como ele começou lá. Hoje você vai no mercado norte você vê muita loja vendendo roupa, mais roupa e buginganga, coisa de utensílios do lar, essa coisa, não encontra mais verdura, legumes, grãos. A gente comprava o arroz era no quilo, feijão no quilo. A banana era na dúzia. Você comprava uma dúzia de banana, uma dúzia de ovo.

 

4’30’’

Você…a laranja também não era quilo, era dúzia. Você comprava uma dúzia de laranja. “Não eu quero meia dúzia, uma dúzia”  era assim que era feito. ‘e…o mercado sul ele foi perdendo, a partir do momento que foram surgindo outras coisas maiores aqui em taguatinga ele foi perdendo sua funçao, assim como a w3. Depois que surgiu os shoppings a w3 foi perdendo

 

5’

sua funçao de comercio. O mercado sul também sofreu isso. Ai veio o, que eu me lembro, o mercado grande que veio pra ca foi o jumbo, no centro de taguatinga. E ai com o surgimento dessas coisas grandes ele foi perdendo e foi sendo ocupado de outra forma. Já nai tinha mais…voce não comprava mais verdura e legumes e nem graos. Ai começou a a vim

 

5’30’’

o cara que consertava o sofa, os teceloes, o pessoal que consertava. Ai foi perdendo…ele passou um periodo fechado, muito fechado. E aqui virou a boca do lixo. E agora vem ganhando essa força maravilhosa, que eu acho legal, que tem que preservar. Eu acho que ‘e por ai mesmo. Essa moçada que tá ocupando

 

6’

o mercado sul ‘e muito legal. ‘e isso ai. Tem que dar bastante trabalho pra esse governo. Pros poderosos. Os cara ‘e doido pra tomar conta dessa area aqui, construir um shopping com um bocado de predio, de apartamento pra cima ai. Isso. Mais alguma coisa?

 

ib30-geraldo-03

00

sim, ah…’e a gente aparecia…tinha uma porçao de coisas. O clube dos duzentos foi o primeiro clube de taguatinga, tá gravando? O clube dos duzentos foi o primeiro clube dentro de taguatinga. Então aqui era realizados as festa de casamento

 

30’’

‘e…as festas de adolescentes, como ‘e que chama? Não..’e…debutantes, baile dos debutantes ou baile de carnaval da cidade ne, então…e…era um clube bem famoso em taguatinga que hoje virou garagem. Eu não sei como ‘e que tá aquilo ali. Mais o clube dos duzentos ele tem essa historia. Ai depois veio o cit, depois veio o primavera

 

1’

clube primavera, acabou tido ne. Tinha o nipo brasileiro, que ra um clube japones que tinha aqui em taguatinga sul. O nipo ele chegou a funcionar durante um tempo mas depois ficou restrito só la aos japoneses. Hoje você nem ve mais falar no nipo, eu nem sei mais se, como tá funcionando. O taguatinga esporte

 

1’30’’

clube, que montou um clube ali em cima. E ai nessa fase o duzentos já não existia mais. O duzentos foi…eu era criança, eu brinquei carnaval ai, matine. Eu vim brincar ai. Meus pais me trouxeram pra brincar carnaval ai no clube dos duzentos. Então ‘e isso o clube dos duzentos era aonde também essa…na decada de oitenta a juventude se juntava pra dançar ai

 

2’

tinha a sarro disco show, tambem que era uma das forças dentro de taguatinga e fazia muita atividade ai dentro do clube dos duzentos. Sarro disco show que era do…como ‘e que era o nome do cara? Esqueci o nome dele. Lembro o nome dele não. Pois ‘e, ‘e isso ai.

 

ib30-geraldo-04

00

porque ‘e o seguinte, essa atividade artistica a gente não tem salario, a gente não tem férias, a gente não tem direito trabalhista. A gente não tem nada. Eu posso me considerar que eu sou um eterno desempregado e to vivo, agora to com sessenta anos. Eu tenho minha vida. Logico, nem tudo eu consegui realizar, nem tudo

 

30’’

eu consegui comprar também. Meu cerebro funciona bem ainda por enquanto, vez em quando falha a memoria mais ‘e natural. Mais desse processo ai eu fiquei, fiquei dez anos me dedicando totalmente a essas coisas aonde surgiu o ponto de cultura, e o ponto de cultura me consumiu bastante.

 

1’

e você sabe, ouviu o nosso amigo falando sobre essa questao no mercado sul. Quando junta a galera e você tem que, alguém, alguma coisa tem que da um balanço nesse processo ai, que ‘e a parte administrativa da historia porque se não começa a gerar o conflito e a coisa vai se dissolvendo, se desmanchando ai a pouco não tem mais nada.

 

1’30’’

o ponto de cultura me tomou muito isso. O próprio boi, o nosso boi eu tive isso. Passou pelo boi varias pessoas que foram, entraram, brincaram, sairam foram fazer outra historia e assim foi a caminhada. E o ponto de cultura ele teve esse, essa coisa também. Eu tive conflitos la dentro, sabe. Inclusive teve uma parte

 

2’

teve uma parte la que queria me expulsar da historia. Eu construi uma historia, foi desenrolado o ponto de cultura em cima dessa historia e o pessoal queria me tirar de dentro da historia, mas não conseguiram porque teve uma professora da unb que deu assessoria pra mim e disse ‘olha quem não tem historia não se estabelece’ ai

 

2’30’’

tem, vai ficando porque a luta sua ‘e…eu fiquei dez anos. Agora tem cinco anos que a gente não elabora nenhum projeto, a turma se dispersou, não faz nenhum trabalho. Eu aproveitei pra poder fazer um balanço da minha vida como musico, como integrante desse cenario ai de arte. Eu quero continuar porque não tem outro jeito.

 

3’

não tem como. Não tem como você abandonar essa…eu de musica tenho mais de quarenta anos. Eu, nessa minha historia de musica já toquei guitarra, já toquei baixo, a toquei trombone, já toquei saxofone, teclado. E atualmente to fime na sanfona. Entao assim sempre tem uma bagagem que você não pode, não pode mais. Não tem como.

 

3’30’’

eu não posso deixar essa historia e passar a ser um mero comerciante de sapato. Não tem como. Eu tenho que ir agora ate o fim. Morrer nessa historia ai e ajudar essa moçada nova a pensar também, a elaborar uma vida melhor pra eles. Porque a arte tem esse problema ai ‘e um vicio, uma cachaça. Depois que você entra nela meu amigo pra você sair

 

4’

não ‘e brincadeira não. Se você…nao tem como. Depois que você entra pra fazer, a arte toma conta da sua vida de um jeito. Não tem como, não tem saida não. Ai você tem que se aperfeiçoar. Tem que fazer oficinas, cursos, elaborar coisas melhores. Esse trabalho com a comunidade, com os leigos porque o mundo da arte

 

4’30’’

não ‘e pra qualquer um não. A população que não tem vinculo com isso, ela não consegue entender por isso que ela sempre nos chamam de vagabundo, pessoas que não querem nada. Ela não consegue entender isso, esse universo. A gente consegue, a gente que tamo na arte, a gente consegue dialogar entre a gente mas esse

 

5’

povo não consegue não, cara. As vezes eles tentam mas não chegam nem no limite. E por isso as vezes eles perdem coisas interessantissimas. Perdemos coisas importantes, inclusive pra eles mesmos. Conhecimentos pro desenvolvimento intelectual deles que eles terminam…a parte afetiva, porque a arte ‘e a parte afetiva do ser humano

 

5’30’’

ela tem essa funçao. Não parei porque foram muitos anos, só de musica quarenta anos. O boi foi mais de vinte anos. No nosso grupo do ponto de cultura a gente teve o maracatu, a gente também desenvolveu a parte de percussao. A gente tocava maracatu, coco, congada e inclusive hoje tem um  grupo de mulheres que saiu de la, montaram o grupo delas, como ‘e que chama?

 

6’

As batuqueiras. A gente terminou influenciando muita gente também nesse processo. Terminamos influenciando. Coisa que a gente não gostaria de ter parado porque ‘e muito legal. Imagina um grupo de pessoas tocando maracatu, tocando uma congada ou outro ritmo brasileiro. Que existe, que seja grupo, que ali você aprende uma porçao de coisas.

 

6’30’’

a gerenciar essa coisa do grupo. A participaçao…o cara não pode errar, porque se ele errar faz você errar, entendeu? E você entender isso, esse jogo da participaçao do outro, essa interaçao. E outras funçoes, outras funçoes, por exemplo a parte cognitiva e a parte da coordenaçao motora

 

7’

tem todo um processo. O grupo tá tocando todo mundo tem que tá ligado ali, fazendo o seu, pra você fazer o seu também perfeito pra não atrapalhar ninguém. ‘e uma fonte de trabalho mental, sabe? Muito legal. Então, parar não tem como. tocando minha vida.

 

ib30-geraldo-05

00

tá certo. Bom, eu me chamo geraldo magela toledo. Cheguei em taguatinga com cinco anos e meio de idade. Morei aqui na qna, na qsa. Hoje ‘e qsa 8, alias, hoje

 

30’’

‘e qsa 21, mas era qsa 08, e conheço o mercado sul aqui também desde menino, desde criança  e morei numa rua aqui próximo quando tinha uma faixa de seis anos porque meu avô terminava vendendo lote e comprando em outros lugares uma manobra, com o recurso. Então morei aqui perto do mercado sul na faixa de

 

1’

Seis, sete anos de idade. Conheci o mercado sul funcionando aqui na época. Isso aqui era muito, tinha bastante movimento. Loja de tecido, de fruta, verdura, açougue, o que você imaginar, mercearia, tudo que você imaginar, CE encontrava por aqui. Isso aqui foi um lugar onde tinha muito, a gente chamava de gringo. Tinha japonês, italiano, grego

 

1’30’’

Americano, tinha um porção de gente que comercializava aqui no mercado sul e eu transitava aqui bastante. Na copa de setenta,  antes de setenta, em sessenta e oito se eu não me engano eu lembro do…eu vinha pra cá comprar figurinha de jogador de futebol, aqui no mercado. Comprava figurinha e chegar em casa ia colar no álbum.

 

2’

Daí fui crescendo e com seis anos de idade meu avô fez uma besteira de botar uma sanfoninha na minha mão e aí ele descobriu que eu tinha um talento pra música porque eu aprendi rápido. Ele andou tocando umas musicas na minha frente e eu terminei assimilando aquilo. Quando foi um dia eu cheguei tocando a sanfona na frente dele e o véi ficou…e foi a maior besteira que ele fez na vida dele porque

 

2’30’’

Daí pra frente eu não quis mais saber de mais nada. Eu quis saber só da música, da arte, dessas coisas todas. Minha adolescência foi toda dentro desse processo. A escola primária eu tenho um amigo meu que até hoje a gente conversa. A gente se conheceu menino tinha dez, onze anos de idade. Chegamos a cantar juntos. Ele me ensinou a tocar violão. Eu tocava acordeon e terminei passando pro

 

3’

Violão. E aí a gente até hoje tem essa amizado nossa. Mais de quarenta anos. Hoje ele é físico, ele é cientista da Petrobrás. É ele quem estuda o solo lá da Amazônia, fazendo explosões e captando aquelas informações e levando pro ambulatório pra destrinchar o que tem ali debaixo. E eu fiquei na musica, fiquei por aqui.

 

3’30’’

A gente sempre em taguatinga. Depois comecei minha vida musical por aqui. E na década de oitenta, já atuava numas casas noturnas aqui de Taguatinga e em 74,75 por aí eu

4’

Conheci a mãe da Shirley. A Shirley tinha nove anos de idade na época. Foi uma história doida porque naquele tempo o que eu fiz ninguém tinha coragem de fazer. Eu assumi uma mulher mais velha do que eu treze anos mais velha com três filhos e a gente se engastaiou aí por vinte e cinco anos. E nesse processo a Shirley foi crescendo com esse contato meu porque além das casas noturnas também

 

4’30’’

Cheguei a tocar em vários banda de baile. Minha casa era frequentada por músicos também. E aí a Shirley começou a estudar no eit e foi lá que surgiu o grupo retalhos. E nesse processo aí logicamente por conta da minha influencia com a mãe dela terminou aceitando a coisa todinha dela ta fazendo teatro.

 

5’

Zé regino, miltinho, Chico Simões, rose. Um opção de pessoas. Até seu pai mesmo chegou a ir lá em casa o Miqueias. Esse pessoal todinho aí chegou a ir la em casa porque as vezes tinha que fazer algum material. Confeccionar algum figurino ou até mesmo material

 

5’30’’

Cênico. Então ia lá pra casa pra poder fazer por lá. Algodão andou lá também na época.

 

ib30-geraldo-06

00

Sim. E aí a gente por exemplo, o clube dos duzentos mesmo, aliás todo o baile na cidade era sempre carregado de polícia. A PM que fazia essa parte, muitas vezes nem precisava de segurança, mas tava lá que era pra manter a anarquia. E toda a juventude a gente sabe que ela está disposta a reagir a

 

30’’

Qualquer pressão, sufoco, ela ta disposta a reagir. Isso é natural da juventude. E existiam os policiais, os PM de capacete branco. Você olhava pro salão assim, destacava parecia um bando de cogumelo florescendo no meio do carvão. Porque todo mundo cabeçudo, cabeçudo, cabelo escuro e

 

1’

Capacete no meio do povo. E eu me lembro uma vez que eu tava aqui nos duzentos aqui rapaz, eu tava chegando, tinha tido uma encrenca aqui com um taxista e tinha mais ou menos uns vinte PMs. Esse taxista desceu essa rua aqui do mercado sul e foi pego aqui em frente a boate que tinha aqui do lado, do outro lado da rua. O baianão, o famoso baianão. Rapaz pegaram esse cara

 

1’30’’

Bateram tanto nesse taxista cara, não sei qual o motivo. Porque a gente não podia nem chegar e perguntar, se a gente perguntasse e fosse interferir você também sofria as consequências. Então quando você via um negócio desse e você quisesse sair ileso você tinha que observar e passar por longe. Mais eram mais ou menos vinte, vinte e cinco soldados dando botinada e cassetada nesse cara. Ele apanhou pra caramba. Foi

 

2’

Moído. Entendeu? Foi moído esse cara. Era uma coisa de louco sabe. E aí era sempre assim. Nesse colégio onde eu estudei  que tinha muita atividade artística lá e de vez em quando tinha uns bailes. A função desses bailes era arrecadar dinheiro pras formaturas no final do ano. Tava saindo. Lá era ginásio e

 

2’30’’

Científico. Que antigamente tinha essa coisa. Era quatro anos de ginásio e três anos de científico. Então tinha as formaturas no final do ano. Cientifica quem era já sair pra fazer universidade, pra fazer vestibular e do ginásio tinha formatura pra poder passar pro cientifico. Então, o colégio organizava esses bailes. Tinham os alunos que tavam se formando e se organizavam la em grupo pra poder

 

3’

Organizar essas festa. Os responsáveis pra poder sair atrás de recurso pra ajudar nas despesas com baile. Contratava-se a banda  a policia era comunicada. Tinha que ter essa comunicação com a secretaria de segurança pública, policia militar, policia federal. Tinha que ta todo mundo informado do que ia acontecer.  Ah, censura..

 

3’30’’

Ah táh. Isso. Pois é a gente tinha eu fazer essa inscrição, fazer esse cadastro na censura federal e ai cada contrato novo que a gente fazia com a casa noturna ou baile ou clube, a gente tinha que levar o repertorio completo pra poder passar lá pela censura federal

 

4’

Depois de um…acho que ficavam uns dois ou três dias e ai você depois ia pegar a liberação. Eles batiam um carimbo no contrato e lierava e você tinha uma condição. Tinha musica que você não podia tocar, musica de chico Buarque. Tinha umas canções que antigamente se tocava que inclusive teve alguns que eu fiquei, eu fiquei conhecendo através de comunicação

 

4’30’’

Em sigilo. E essa historia do bumba meu boi e a música de hoje é justamente porque o boi é muito simbólico. E esses grupos que tinham essas canções ele era como se diz era falado de uma forma bem metafórica ne, bem metafórica

 

5’

Pra poder só então quem tava na conversa, quem tinha essa sabia o que tava dizendo a letra então tem umas músicas que a gente nem cogitava em tocar porque era cadeia na certa. Cadeira na certa. E outra coisa cê sumia no meio desse cerrado aqui. A gente ficava sabendo muito que a pm botava o camarada assim.

 

5’30’’

Prendia o sujeito e levava pro meio do cerrado e matava o cara la entedeu. Um pm que morou nos fundos da casa da minha vó de aluguel, o cara era do Pernambuco, tinha vindo pra brasilia e ele morava de aluguel nos fundos da casa da minha vó. Contando que pegava o camarada, o bandido, suposto bandido, marginal, terrorista

6’

Botava no meio do cerrado. É nesse tempo aí brasilia era pequenininha, tinha muito cerrado. Levava o cara pra lá e o policial sentava, abria a tampa do camburão, tirava o cara e falava assim corre. O cara começava a correr eles começavam a atirar. Sentava um do lado outro do outro com uma galha de árvore e ´

 

6’30’’

Saía no cerrado apagando o rastro da viatura. Aqui mesmo, aqui na Ceilândia, ali onde era o cerradão, ali foi encontrado muita ossada e camarada que sumiu foram executados dessa forma. E era muito perigoso andar nas ruas. Se hoje é perigoso, você imagina era mais perigoso ainda

 

7’

Porque hoje você filma, você fotografa, você tem a filmagem, você vai na ouvidoria da policia você vai nos jornais, mas naquele temo não tinha nada disso não. Se você fosse la relatar uma coisa dessa era capaz de você ir parar lá também.

 

ib30-geraldo-07

00

Sim, pois é. Na verdade esse acontecimento se deu por conta da shirley do carroça de mamulengo. A shirley ela foi, ela é minha enteada e eu conheci o pessoal do grupo retalhos porque a shirley estudava no eit e começou a participar com o grupo. E ela ficou muito entusiasmada

 

30’’

na época o pessoal do teatro. E aí como era musico, eu era musico também dentro desse processo da arte ela levava o pessoal lá pra casa pra poder confeccionar material cênico. Eu lembro muitas vezes do zé regino ir lá com o pessoal do teatro produzir maquiagem. Pegava o material e

 

1’

Produzia aquilo ali pra poder cozinhar aquilo ali, solver, botar tinta e maquiagem. Ensaios, discussão também, reuniões do grupo. Aconteceu várias reuniões lá. É. É verdade. Eu fui um que sofri muito com esse processo porque meu pessoal não queria que eu fosse músico. Tinha essa repressão.

 

1’30’’

Além de ser você imagina cara. Você o artista popular, o artista era vagabundo, uma pessoa sem…era um nada. Que hoje ainda tem essas características. A população leiga ainda pensa esse conceito de quem faz arte. Diminuiu um pouco

 

2’

Mas não foi o que deveria ter sido. Mais enfim, esse…e aí o que acontece o pessoal sempre foi lá o Miltinho, zé regino, miqueias, chico simões, rose, vários outros do grupo, pessoas que inclusive pararam de com atividade depois que saíram pararam, que fizeram o grupo retalhos.

 

2’30’’

Teve uns que prosseguiram e uns…cheguei . cheguei  a ver. Por exemplo teve um espetáculo inclusive do pessoal do retalhos fiz junto com a orquestra sinfônica de Brasília, pedro lobo, marechal boi de carro, se eu não me engano

 

3’

Isso e tambem cheguei a ver enfim; esse foi o processo né de…o carroça. E o chico simões eu me lembro de várias fases do chico também. Teve uma fase que o chico ia lá pra região do panamá, ali praquela regi]ao onde tava tendo praticamente um guerra ali. E ele foi pra lá pra audar a colher café. Bom…mais ele

 

3’30’’

Aí ele voltou de lá com bigodinho pequeniniho assim…aquele bigodezinho bem ralinho, todo estilizado. Ah sim. A shirley conheceu o carlos nesse processo do retalhos e

 

4’

Aí foi um processo. E a mãe dela…depois o carlos.. coisa da…o carlos resolveu fugir com a shirley lá pro nordeste, levar sem falar com a mãe e isso aí deu uma dor de cabeça danada. Arrastou a shirley lá pra o nordeste, nesse tempo eu trabalhava no sesi. Eu trabalhei no sesi quatro anos como instrutor de arte, de música lá no sesi

 

4’30’’

E foi nesse período mesmo de 81,82 e aconteceu da shirley conhecer o carlos e aí carlos arrastou a shirley lá pro nordeste. For am conhecer os mestres, atrás dos mestres. Eu? Eu penei pq morava com a mãe dela. Eu tentava segurar as pontas mas a mãe é um problema sério

 

5’02’’

Sim, o carlos é…isso já no final da década de 80, 88. Ele comprou um acordeon no nordeste, um acordeon vermelha e chegou aqui em Brasília com esse acordeon, ele não tocava não sabia nem por onde começar. E terminou eu tocando junto com ele. Terminei voltando pro acordeon, comecei a tocar novamente acordeon isso depois de quinze a

 

5’30’’

Vinte anos que eu tinha deixado acordeon de lado. E por influencia dele eu voltei a tocar acordeon. E ele…e aí eu vi muitos espetáculo do carlos também. O carlos brincava muito de mamulengo. O carlos tem uma história muito doida. O carlos ele vinha pra Brasília,, ele rodava essas escolas particulares na época que tinha contato pro teatro ele conseguia

 

6’

Levantar uma grana pra levar pra juazeiro do norte e chegar lá ajudar os artistas. Eu lembro muito bem que ele chegava a comprar medicamento pra uma família, comida pra outra que tava sem alimentação. Arrumava a casa do pessoal, a telha tinha quebrado e o cara tava morando na chuva um tempo. Carlos sempre foi muito ligado a essa coisa do, de auxiliar os

 

6’30’’

Artistas populares de juazeiro dentro do nordeste. Ele terminou criando uma associação lá que era o circo da união. Aí ele veio com muitos artistas pra ca também. Ele trouxe o mestre zito, azulão…asa branca e azulão, se eu não me engano, asa branca e azulão. Palhaços, vários palhaços que ele veio pra ca também. Palhaço popular.

 

7’

Quem dava muita na época quem, o sesc fora do plano que dava muito suporte pra ele. As escolas, as escolas particulares dava. Por conta dessa cultura popular que ele carregava. E ele terminou influenciando muita gente, inclusive o chico simões, o próprio chico simões. Chico que era

 

7’30’’

Do retalhos terminou aí ele terminou carregando também lá pro nordeste. Chico virou uma temporada lá com os mestres e foi de lá que começou tudo, todo esse processo. Foi uma transformação aqui em Brasília. Acho legal porque foi uma influencia muito grande que não foi fácil, não foi fácil porque

 

8’

A ideologia conservadora em brasilia era muito grande. E ai ia acabar com esse, ainda mais ter que lutar contra o preconceito contra o artista. Eu sei que não foi fácil, mas foi transformador. Cheguei. Toquei com carlos, toquei com chico simoes, com

 

8’30’’

Com Miltinho, com babi que era muito amigo do carlos. O mestre zito. É quem mais? Toquei com uma opção de mamulengueiros. E aí terminou influenciando também porque depois eu vim com a vontade doida de brincar o boneco. Aí demorei, demorei muito tempo pra poder assimi…fazer a coisa acontecer. Mais eu fiz o meu grupo. O meu mamulengo

 

9’

Chama mamulengo cagaita. Grupo mamulengo cagaita, que tem influencia disso tudo. Mestre zito, cheguei a fazer produção pro mmestre zito nas escolas. Pegar o material dele botar em baixo do braço e sair nas escolas. Escola pública principalmente aqui em Taguatinga. Tinha mais dificuldade de entrar no plano. O plano o carolos conseguia entrar porque ele tinha influencia com donos de escola, e com diretores

 

9’30’’

Com coordenadores. Tinha uma ligação muito grande. Eu não sei qual era o…mais ele conseguia, tinha umas facilidades.

 

ib30-geraldo-08

00

O mamulengo ele tem um básico né que são os personagens e as ideias que são de tradição. Eu acho que disso não pode fugir. O capitão joão redondo, o benidito, a margarida que talvez ganha nome em lugares diferentes. Capitão joao redondo, benedito. Isso aí o boi

 

30’’

A cobra…esses são personagens fixos do mamulengo. E cada mamulengueiro tem a sua performance. Tem seu jeito de contar a história. Eu acho muito legal isso porque é aí onde ta a força do mamulengo. Porque você mesmo sabendo que vai contar a historia do capitão joao redondo, do benedito, mais você vai ver a historia diferente. E tem outros personagens por exemplo o

 

1’

Mestre zito tem o irmão do benedito que eu não me lembro o nome do personagem mais o benedito tem um irmão na história. Baltazar se eu não me engano, cassimiro? Ih, agora eu fiz uma confusão aqui. Mais era um dos dois ou era cassimiro, que vendia…gostava de vender frango, ‘óh o frango’. Chegaram a conhecer essa história ou não? É você eu acho que não porque….mais e ai

 

1’30’’

Miltinho mesmo. Miltinho era muito doido. Miltinho tinha um boneco gigante que ele fazia toda uma pre-preparação ali pra chamar ao público e depois ele entrava pra contar história. O babi, o babi também. Cada mamulengueiro tinha seu jeito de contar a história. Muito legal, bacana. Pois é, a musica no mamulengo

 

2’

Ela é bem a vontade. Como o mamulengo é livre, ele tem a sua dinâmica, é livre. A música também vem dessa forma. E aí o musico tem que interagir com a contação de história para auxiliar no espetáculo. E os temas sempre são nordestinos. Nunca outra música. Mais sempre o tema as musicas são com tema nordestino

 

2’47’’

Isso. O que que acontece? A maior parte dos artistas eles não tinham esse conhecimento da música. Da parte de tonalidade. O carlos mesmo tinha

 

3’

Uma dificuldade danada com isso. E terminou essa, a gente terminou conhecendo, que o carlos hoje se tornou um cantor né, compositor. Ele ta mais nessa área que na área do mamulengo. Mais essa aproximação ajudou muito porque não era…não se tinha essa, esse como é que chama? Esse elo

 

3’30’’

Eu, eu acho que sim. Que colaborei muito com essa parte da música com…e hoje tenho uma liberdade muito grande porque as vezes o brincar com o mamulengo, então eu já tenho mais ou menos a base da história e me explicam como é que vai funcionar e aí eu já consigo linkar a música

 

4’

Com a história e sai tudo legal. Pois é o Walter eu cheguei a brincar com o chico simoes na época que o Walter… o Walter era um auxiliar do chico simoes, nas brincadeiras. E ele se tornou depois, com a minha entrada eu não sei como era antes mais quando eu cheguei a brincar com o chico, a gente

 

4’30’’

Formou uma parceria e o walter veio como zabumbeiro e aí o walter nesse processo foi aprendendo a brincar com a história. E depois o Walter separou do chico, nessa parte do grupo. E montou seu próprio grupo. Walter hoje ta muito bem. Ta bem inteirado e

 

5’

Aí tem essas influencias todas dos bonequeiros hoje a influencia do chico. Assim como o chico foi influenciado pelo carlos. O carlos arrastou o chico pro mamulengo. os outros que existem hoje que é o caso do josias. Inclusive hoje eu fiz uma brincadeira com o josias pelo fac e a gente terminou, é finalizamos hoje

 

5’30’’

Essa apresentação que é também influenciado pelo…e tem também umas coisas que as vezes você vê o cara brincando que é a influencia do chico na brincadeira. O gesto do boneco, uma fala ou uma expressão. Uma expressão ‘isso aí é influencia do chico’. Extamente na brincadeira.

 

6’

Sim. Paulo de tarso, eu brinquei com Paulo de tarso também tive…fiz muita brincadeira com Paulo de tarso e tava esquecendo dele. Grande brincante viu. E a brincadeira do Paulo  de tarso é mais solta ainda, mais solta do que os outros. A brincadeira do Paulo é muito solta, muito a vontade. Ele não se amarra numa historia. Ele vai contando ali.

 

6’35’’

Ele é bem solto, bem desse jeito mesmo. É muito legal o Paulo de tarso. Isso. E assim vai, a gente cada um…

 

ib30-geraldo-09

00

Sim, pois é. O que que acontece? A gente nessa história do bumba meu boi além dessa, desse vinculo que a gente teve com a musica. Chama musica marginal na época é…essa influencia, a gente pescou essa coisa do boi. Que que acontece hoje olha na verdade o povo é tratado

 

30’’

Como gado até hoje. Olha um exemplo claro o que ta acontecendo no brasil. Alguém tem que, um vaqueiro tem que chegar e tocar a boiada pra um canto. 2013 foi assim quando o povo foi pra rua. Alguém, um vaqueiro teve que botar a boiada na rua. Então o boi ele é muito, a brincadeira do boi ela é muito metafórica

 

1’

E muito significativa. Quem brinca no boi adora e não quer deixar nunca de brincar no boi. A relação do boi do animal fazer parte da vida do ser humano né. Da serventia que tem o boi pro ser humano. De arrastar arado, couro

 

1’30’’

Os ossos, a carne pra alimentar. Ele tem essa coisa mística. O boi tem essa coisa mística com o ser humano. É ele com o ser humano é o humano, ser humano com ele. O boi é místico pro ser humano. E o bumba meu boi nada mais é do que uma prece em agradecimento ao animal. Essa coisa toda vem na nossa história a gente assimila

 

2’

Essa primeira parte, essa metáfora, essa parte metafórica do boi. E aí chega o carlos, numa brincadeira do carlos ele chega com o boi onde na brincadeira dele pega as crianças, os filhos pra brincar com o boi. Lembro que o antonio  tava nas costas do boi, puxava a corda do boi aquilo ali pra população que tava assistindo aquilo ali era fantástico. E começou essa coisa toda. A gente terminou

 

2’30’’

Criando, pesquisando o bumba meu boi, nós tivemos que entrar nesse processo. Eu e mais um grupo de colegas. A gente andou pesquisando, tivemos uma dificuldade grande porque na época eu a gente começou a própria casa do maranhão aqui não tinha nada, nada. Procuramos livro, alguma revista, um jornal não tinha nada spbre o boi. Quem veio auxiliar a gente nessa história foi um poeta e jornalista

3’

Que…la do maranhão e juntamente com uma família que morava aqui perto do mercado sul que era maranhense tinha essa coisa da família. Dentro da família tinha essa coisa das raízes dentro do maranhão. Esse poeta vem, ele na verdade não é parte desse família. Na verdade ele fez parte porque ele foi casado

 

3’30’’

Ele era cunhado dessa família, do pessoal lá. E foi ele que nos auxiliou. Ele ligava pro maranhão e o pessoal mandava aqueles semanais, jornais e ele conseguiu alguns livros e música. Eu tenho uma porção de fita que foi gravada na época, não tinha cd, eu tenho uma opção de fitas que foram gravadas por ele. Musica dos bois lá do

 

4’

Maranhão. Aí a gente ficou estudando esse assunto e de repente conhecemos os outros bois Parintins, o boi lá de Pernambuco que é o cavalo-marinho. Que tem toda a história, que tem um boi lá no meio do cavalo marinho. E aí a gente foi montando. Foi surgindo a nossa história com o boi. A gente começou a compor música e fizemos o brinquedo. E a ideia nossa era

 

4’30’’

Montar um bumba meu boi bem grande e tradicional que é muito complicado também. Quando a gente chegou no final, que a gente conseguiu as dançarinas, as bailarinas, isso é um problema sério porque Brasília apesar de ter gente de todo o brasil, mais as pessoas vieram pra cá, não vieram pra ca pra transformar a cidade. Vieram pra ca em busca de